A deputada do Partido Socialista Isabel Moreira recorreu, este sábado, 19 de julho, a uma mensagem publicada em várias redes sociais para criticar o que diz ser “um Chega infiltrado no PS”, partido que já fala a “linguagem da extrema-direita” ao se referir a moradores em habitações precárias como “infratores”.

A publicação é feita dias depois da demolição das barracas no bairro do Talude Militar, em Loures, nos arredores de Lisboa, e é ilustrada por imagens do perfil de Facebook do autarca, Ricardo Leão, a agradecer mensagens de apoio onde constam frases como “força, estamos na Europa não em África” e “vão para o país deles, vão para as sanzalas”.

Isabel Moreira diz que “há um spin no PS” - e “há muito tempo” - que se reflete nesta “estratégia que se vê nestas caixas de comentários”. Sugere, ainda, ações concertadas entre Câmaras Municipais para proceder a ações semelhantes: “É véspera de eleições. Os municípios em causa articulam-se. Os avisos são todos iguais. Onde vão dormir as crianças apelidadas de “infratores” antes de adultas? Não sabem."

"Há um spin no PS. Como se não soubessem o que se passa. Há muito tempo”, escreveu.

“Adivinho um bom resultado eleitoral para o verdadeiro infrator. Escolho ficar mais tempo em minoria. Isto não é PS. Tenho direito a ter opinião. Isto é um chega infiltrado no PS. Fraco. Como explicou Helena Roseta. Os comentários, o virar de costas a crianças que a cada dia adoecem na rua, são auto-explicativos. Escrevi isto em defesa de todos nós”, publicou.

“Tenho vergonha disto (…) Sei que o estado de direito, a igualdade, a inclusão, até o amor, não são movimentos populares”, acrescentou, ressalvando que não retira "um pingo de responsabilidade ao Governo” no sucedido.

“Abuso de poder”

Sobre as ações do autarca socialista de Loures e da sua equipa, Isabel Moreira crê que “talvez” seja necessário “começar a falar em abuso de poder”. O ataque é feito diretamente à “versão de Ricardo Leão” e à ação da Câmara Municipal de Loures, descrita várias vezes como estando em infração da lei.

Sei quando as barracas foram construídas. São ilegais, sim. Não deviam existir e o Governo devia ser responsabilizado pela subida do preço das habitações, pela impossibilidade de tanta gente que trabalha e desconta ter direito à habitação", escreve.

Mas, prossegue, "também sei que os avisos de despejo em vésperas de eleições autárquicas num bairro que já ali está há muito faz parte de uma lógica evidente. Ali e não só. Avisa-se a uma sexta-feira. Não há ninguém da CM a acompanhar, a comunicar, nada, e a tutela jurídica é atropelada. É ilegal fazer isto", acusou.

“Viola-se a lei, mas, antes, viola-se a Constituição, a dignidade da pessoa humana, o direito à privacidade, os deveres de proteção da infância, o direito à habitação. Li as providências cautelares interpostas em desespero. Li a decisão do Tribunal. Um decisão que ordenou a suspensão das demolições, quando tantas barracas já estavam demolidas. Sublinho isto, porque estou a ouvir falar em “infratores”. Talvez começar a falar em abuso de poder”, acrescentou.

“Dezenas de crianças na rua. Talvez mais indigno do que uma barraca. Fala-se em quem cumpre e em quem não cumpre, a linguagem da extrema-direita instalou-se à custa de gente que não escolheu construir uma barraca para fugir ao frio e ao sol. Mães. Crianças. Pessoas com deficiência. Mães que temem pedir ajuda porque temem perder os filhos. E quem explica? Onde está um vereador a gerir isto? Não está. Porque o bairro de gente que não encontra casa ao valor de uma renda e caução estava lá há muito”.