No arranque da X Convenção da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha subiu ao palco para um discurso enquanto presidente cessante para fazer um balanço do seu mandato com muitas farpas aos críticos e recados para a sucessora. O ex-líder dos liberais garantiu estar de “consciência tranquila” e deixa o cargo com o mesmo “desprendimento” dos seus antecessores, sublinhando que em dois anos e meio a IL passou a estar presente em todos os parlamentos e tem uma visão estratégica e autonomia política e financeira para o futuro.

Houve vozes revelantes na lL que comentaram resultados. Mas a decisão foi minha e essas vozes foram absolutamente irrelevantes na [minha] tomada de decisão”, assegurou Rocha no Multiusos de Alcobaça, numa alusão a Bernardo Blanco e Cotrim Figueiredo que defenderam que o resultado das legislativas ficou aquém do esperado e a IL devia ter mais ambição.

Ainda assim, reconheceu que não foram cumpridos os objetivos, com a IL a não conseguir "reforçar a influência da IL na governação", apesar de ter alcançado o "melhor resultado" em legislativas.

Olhando para os ex-presidentes do partido, notou que nenhum deles cumpriu mais do que um mandato, por razões diferentes, mas criticou o “sebastianismo”, referindo-se aqueles que insistem no regresso de Carlos Guimarâes Pinto ou João Cotrim de Figueiredo para a presidência da IL: “Vamos para a frente, vamos embora. Cuidado com o regresso ao passado, vamos olhar para para futuro”, advertiu.

Críticas aos "sebastianismo"

"Eu darei o meu contributo para o combate ao sebastianismo, manifestando aqui, publicamente, que não tenho disponibilidade para qualquer tipo de função em órgãos de partido, atividade ou qualquer outra coisa, a menos que aconteça uma desgraça, o que manifestamente nem prevejo, nem desejo", observou.

Contra o rótulo da “moderação” disse que nunca foi “moderado” na defesa do partido e dos valores do liberalismo, considerando que arriscou, por exemplo, não ser eleito para o Parlamento ao ser cabeça de lista por Braga e teve “coragem” também ao não aceitar uma coligação pré-eleitoral com a AD.

“Tive coragem quando recusei coligações pré-eleitorais e quando recusei ir para o Governo, porque não troco ideias por cargos. Podíamos ter 10, 20 ou 30 deputados para no dia seguinte estar a privatizar a TAP a 49%? Não pode ser, não era para isso que cá estavamos”, atirou, voltando a defender a privatização total da companhia aérea.

E atirou-se à AD, ao PS e Chega, afirmando que se António Costa ou Pedro Nuno Santos eram as caras do negócio “ruinoso” da TAP, hoje são Luís Montenegro, José Luís Carneiro e André Ventura que querem “manter tudo igual”.

Defesa da "liberdade de expressão" na AR

Despindo o fato de presidente cessante e assumindo a voz do deputado, Rocha aproveitou ainda a sua intervenção para sair em defesa da absoluta liberdade de expressão no Parlamento, afirmando que quer José Luís Carneiro, quer André Ventura têm o direito de usar as expressões "fanfarrão" e "frouxo"

"O grau de filigrana que estamos a construir para chegar a uma conclusão que devia ser a primeira: liberdade de expressão. A liberdade é de cada um que usa e como usa. Quando de um lado se diz que uns são fanfarrões e que do outro lado são frouxos, ambos têm razão", concluiu.

A reunião magna dos liberais elegerá este sábado Mariana Leitão como a nova líder da IL, a sua direção e moção de estratégia global para os próximos dois anos.