Retirado há praticamente dez anos, Bradley Wiggins revelou esta terça-feira mais detalhes de uma vida pós-ciclismo marcada por graves problemas e momentos muito complicados. As revelações feitas ao 'The Observer' mostram o outro lado da vida de um dos mais bem-sucedidos desportistas britânicos de sempre, mas que depois de deixar a atividade ficou totalmente sem rumo. A ponto de agora, depois de praticamente um ano sem consumir álcool e a frequentar sessões de terapia, assumir que tem sorte de estar ainda vivo. Muito por culpa não só do álcool, mas também da droga, nomeadamente cocaína.

"Houve momentos em que o meu filho pensou que me ia encontrar morto na manhã seguinte. As pessoas não têm noção. Eu estava pedrado o tempo todo. Estava a snifar uma quantidade absurda de cocaína. Tinha um problema mesmo real e os meus miúdos chegaram a pensar colocar-me em reabilitação a determinado momento. Nunca falei sobre isto, mas estava mesmo na corda bamba. Percebi que tinha um grande problema e tinha de parar. Tenho sorte de cá estar. Fui vítima das minhas próprias escolhas, durante muitos anos. Já sentia ódio por mim mesmo, mas aí já estava a amplificar ainda mais. Era uma forma de aplicar dano em mim mesmo e sabotar-me. Não era a pessoa que queria ser. E percebi que estava também a magoar as pessoas à minha volta", começou por dizer o antigo ciclista, que atribui a Lance Armstrong um papel importante na sua recuperação pela forma como sempre se mostrou preocupado e tentou ajudar.

"Ele passou por algo similar com o Jan [Ullrich]. Tentaram ajudar-me, mas eu não conseguia encontrar-me. O meu filho fala imenso com o Lance. Ele perguntava-lhe 'Como está o teu pai?' e ele respondia 'não sei dele há umas semanas. Sei que está a viver num hotel'. Não tiveram notícias minhas durante dias a fio. Agora consigo falar disto, mas na altura havia um elemento de viver numa mentira, de não querer falar nisso. Era um viciado e não havia meio termo para mim. Não podia ter um copo de vinho, porque logo a seguir estava a comprar droga. O meu vício era uma forma de aliviar a dor com que vivia", assumiu Wiggins, que no currículo tem 8 medalhas olímpicas (5 ouros, 1 prata e 2 bronzes) e conta ainda com a vitória no Tour de 2012.