
Paulo Futre em entrevista ao jornal Marca. Não parece nada de extraordinário, mas as coisas mudam se dissermos que se trata de Paulo Futre Júnior, filho do antigo jogador, que conta o seu curioso percurso à margem do futebol, mas em paralelo com o legado do pai. Descrito como sobredotado, desde cedo a escola deixou de lhe encher as medidas – faltava para se movimentar no mundo dos negócios - e é membro da Mensa, a mais famosa sociedade de alto QI do mundo. Estudou design e hoje mexe-se no mundo das transferências e outros negócios. Recentemente de uma conferência Ted Talk... sobre o pai.
«Estou muito grato pela confiança, responsabilidade e desafios que o meu pai me deu desde muito novo. A partir dos 14-15 anos, introduziu-me no negócio da família. Ele sabia que eu estava aborrecido na escola, por isso escrevia-me justificações para faltar às aulas e acompanhá-lo a reuniões em todo o mundo. ‘O miúdo saiu inteligente, temos de o pôr em jogo'. Já me sentei com todos os 'Abramovich' do mundo do futebol. De Florentino Pérez aos xeques árabes e a todos os que possa imaginar», começa por dizer na entrevista ao jornal espanhol. «Nunca tive férias em agosto, é o mês das transferências. Estamos na sombra, a ajudar a resolver operações que ficam bloqueadas», explica ainda o filho do antigo jogador do Atlético Madrid.
Já me sentei com todos os 'Abramovich' do mundo do futebol. De Florentino Pérez aos xeques árabes e a todos os que possa imaginar
Desde jovem que entrou então em contacto com mundo dos negócios a alto nível. E dá exemplo. «O pai comentou para o canal Al-Jazeera o Euro 2008 e o Mundial 2010. Eu estava encarregue das negociações do contrato dele com um tal... Al-Khelaifi. Passei horas a negociar com ele, tinha 19 anos. Não há curso que nos ensine melhor do que essa experiência. Tenho milhares de histórias como esta. E hoje o Nasser é campeão europeu com o PSG, temos muito carinho entre nós.»
Paulo explica que desde cedo a família percebeu que era diferente. «Desde miúdo que tinha queda para línguas, instrumentos, xadrez, arte... Tinha milhares de passatempos e interesses. Até aprendi esperanto por curiosidade. O meu problema na escola era que era demasiado preguiçoso para fazer os trabalhos de casa, mas nos exames tinha sempre boas notas. Ao longo dos anos, confirmei todos estes sinais com testes oficiais. Já adulto, a minha mãe confessou-me que, por mais de uma vez, lhe foi proposto que avançasse de ano na escola. Ela recusou porque eu já estava a receber demasiada atenção como filho de um jogador de futebol famoso para estar um ano à frente. Tenho consciência de que não me enquadro nem no estereótipo do filho de um futebolista nem no estereótipo associado à capacidade intelectual.»
Dentro do universo dos sobredotados, Paulo também faz podcasts e conferências, pinta quadros e dá aulas, por isso quando questionado a referir qual é a sua profissão, a resposta sai longa. «A resposta curta é que sou um empresário do mundo do desporto. Estive envolvido em grandes transferências, na representação de jogadores de futebol, na compra e venda de clubes, em patrocínios, na organização de jogos, em projectos audiovisuais. Nos últimos anos, também me concentrei na inovação, na análise de dados e na tecnologia desportiva. Sou consultor e investidor em startups, colaboro com fundos de investimento e aconselho os jogadores de futebol nos seus investimentos. De facto, a parte financeira é algo que estou a descobrir e de que gosto muito. Estou no Mensa, uma associação que agrupa pessoas com QI superior a 98% da população. Para além disso, sou professor convidado em universidades. Sou membro honorário da Sociedade Iberista, que defende uma maior integração prática entre Portugal e Espanha. O meu pai, como bom divulgador do ‘portuñol’, orgulha-se disso.»
Falando em pai e derrubando estereótipos, Paulo defende a inteligência dele: «O meu pai já fez o suficiente para ser candidato ao Prémio Nobel da Física: a velocidade do drible deve ser medida em Futres por segundo (risos). Brincadeiras à parte, ele não é a pessoa indicada para filosofar sobre o niilismo, mas diria que é extraordinariamente inteligente. A velocidade com que pensa, a sua criatividade, a forma como resolve soluções complexas. Tem uma grande capacidade de pensar ‘fora da caixa’ e muita inteligência emocional.»
Muitos desportistas em geral, e futebolistas em particular, provêm de meios humildes onde não tiveram a oportunidade de seguir estudos. O facto de não serem escolarizados não significa que não sejam muito inteligentes
Paulo diz que há futebolistas da La Liga registados no Mensa mas que preferem manter o anonimato e ainda faz a diferença entre cultura e inteligência para derrubar mais um muro – o dos jogadores burros. «É importante não confundir cultura com inteligência. A educação formal e o refinamento cultural dependem, em grande medida, do contexto em que uma pessoa cresce. Muitos desportistas em geral, e futebolistas em particular, provêm de meios humildes onde não tiveram a oportunidade de seguir estudos. O facto de não serem escolarizados não significa que não sejam muito inteligentes.», sublinha, e continua:
«Durante um jogo, um futebolista tem de interpretar constantemente o jogo: antecipar movimentos, ajustar decisões em décimos de segundo, gerir emoções sob pressão, analisar o seu próprio sistema tático e o do adversário com todas as peças em constante evolução... Tudo isto enquanto coordena o seu corpo com uma precisão quase cirúrgica. Há casos documentados, como o de Frank Lampard, que se diz ter um QI de 150. Temos também Akanji, o jogador do Manchester City, cujo cálculo mental é muito impressionante. Para não falar do lendário brasileiro Sócrates, que combinou a medicina com o futebol profissional.»