Com apenas 13 anos, André Frade recebeu uma estação meteorológica de presente e deu início a um projeto que hoje é uma das maiores referências em meteorologia em Portugal.

Criador do “André do Tempo”, o estudante de Climatologia acumula mais de 100 mil seguidores, milhões de visualizações e uma missão clara: aproximar o público da ciência do clima com rigor, humor e proximidade. Ao SAPO, André conta o seu percurso, os desafios e os sonhos de quem transformou uma paixão de infância numa marca nacional.

Sobre o André

André Frade é o criador do André do Tempo, um projeto de divulgação meteorológica com forte presença nas redes sociais e mais de 100 mil seguidores. Natural do Montijo, apaixonou-se pela meteorologia ainda em criança e iniciou-se de forma autodidata. Atualmente, frequenta a licenciatura em Geografia na Universidade de Lisboa, com foco na Climatologia, e trabalha também em marketing digital. O André do Tempo é hoje uma referência na comunicação acessível e rigorosa sobre fenómenos meteorológicos em Portugal. Pode encontrá-lo no facebook e instagram.

Como nasceu o seu interesse pela meteorologia?
Posso começar por dizer que este projeto começou quando eu tinha 12, 13 anos. Na altura, pedi aos meus pais uma estação meteorológica como presente de Natal. A minha paixão por meteorologia já vem desde muito cedo. Eu lembro-me de ser muito pequeno e de já percorrer as janelas da minha casa para ver a chuva ou a trovoada. Não é qualquer criança que quer ver trovoada, com 3 ou 4 anos.

Que tipo de estação era essa?
Era uma estação meteorológica mesmo profissional, que mede temperatura, humidade, pressão atmosférica, chuva, vento… Ter isso com 12 anos foi um grande avanço para mim. A partir daí, o gosto foi crescendo.

Quando é que percebeu que o projeto podia ir além de um passatempo?
Em 2014, criei o MeteoMontijo, porque sou natural do Montijo. Comecei a acompanhar o tempo local com base nos dados da estação e acabei por ser chamado para duas entrevistas na SIC, no Jornal da Noite e no programa Boa Tarde. Depois, surgiu uma parceria com uma rádio regional aqui na margem sul. Foi aí que comecei a perceber que o projeto podia ter outro alcance.

E foi daí que surgiu o André do Tempo?
Em 2019, fiz uma pequena pausa no MeteoMontijo, que me fez bem. No ano seguinte, em 2020, criei o André do Tempo, com o meu próprio nome. Era uma forma de criar uma marca mais pessoal, e que já começava a ser reconhecida. Desde então, tem crescido muito, tanto online como em termos de exposição mediática.

Mas há também um percurso académico nesta área?
Até recentemente, fui totalmente autodidata. Os meus pais sempre me apoiaram muito, ofereciam-me enciclopédias, e eu pesquisava bastante na internet. Há dois anos comecei uma licenciatura em Geografia na Universidade de Lisboa, com foco na Climatologia. Também tenho formação em marketing, o que me ajuda muito na parte digital do projeto.

O André do Tempo tem hoje mais de 100 mil seguidores. Como é que gere essa comunidade?
É uma gestão fácil porque grande parte dos seguidores gosta mesmo do trabalho. Eu e o André Silva — que faz parte da equipa — recebemos muito apoio. Claro que há opiniões diferentes, mas respeito todas. Não costumo bloquear ninguém, a não ser que haja faltas de respeito. A liberdade de expressão é importante.

Costuma ler os comentários?
Vejo alguns, embora não consiga ver todos. Há publicações que recebem centenas de comentários. Mas gosto de estar atento, porque muitas vezes são os próprios seguidores que me alertam para fenómenos. Foi o que aconteceu com o sismo do ano passado... às 5 da manhã comecei a receber notificações dos seguidores e percebi logo que algo tinha acontecido.

E de onde vêm as imagens que publica?
A antiga estação já não existe, porque agora vivo num apartamento. Tenho um sensor mais simples. Mas a maioria das imagens e vídeos são enviados pelos nossos seguidores. Fazemos uma seleção muito rigorosa, principalmente em dias de tempestade, em que recebemos centenas de mensagens. Também usamos imagens de modelos meteorológicos, como os do WXCharts ou Meteociel.

"O rigor é um dos pilares do André do Tempo"

Como é que equilibra o rigor científico com uma comunicação acessível?
O rigor é um dos pilares do André do Tempo, mas também é essencial manter a proximidade. Tento sempre traduzir o que é técnico para uma linguagem que qualquer pessoa consiga entender. É isso que nos distingue de outros projetos.

Há alguma mensagem de um seguidor que o tenha marcado?
Recebo mensagens todos os dias, mas recentemente houve uma publicação sobre o André do Tempo ser a marca mais comentada do país. Recebi comentários de pessoas a dizer que viam familiares a interagir nas publicações e acabavam por dialogar nos comentários. Isso mostra a proximidade que criámos com o público.

O André Silva tem um papel importante no projeto?
Sim, ele é responsável pelos artigos educativos no site andredotempo.pt e está sempre comigo nos diretos, sobretudo no inverno. Estamos a expandir a equipa.

Acredita que o projeto contribui para a literacia climática?
Acredito que sim. Projetos como o André do Tempo são essenciais para explicar fenómenos que muitas vezes não são bem compreendidos. A meteorologia ainda é banalizada, mas influencia toda a gente. Estamos a ajudar a mudar isso.

Quais foram os maiores desafios até agora?
A criação do site foi um grande desafio. Foi feito por mim e deu bastante trabalho. Outro desafio é conciliar o projeto com a vida pessoal e profissional. Mas hoje em dia, o André do Tempo já está integrado na minha rotina.

Tem outros trabalhos além do André do Tempo?
Sim, também trabalho em marketing digital de forma autónoma. O marketing está 100% ligado ao projeto e quero aprofundar ainda mais essa área no futuro.

"Um dos grandes objetivos é criar uma aplicação, muito pedida pelos seguidores"

Tem planos para novos formatos?
Tenho ideias todos os dias. Algumas vão para a frente, outras não. Um dos grandes objetivos é criar uma aplicação, muito pedida pelos seguidores. Também penso, a longo prazo, em desenvolver modelos meteorológicos próprios. São projetos complexos, mas possíveis.

Onde se vê daqui a cinco anos?
Talvez a apresentar um espaço meteorológico em televisão — quem sabe? Mas neste momento estou mais focado em crescer com qualidade, nos bastidores. Daqui a cinco anos vejo o André do Tempo muito maior, com uma aplicação própria, modelos próprios e mais bases tanto na meteorologia como no marketing digital.