Na mesma semana em que Carlos Moedas se apresentou recandidato a Lisboa, reforçando a coligação à direita com a Iniciativa Liberal a juntar-se a PSD e CDS, Alexandra Leitão anunciará que a sua candidatura também não avança sozinha. Mas se a extrema-direita se mantém à margem de uniões, com o Chega (segundo maior partido no Parlamento) a ir a votos a solo, a alternativa que o PS propõe para governar Lisboa contará com ambientalistas e extrema-esquerda, recriando a geringonça à imagem dos novos tempos: o Livre substituirá o PCP, que não quis entrar no barco.

Como tem acontecido nos últimos anos, João Ferreira encabeçará a lista da CDU à capital onde os comunistas têm atualmente dois vereadores, enquanto o Chega avança com Bruno Mascarenhas, um dos três deputados municipais que o partido de André Ventura conseguiu sentar na Assembleia Municipal de Lisboa há quatro anos. Mas desta vez, há fortes probabilidades de o Chega conseguir chegar à vereação — e há até quem antecipe já duas ou três cadeiras para o partido de Ventura.

Também fora de coligações, apesar de ter mostrado a mesma vontade de se juntar à frente de esquerda que o leva a votos com o PS desde 2009, fica o Movimento Cidadãos por Lisboa, que conta hoje com três assentos na vereação. Em declarações ao Público, a presidente do movimento independente, Paula Marques, confirmou ter sinalizado a sua vontade mas não ter recebido resposta de Alexandra Leitão.

Contas feitas, a decisão será entre uma união das esquerdas e uma governação à direita, mas a balança de poder do novo executivo de Lisboa poderá ter um equilíbrio bem distinto do atual. Nas últimas autárquicas, nem IL nem PAN chegaram a eleger vereadores, mas Livre (1), BE (1) e CDU (2) desequilibraram frequentemente a balança para a esquerda, compondo uma coligação negativa contra a vontade do executivo liderado pelo PSD e CDS, que somava apenas um vereador mais do que o PS.

Executivo CML eleito em 2021
Executivo CML eleito em 2021 créditos: SAPO

Sendo previsível que o Chega desta vez consiga eleger, quem perderá representação no executivo parlamentar? E, mais relevante, havendo 17 lugares no executivo municipal, se Ventura conseguir chegar aos três vereadores, que maioria será viabilizada com as forças repartidas entre o bloco à direita e o bloco à esquerda?

Essas são as contas que se farão após as eleições de 12 de outubro. Até lá, haverá uma longa campanha entre os dois grandes blocos que se apresentam a votos. Eis as cinco ideias principais apresentadas pela coligação encabeçada por Carlos Moedas e a que terá à frente Alexandra Leitão.

A razão da candidatura de Carlos Moedas: PSD+CDS+IL

Candidatura de Carlos Moedas
Candidatura de Carlos Moedas O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, à chegada para a apresentação da sua recandidatura à autarquia Lisboeta, na Estufa Fria, em Lisboa, 16 de julho de 2025. José Sena Goulão/LUSA

"Não me candidato contra ninguém, candidato-me por ti, Lisboa", disse nesta quarta-feira Carlos Moedas, numa Estufa Fria a deitar por fora de apoiantes notáveis — membros do governo, a começar pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, ex-governantes do PSD e do CDS, incluindo Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite ou Leonor Beleza, membros da IL, empresários como Salvador de Mello, Rui Miguel Nabeiro, Bruno Bobone, Nazir Din, Miguel Pina Martins, Nogueira Leite mas também artistas como Tony Carreira ou o maestro Rui Massena e uma multidão de lisboetas anónimos.

"É uma escolha simples que os lisboetas têm pela frente, mas com grandes consequências: entre a moderação, a moderação que sonha e que faz, e o radicalismo, o radicalismo que já conseguiu minar grande parte do PS e que tanto prejudicou o país, e que agora quer trazer este modelo falido para a nossa Lisboa", afirmou ainda Moedas. E justificou a sua vontade de renovar o mandato à frente da capital com a necessidade de dar seguimento ao projeto que trouxe à cidade. "Eu estarei onde sempre estive: ao vosso lado, na rua, e não fechado em gabinetes. Pelo que fizemos, o que não nos deixaram fazer e pelo que queremos fazer, digo presente com ainda mais entusiasmo e paixão."

"Servir os lisboetas foi meu propósito há quatro anos, para resolver os problemas sem medo de sonhar, de sonhar alto. É essa a minha motivação também hoje", vincou Moedas, lembrando que "quatro anos não dão para corrigir problemas de 14 anos", mas destacando a "experiência acumulada para avançar agora com mais energia do que no primeiro dia, com mais vontade e o mesmo compromisso de servir Lisboa, de ouvir e de servir as pessoas".

A razão da candidatura de Alexandra Leitão: PS+Livre+BE+PAN

Autárquicas/PS: Apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa
Autárquicas/PS: Apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa A deputada e candidata do Partido Socialista (PS) à Câmara Municipal de Lisboa, Alexandra Leitão, acompanhada pelo secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, durante a sessão de apresentação da sua candidatura, no pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, 08 de março de 2025. créditos: Tiago Petinga/Lusa

"Quem quiser acompanhar-nos será bem-vindo. Mas uma coisa é certa: não há solução sem o PS", vincou a 8 de março Alexandra Leitão, que encheu o Pavilhão Carlos Lopes com bandeiras e caras do partido, de Manuel Alegre a Graça Fonseca, Fernando Medina, Isabel Moreira ou Marta Temido. Contando também com alguns artistas, como Fernando Tordo, foi ainda pela mão de Pedro Nuno Santos que a antiga ministra da Modernização de António Costa se assumiu candidata, nas palavras do então ainda líder socialista, que fez questão de subir também ao palco, "contra o presidente Calimero que temos em Lisboa, que se queixa e não faz nada".

Ainda antes, também o presidente honorário do PS, Manuel Alegre, quis destacar a "inteligência e as convicções" de uma mulher "sem papas na língua", sublinhando — por ser já manifesta a vontade de construir uma frente de esquerda de que os comunistas se demarcaram — que "o PS não anda a reboque da direita, mas também não anda a reboque do PCP".

"As eleições não são um projeto pessoal nem se ganham no dia da votação, pelo que vos deixo aqui um repto: juntem-se a nós e sejam parte desta mudança", apelou, criticando o atual executivo porque "não basta falar de insegurança, é preciso combatê-la; não basta celebrar unicórnios, é preciso dinamizar a economia e a inovação; não basta dizer que se quer resolver o problema da habitação, é preciso propor e executar medidas concretas". "A diferença entre liderar e gerir expectativas vê-se no dia-a-dia", vincou. "Venho para arregaçar as mangas. Lisboa merece visão, mas também empenho e capacidade de fazer acontecer."

1. Carlos Moedas: "Nascerá o maior projeto de habitação que Lisboa viu em décadas"

Candidatura de Carlos Moedas
Candidatura de Carlos Moedas O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, durante a apresentação da sua recandidatura à autarquia Lisboeta, na Estufa Fria, em Lisboa, 16 de julho de 2025. créditos: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A habitação é o problema que todos sentem e ao qual todos abrem caminhos de resposta, e Moedas não é exceção. Na sua candidatura, prometeu dar vida a "um grande projeto de habitação, o maior que Lisboa viu em décadas". e como lhe dará vida? "Conseguimos desbloquear 250 hectares de cidade para ali fazer nascer novos bairros lisboetas, construídos com esforços públicos, privados e do setor social em conjunto. Porque o problema da habitação só se resolve com o empenho de todos", vincou, concretizando que nesses novos bairros haverá 2.400 casas erguidas.

Apontou ainda o Vale de Santo António e o Vale de Chelas, como novos espaços verdes e locais onde serão erguidas outras 2 mil habitações, bem como 6 hectares na Quinta do Ferro onde a construção já está em marcha. E lembrou as 2.600 chaves entregues em quatro anos, "depois de uma década em que se prometeu muito e se fizeram apenas 17 casas por ano", antes de anunciar a criação de "projetos de habitação para os mais jovens regressarem a bairros históricos como Alfama, Mouraria, Graça, Bairro Alto, Madragoa ou Castelo".

1. Alexandra Leitão: "Habitação pública tem de crescer com abordagem humanista"

Candidatura de Alexandra Leitão
Candidatura de Alexandra Leitão A deputada e candidata à Câmara Municipal de Lisboa, Alexandra Leitão, acompanhada pelo secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, durante a sessão de apresentação da sua candidatura, no pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, 08 de março de 2025. créditos: Tiago Petinga/Lusa

Reforçar "significativamente" a habitação pública em Lisboa, com uma abordagem humanista à crise da habitação foi uma das prioridades apontadas pela candidata socialista, a resposta a "um dos maiores desafios" da sua proposta para Lisboa. "Comprar casa própria a qualquer custo não resolve o problema", afirmou Alexandra Leitão, defendendo mais habitação pública: "Tem de ser uma prioridade absoluta para a cidade. A resposta tem de ser estruturada e humana", porque o direito à habitação exige "políticas sustentáveis e sensíveis" aos casos de maior fragilidade social. "Subscrevemos todos uma ideia de humanismo, e é isso que tem de nortear qualquer decisão pública em matéria de habitação."

Razão pela qual propõe que a autarquia "avalie a aquisição dos 17 imóveis localizados no centro da cidade, que o governo pretende vender a privados, assegurando que são convertidos em habitação para arrendamento e poderão ser comprados a preços acessíveis".

2. Segurança, higiene urbana e mobilidade eficiente

Candidatura de Carlos Moedas
Candidatura de Carlos Moedas O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, acompanhado pela sua mulher, Céline Dora Judith Abecassis (E), durante a apresentação da sua recandidatura à autarquia Lisboeta, na Estufa Fria, em Lisboa, 16 de julho de 2025. créditos: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Assegurando a vontade de ajudar a "reconciliar a política com as pessoas" e de contribuir para uma Lisboa capaz de, no dia-a-dia, "fazer com pequenas coisas grandes coisas" Moedas destacou o trabalho feito para criar um "Estado social local" com consultas para idosos, clínicas de proximidade, mamografias gratuitas, mas também reduzindo em 20% o número de sem-abrigos na cidade com "mais vagas sociais de habitação e menos 400 tendas". Também na higiene urbana assumiu haver trabalho a fazer, mas apontou os passos dados, incluindo a "contratação de 538 trabalhadores e a recolha de mais 38 mil toneladas de lixo". "E não descanso até este problema estar resolvido", prometeu o candidato da coligação de direita, lamentando a solução "disfuncional" de repartir esse trabalho entre câmara e junta e garantindo que irá alterar essa condição.

Sobre a segurança, vincou: "Lisboa sempre foi uma cidade segura, em que todos têm espaço, mas hoje as mulheres jovens têm medo de estar em certos pontos da cidade e isso não pode acontecer." E ainda que reconheça que a responsabilidade política é do governo, prometeu "um plano de ação de segurança para a cidade", com apoio do primeiro-ministro e com mais investimento no policiamento comunitário.

Na mobilidade, o compromisso está na "continuidade da mudança", que já assegura "transportes gratuitos para 105 mil lisboetas" e mais de metade dos autocarros movidos a energias limpas, prometendo que "até 2030 não haverá um só a gasóleo em Lisboa" e a cidade será neutra em carbono, também com a ajuda de  dois grandes projetos metropolitanos: o elétrico 16 a ligar Lisboa a Loures (do Terreiro do Paço ao Parque do Papa Francisco) e um novo metrobus a ligar Benfica e Alcântara a Oeiras.

2. Uma cidade "limpa, segura e organizada" à esquerda

Candidatura de Alexandra Leitão
Candidatura de Alexandra Leitão A candidata socialista, Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa, durante a apresentação da sua candidatura do Partido Socialista, no pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, 08 de março de 2025. créditos: Tiago Petinga/Lusa

A ideia-chave é que se crie uma cidade "mais limpa, segura e organizada", com mobilidade "acessível e fluida". Para a líder das forças de esquerda, é por aí que passa a necessidade de "resolver os problemas do dia-a-dia das pessoas — do lixo à mobilidade". "Os buracos nas ruas e os contentores a transbordar são política. Não são pormenores. São o que define se uma cidade respeita quem nela vive", disse, avançando a ideia de criar um "cheque mobilidade", para os jovens poderem usufruir de toda a rede de transportes, táxi incluído, e a vontade de criar acessos a atividades culturais e desportivas.

Quanto à segurança, a candidata da coligação à esquerda defendeu que "não se trata de uma questão ideológica nem pode ser reduzida a soundbites populistas", tem de ter soluções concretas. "As pessoas querem sair à rua e sentir-se seguras, ter iluminação adequada, ruas limpas e polícia de proximidade. E esta não é uma questão que se resolva com mais videovigilância."

3. "A Lisboa para sonhar em grande" de Carlos Moedas

Candidatura de Carlos Moedas
Candidatura de Carlos Moedas O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, cumprimenta o cantor Tony Carreira (E), durante a apresentação da sua recandidatura à autarquia Lisboeta, na Estufa Fria, em Lisboa, 16 de julho de 2025. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA créditos: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Por uma "Lisboa onde se pode sonhar, sem medo de sonhar em grande", bate-se Carlos Moedas, acreditando que a cidade pode ser muito mais, apostando continuamente na inovação e no emprego. "Ridicularizaram a Fábrica de Unicórnios, mas em dois anos isso levou-nos a ser a Capital Europeia da Inovação e permitiu-nos ciar 16.500 empregos", vincou na apresentação da frente de direita, apontando: "Não há nada mais concreto do que empregos. Os empregos mudam a vida das pessoas." Mas também há vontade de conservar, a começar pela identidade e alma de Lisboa. "Numa cidade aberta ao mundo, a identidade é ainda mais importante; nós não temos medo dos outros se ela for forte. E por isso investimos na cultura, numa cultura única e para todos, sem dicotomias, investimos nas tradições, como as marchas (1,5 milhões/ano), abrimos quatro novos museus nestes quatro anos, sete teatros e alargámos o acesso com 33 mil entradas gratuitas para lisboetas", elencou. Além da obra feita, prometeu ainda "proteger a alma de Lisboa" também pelo combate ao "comércio ilegal, a lojas fictícias que são dormitórios ilegais" e pela prioridade dada aos bairros: "Vamos fazer projetos para os jovens poderem comprar casa nesses bairros tradicionais."

3. "A Lisboa culta e moderna" de Alexandra Leitão

Autárquicas/PS: Apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa
Autárquicas/PS: Apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa A deputada e candidata do Partido Socialista (PS) à Câmara Municipal de Lisboa, Alexandra Leitão, discursa durante a sessão de apresentação da sua candidatura, no pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, 08 de março de 2025. créditos: TIAGO PETINGA/LUSA

Apostar numa cidade cosmopolita, onde cultura, planeamento urbano e bem-estar andam de mãos dadas, foi outra das ideias principais na candidatura de Alexandra Leitão, já então assumindo a liderança de uma frente de esquerda, agora formalizada. "Quero uma Lisboa culta, moderna, limpa e organizada. Uma cidade que respeita a sua identidade e sabe projetar-se no futuro", afirmou, apontando que a capital "pode ser um exemplo europeu de cidade que combina qualidade de vida, inovação e cultura, mas para isso tem de mudar".

Para o concretizar, a candidata defende "uma rede de equipamentos descentralizada" e "uma carta municipal para a cultura, que entenda esta área como um motor de desenvolvimento e não como um setor precário".