
Todos os funcionários da embaixada e da residência oficial da Finlândia em Lisboa, incluindo três portugueses, apresentaram uma queixa por assédio e comportamento inapropriado contra a embaixadora, que rejeita as acusações.
Dois dos queixosos adiantaram à Lusa, esta quinta-feira, que a queixa foi apresentada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) finlandês em fevereiro pelos sete funcionários contra a diplomata Titta Maja-Luoto, em funções em Portugal desde setembro passado, embora o alegado assédio tenha sido inicialmente comunicado às autoridades desde outubro.
Os trabalhadores referem situações de assédio, intimidação, insultos, discriminação tendo em conta a idade, comportamento racista e abuso emocional.
Os funcionários foram notificados esta semana do relatório do MNE, que é confidencial, e afirmam-se "abandonados e traídos".
"Foi altamente dececionante", referiu uma das fontes.
Contactado pela Lusa, o MNE finlandês confirmou a conclusão do processo e indicou que "a decisão sobre as possíveis consequências ao abrigo da lei da função pública ainda está a ser analisada e nenhuma decisão foi tomada".
A direção-geral de recursos humanos finlandesa vai realizar uma visita à embaixada em Lisboa esta sexta-feira, uma medida prevista no âmbito do processo.Os funcionários apresentaram também uma queixa junto da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) portuguesa.
Trabalhadora teve de aumentar medicação, outra pediu reforma antecipada
Durante a investigação, quer os queixosos quer a diplomata participaram em reuniões por videoconferência com responsáveis do ministério.Numa audiência, os funcionários descreveram uma "situação desgastante", com impacto na saúde física e mental, relatando que uma trabalhadora teve de aumentar a dosagem da medicação para a hipertensão arterial, "devido aos elevados níveis de stress e ansiedade". Uma outra funcionária pediu reforma antecipada.
"Trata -se de uma questão laboral que o Ministério leva a sério e que tem sido tratada de acordo com os procedimentos de comportamento responsável no local de trabalho do ministério", indicou a mesma fonte do MNE finlandês, em resposta à Lusa.
Os funcionários queixam-se da morosidade do processo, que se arrastou por mais de quatro meses, apesar de as diretrizes do ministério estabelecerem um prazo de três meses para este tipo de casos.
"Processámos a notificação dentro do prazo, mas, infelizmente, neste caso, não foi possível concluí-la dentro do prazo de três meses recomendado pelo próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros. As crises ou situações da comunidade de trabalho são individuais e a sua resolução demora o tempo que a situação exigir", indicou o MNE.
Os queixosos afirmam que a embaixadora manteve a conduta: "Apesar de ter sido advertida pelo ministério, a embaixadora manteve o comportamento", relatou à Lusa um dos trabalhadores.
A Lusa procurou obter um comentário da embaixadora Titta Maja-Luoto, mas não obteve resposta até ao momento.
O jornal finlandês Ilta-Sanomat (IS), que avançou a notícia, descreveu "sérios problemas e um clima de trabalho exaltado" na missão finlandesa em Lisboa.Segundo a mesma notícia, a embaixadora descartou as acusações e classificou as queixas como "mal-entendidos".
"Parece que há um processo de investigação em curso neste momento. Vamos esperar pelos resultados", disse a diplomata ao IS.
Helsínquia garantiu apoio aos funcionários, apesar de não prever indemnizações: "Ao longo deste processo, foram envidados esforços para apoiar a comunidade de trabalho na embaixada e continuaremos a oferecer apoio no futuro", referiu à Lusa.