
Com as economias ibéricas num contraciclo positivo na comparação com os gigantes europeus, a indústria agroalimentar e de bebidas tem vindo a ganhar peso, principalmente na exportação. Já não é apenas o turismo a afirmar-se como principal vetor exportador.
Ainda as tarifas de Donald Trump não eram tema e a crise dos gigantes europeus apenas um desenho, já na Península Ibérica se trilhava solidez.
Prova disso, no último trimestre do ano passado, Portugal teve o 3.º maior crescimento homólogo do PIB, mesmo atrás da Espanha e da Lituânia, mas com a maior variação registada.
As exportações da região, a crescer, impulsionam o fenómeno e não é apenas o turismo a explicar esta robustez. A fileira agroalimentar tem trunfos para a mesa de jogadores importantes e isso faz a diferença.
Azeite, o ouro líquido que cresce
Se em termos de dimensão a Andaluzia lidera, com 1.5 milhões de hectares, a maioria de sequeiro com menor produtividade mas com uma escala que dá poder.
Mas agora, com a instabilidade das voláteis imposições da federação americana, abanam as certezas dos investimentos diretos e de algumas vias indiretas no azeite.
A arquitetura está montada e é mais do que financeiramente apetecível cá, como em Espanha que tem uma bolsa especifica que funciona e controla os valores de mercado, os negócios maiores já são manobrados ao nível de fundos de investimento.
Só falta preço que garanta ainda maior estabilidade.
E o vinho?
Com uma produção estruturada, o vinho já abriu caminho e agarra a marca do país. A Casa Ermelinda Freitas, na península de Setúbal, cresceu em quatro gerações de gestão de mulheres de 60 para mais de 600 hectares. O desafio agora é alargar o portefólio.
Com as economias europeia e mundial a perder gás, o Instituto Nacional de Estatística (INE) mostra que as exportações da indústria alimentar e das bebidas atingiram em 2024, um valor recorde: 8.190 milhões de euros. No país vizinho, a dinâmica tem sido idêntica, embora com ligeira estagnação no crescimento.
No sul de Espanha, encontramos outro caso sério. Se começa no Algarve e avança até Valência, a região de Huelva apresenta-se como uma das maiores áreas de cítricos da Europa. Em qualidade, competência, inovação e, até escala, a península já ombreia com gigantes.
E… a carne
A indústria, em Espanha, é enorme. O setor cárnico movimenta 4.000 operadores. O que visitámos em Múrcia, de gestão familiar, incorpora quatro variedades animais e um leque de inovação que não dispensa mão-de-obra intensiva. Falamos da El Pozo.
Portugal importa o modelo espanhol de liderança europeia nos suínos e já demonstra, por exemplo em Reguengos de Monsaraz, como encorpar para conquistar mercados.
Na Maporal, a unidade de abate já está dotada com a mais moderna tecnologia, cumpre regras de bem estar animal, higiene e segurança para abastecer o mercado nacional e olhar para mercados competitivos.
A Europa é um caminho importante mas a Ásia é um emergente de rigor e qualidade. As condições óptimas da península mas, principalmente, de Portugal, colocam em linha ascendente várias opções.
Em contraciclo, as economias ibéricas têm ganho tração e, no campo, está grande parte do segredo do sucesso. Portugal soube aproveitar mas, internamente ainda há caminho a percorrer.