
A perda de uma relação amorosa desencadeia, pela sua intensidade, não apenas um processo de luto, mas também uma jornada de autoconhecimento. Neste sentido, pelos desafios inerentes ao processo de seguir em frente, existem riscos explícitos para a saúde mental e física da pessoa em luto.
No que remete para a saúde mental, existe uma ligação, estudada e descrita pela Psicologia, entre este processo de luto e um decréscimo do bem-estar psicológico. Existe uma elevada probabilidade de sintomas de depressão (como sentimentos de tristeza, vazio e desesperança), que tendem a estar relacionados com a fragilização da autoestima, resultado da presença de sentimentos de indesejabilidade e inferioridade, e fomentados por pensamentos negativos como “a culpa foi minha” ou “eu não fui suficiente”.
Inclusive, existem processos de luto em que predomina um perigo acentuado de ideação suicida (pensamentos sobre terminar com a própria vida), episódios de tentativa de suicídio, assim como de comportamentos autolesivos.
Este conjunto de pensamentos negativos que tende a predominar (“Eu nunca vou ser feliz”, ou “Vou ficar sozinha para sempre”) aumenta a ameaça de sintomas de ansiedade – isto é, a sensação de medo, tremores e batimento cardíaco acelerado – bem como de dificuldades de atenção, concentração e memória.
A Psicologia aponta ainda como um risco elevado de sinais, a tendência a recordar a experiência traumática de forma involuntária (por exemplo, pensamentos consecutivos acerca do porquê do fim, e/ou imagens repetitivas e automáticas de momentos da relação), pesadelos frequentes (como pensar na pessoa numa nova relação, a casar ou a ter filhos) ou o evitamento de estímulos (como ouvir determinadas músicas ou ler certos livros), pessoas e sítios, que fazem recordar o evento traumático (deixar de ir ao restaurante preferido ou a locais partilhados anteriormente com a pessoa perdida).
Pela relação entre o bem-estar psicológico e a saúde física do ser humano, esta esfera tende a ser igualmente fragilizada por uma rutura amorosa, principalmente quando existem comportamentos prejudiciais para ambas as áreas – mental e física – como o consumo de álcool e drogas, pelo seu efeito de anestesia, representado em frases-feitas presentes na sabedoria popular como “beber para esquecer”.
Tendo em conta que estados de stress crónico afetam não só as funções cardiovasculares, mas também aumentam a possibilidade de problemáticas como a obesidade e o diabetes tipo 2 (até pelos episódios de compulsão alimentar que, por vezes, existem nas vidas de quem carrega um coração partido), estudos científicos têm vindo a evidenciar o risco de patologias associadas ao sistema cardíaco, digestivo e intestinal.
Considerando que uma rutura amorosa tende a limitar a capacidade funcional da pessoa em sofrimento, fragilizando a sua capacidade de investir em tarefas de autocuidado e gerir emocionalmente todos os desafios inerentes a esta perda, é como se ela ficasse “presa” na sua própria dor. Desta forma, em alguns lutos, torna-se imperativa a ajuda psicológica precoce, o cuidar da saúde mental e física hoje, pelo bem-estar de amanhã.
A leitura da obra “Virar a Página” irá ajudar a compreender melhor o impacto emocional e físico do fim de um relacionamento, oferecendo estratégias simples e práticas para lidar com a dor, recuperar o bem-estar e seguir em frente com confiança.
Notícia relacionada
Três concelhos de Bragança juntos para promover a saúde mental dos jovens