
Há em Portugal uma perceção predominantemente negativa em relação à gestão política em Portugal (41% dos inquiridos classificam-na como negativa e 13% como muito negativa), com uma grande fatia (62%) a considerar que a sucessão de eleições a que temos assistido é um efeito de falta de estratégia e de compromisso governativo. Sendo a corrupção (23%) e a falta de transparência (23%) os maiores obstáculos apontados ao bom funcionamento do sistema político, para melhorar esta realidade, pede-se que se combata eficazmente a corrupção e se reforce os mecanismos que visem melhorar os níveis de transparência, mas sobretudo que se implemente um limite de anos para cargos públicos.
É a solução apontada por dois terços dos inquiridos num estudo desenvolvido pela Produto do Ano junto de um painel da CINT, nos dias 25 e 26 de março de 2025, contando com um total de 802 respostas. "67% dos inquiridos apoia a implementação de um limite de anos para cargos públicos, visando evitar a formação de políticos de carreira", lê-se nas conclusões, a que o SAPO teve acesso.
Numa altura em que se desenvolvem os debates eleitorais em antecipação das legislativas de 18 de maio, as respostas sobre o que se tem ouvido também são bem demonstrativas de como têm sido vistos os frente-a-frente do lado de cá do ecrã e de como são percebidas as intervenções dos líderes. Mais de metade (57%) considera que os debates políticos são negativos, demasiado focados em ataques pessoais e com pouco foco na resolução prática dos problemas do país e defende por isso que "os políticos deveriam ser obrigados a apresentar um plano estratégico de longo prazo", a única forma de "garantir uma visão clara para o país".
"Temos uma sociedade crítica, preocupada com a eficiência governativa e a falta de transparência existente, com demasiados casos pessoais a terem palco e a ofuscarem as verdadeiras prioridades, como são a saúde e educação", comenta José Borralho, CEO da empresa Produto do Ano, que conduziu os trabalhos. E uma vez que os inquiridos consideram que os políticos "raramente assumem responsabilidades pelos seus erros", preferindo culpar terceiros (40%), alimentando assim uma cultura de impunidade política, os resultados indicam uma preferência clara: quem se senta em cargos públicos devia ter experiência empresarial prévia (49%), com os lugares de decisão a incluir especialistas de diferentes áreas no governo e a gestão da coisa pública a aproximar-se da que se faz nas empresas (60%) para garantir mais eficiência. "Para 64%, equipas multidisciplinares trariam melhores soluções para os desafios do país e 33% concorda com essa integração, desde que seja equilibrada com a presença de políticos experientes."
"Neste inquérito, os portugueses reforçam a necessidade de reformas estruturais para um futuro mais estável e inovador do país, mesmo porque, consideram, sem inovação não há mudança", interpreta ainda José Borralho, apontando que a instabilidade governativa (19%) e a desconexão entre políticos e cidadãos (17%) são também problemas identificados, a par da falta de inovação e modernização (8%).
"De acordo com os participantes, a maioria dos políticos portugueses está mais preocupada com interesses partidários imediatos do que com o futuro do país", revelam ainda as conclusões dos trabalhos da Produto do Ano, concretizando que muitos entendem que os políticos estão sobretudo preocupados com os seus partidos (39%) ou focados em interesses pessoais (30%).
Sentindo que Portugal está pouco preparado para enfrentar os desafios futuros, a maioria dos inquiridos considera que às políticas atuais falta investimento estratégico (47%) e que é preciso deixar de pensar apenas no curto prazo (29%), sob pena de se continuar a perder competitividade. E entre as razões que determinam esse declínio do país estão não apenas a falta de continuidade entre governos (41%) como a falta de planeamento, com 19% dos questionados a lamentar que a política portuguesa viva de improviso, quando devia estar concentrada em encontrar soluções para temas prioritários como a saúde e bem-estar social (25%), a educação e qualificação profissional (23%) e a economia e emprego (23%).
Questionados ainda sobre as perspetivas sobre Portugal daqui a 20 anos, a maioria dos participantes acredita que Portugal será e, 2050 um país desenvolvido, mas ainda enfrentará desafios estruturais (41%), sem que se verifiquem grandes mudanças (34%) relativamente aos problemas atuais, apesar da influência positiva da União Europeia, que praticamente metade dos inquiridos considera que contribui para o desenvolvimento e a estabilidade do país.