O pacote legislativo orçamental batizado pelo Presidente norte-americano Donald Trump como "grande e bela lei" enfrenta resistência na Câmara de Representantes, onde alguns congressistas republicanos se opõem à versão aprovada pelo Senado, esta terça-feira.

Após quase 24 horas de debate e muitas emendas, o Senado aprovou o abrangente projeto de lei orçamental pela margem mínima (51-50), graças ao voto de desempate do vice-Presidente JD Vance.

Três senadores republicanos --- Rand Paul (Kentucky), Thom Tillis (Carolina do Norte) e Susan Collins (Maine) --- votaram contra o projeto, que regressa agora à câmara baixa para aprovação final.

Segundo o site noticioso Axios, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, enfrenta agora uma onda de descontentamento interno quando tem apenas três dias para aprovar o projeto antes do prazo final imposto por Trump - 04 de julho, Dia da Independência.

"O nosso projeto de lei foi completamente alterado... É inviável", lamentou aos jornalistas o congressista republicano Ralph Norman.

Citando um congressista republicano que falou sob anonimato, o Axios refere que há "bem mais de 20" deputados republicanos a ameaçar votar contra o projeto.

Os republicanos detêm atualmente a maioria na Câmara dos Representantes, com 220 lugares, para 212 dos democratas.

O que implica este pacote legislativo orçamental?

O pacote estende os cortes de impostos do primeiro mandato de Trump (2017-2021), aumenta as despesas com a defesa e o controlo da imigração e reduz programas de assistência como o Medicaid.

Enquanto alguns senadores republicanos se opõem aos cortes nos programas sociais, outros alertam para o impacto fiscal, já que o plano aprovado a 22 de maio pela Câmara dos Representantes custaria à dívida pública um valor estimado em 2,4 biliões de dólares (cerca de dois biliões de euros) na próxima década, de acordo com o gabinete de Orçamento do Congresso.

O projeto do Senado aumenta ainda mais o défice do que a versão da Câmara, devido a alterações entretanto introduzidas.

Estimativas independentes apontam que a dívida dos Estados Unidos possa crescer em 3,3 biliões de dólares (quase 3 biliões de euros ao câmbio atual) ao longo da década.

O Senado fez algumas alterações, nomeadamente ao Medicaid, um seguro de saúde para os cidadãos com rendimentos mais baixos.

"Estão a recuar nos cortes de despesas, na contenção de despesas. Estão a recuar nas reformas que acreditamos que fazem os números bater certo", disse o congressista republicano Chip Roy numa publicação no X.

Além de precisar de mudar a tendência de dezenas de votos entre vários republicanos, em apenas três dias, Johnson terá de superar inúmeros obstáculos processuais, dado que a forma optada para a aprovação legislativa é a chamada "reconciliação", que é possível com uma maioria simples, mas que tem regras específicas.

A votação desta terça-feira no Senado encerrou um fim de semana de trabalho invulgarmente tenso no Capitólio (sede do Congresso), com o grande pacote legislativo proposto por Trump a oscilar entre a aprovação ou o colapso.

Magnata da Tesla e SpaceX critica plano

O bilionário Elon Musk, ex-aliado do Presidente norte-americano, reforçou no sábado as críticas ao plano fiscal e orçamental, argumentando que a legislação que os senadores republicanos estão a tentar aprovar destruiria empregos e prejudicaria indústrias em expansão.

O proprietário da Tesla afirmou que o "último esboço do projeto de lei do Senado" vai "destruir milhões de empregos nos Estados Unidos e causar imensos danos estratégicos ao país".

"Absolutamente insano e destrutivo. Dá dinheiro às indústrias do passado enquanto prejudica gravemente as indústrias do futuro", escreveu o empresário na rede social X.

Trump respondeu entretanto a Musk, admitindo colocar as suas empresas na mira do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), responsável por cortar despesas federais.

"Podíamos colocar o DOGE em cima do Elon. Sabem o que é o DOGE? O DOGE é o monstro que pode virar-se e devorar o Elon", disse Trump.

Questionado se considerava a possibilidade de expulsar Musk, nascido na África do Sul, Donald Trump respondeu: "Não sei. Vamos ter de analisar".