Na primeira reação às notícias sobre o autarca do Chega acusado de recurso a prostituição de menores, André Ventura procurou repetir a fórmula aplicada há semanas com Miguel Arruda e tentou afastar-se ao máximo do caso, disparando para todo o lado e tentando destacar o seu próprio papel como líder partidário por reagir rapidamente ao assunto e reiterando a posição do Chega sobre pedofilia e castração química.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, falando sobre as acusações contra Nuno Pardal - que admitiu ao Expresso que teve relações com o adolescente, ainda que tenha argumentado que este não era menor - Ventura afirmou que “a posição do partido é inflexível” sobre crimes de pedofilia, insistindo que defende a castração química para os pedófilos. Anunciou também a abertura de um processo interno.

“O Chega não pode ter uma cara para dentro e uma cara para fora. O caso é grave, toca nos fundamentos do que nós defendemos que não deve acontecer”, disse Ventura, revelando que pediu ao deputado municipal de Lisboa para sair do partido e insistindo que o caso é motivo “suficiente” para merecer uma expulsão.

Contudo, não foi necessário, uma vez que Nuno Pardal assumiu a saída de todos os órgãos, internos e externos, como confirmou ao Expresso.

André Ventura mostrou-se irritado com o caso, interrompendo as insistências dos jornalistas e desvalorizando o número crescente de casos criminais por membros do Chega. “Estamos a falar de pessoas que não têm cadastro criminal”, sublinhou, descartando que o partido tenha um problema com o recrutamento de militantes para cargos públicos.

Mas o líder do Chega foi mais longe e congratulou-se por estar a reagir ao escândalo poucas horas depois de ser conhecido, comparando-se a Luís Montenegro e à sua reação sobre as acusações contra Miguel Albuquerque. Voltou, como há duas semanas, a elogiar o Chega em comparação com o Partido Socialista nos tempos do caso “Casa Pia” e da acusação do ex-ministro Paulo Pedroso, atacando o PS por “proteger” políticos acusados de crimes graves - omitindo que Pedroso foi absolvido e até indemnizado em 70 mil euros, por ordem do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

“Há momentos da história em que temos de mostrar a massa de que somos feitos. Eu não sou assim. E eu vou exigir consequências desde este momento”, prometeu. Acrescentou que “um líder não escolhe a reação que tem aos casos” e agradeceu às autoridades pela investigação, apontando que “há líderes que dizem que estas operações são negativas”, sem dar exemplos.

Sobre a castração química para pessoas condenadas por pedófilia ou abuso de menores, uma matéria que o Chega tem defendido praticamente desde a sua criação, André Ventura deixou claro que a posição não se altera, mesmo que Nuno Pardal, deputado municipal eleito pelo Chega e defensor da mesma medida, seja ultimamente condenado.

“Perguntaram-me numa entrevista o que diria se fosse um familiar meu. Se fosse o meu pai, um irmão ou alguém da minha família que cometesse crimes contra menores, eu defendia a mesma castração química para pedófilos ou para abusadores de menores que defendo contra todos os outros. Eu não tenho dois critérios. Quem é abusador de menores tem de ser castrado”, defendeu.