18 anos depois, o Arsenal voltou à final da UEFA Women's Champions League e, 18 anos depois, voltou a subir ao trono da Europa. Num Estádio José Alvalade que se transformou num pequeno Camp Nou e esteve pintado por uma larga maioria catalã nas bancadas, foram as gunners a superiorizar-se e a bater o poderoso Barcelona por 1-0. Um triunfo justo para umas londrinas que tiveram as oportunidades mais flagrantes e assim impediram o terceiro triunfo consecutivo das espanholas na prova.

Finais são, por natureza, momentos em que a ansiedade está nos píncaros. Mesmo quando se trata, por exemplo, de uma equipa como o FC Barcelona, mais do que habituada a viver estes momentos. Só nos últimos sete anos, esta foi a sexta final europeia.

Essa ansiedade sentiu-se durante a fase inicial do desafio e em ambas as equipas. Um, dois, três passes totalmente desenquadrados de ambos os lados. Depois a bola chegou aos pés de Patri Guijarro de um lado, de Kim Little e Mariona Caldentey do outro. E a música passou imediatamente a ser outra.

As catalãs, donas do favoritismo, demoraram a sacudir-se dessa pressão. Uma ou outra aproximação da baliza de Daphne van Domselaar que gerou algum frenesim nas bancadas, mas em efeitos práticos, a internacional neerlandesa não teve praticamente trabalho.

As melhores oportunidades na etapa inaugural pertenceram, efetivamente, às londrinas. Um auto-golo de Irene Paredes foi invalidado por fora-de-jogo de Frida Maanum e a norueguesa, pouco depois, encheu o pé na meia distância para forçar um voo incrível a Cata Coll.

Só mais perto do intervalo é que o Barça conseguiu soltar-se das amarras do meio-campo gunner, exemplarmente capitaneado por Kim Little. Os derradeiros minutos trouxeram mais Alexia Putellas e Clàudia Pina ao jogo e rapidamente a equipa catalã cresceu, ainda que sem efeitos práticos no que diz respeito a lances de golo.

Resolver a partir do banco

O Arsenal não foi capaz de cravar os dentes na presa quando esta se encontrou vulnerável. E o FC Barcelona, como a equipa dominadora que procura ser e que geralmente é, deixou as vulnerabilidades no balneário e voltou absolutamente diferente. Para melhor.

A segunda metade foi dominada pela formação catalã praticamente na totalidade. Mais agressiva na pressão, mais autoritária nos duelos e a encontrar mais soluções por dentro naquele futebol rendilhado que lhe é caraterístico, com muita gente na zona da bola e um infinito de combinações curtas para desmontar a teia inglesa.

Não tardaram a aparecer as oportunidades que em nenhum momento apareceram na primeira parte. Clàudia Pina, goleadora máxima da competição, só não molhou a sopa na final porque a trave o impediu. E Van Domselaar, que teve 45 minutos descansados, teve que ir ao relvado para impedir Aitana Bonmatí de abrir o ativo.

Para além das melhorias no momento ofensivo, também defensivamente o Barça parecia ter-se encontrado. Irene Paredes e Mapi León apertaram o cerco às referências das adversárias, aumentaram a agressividade nos duelos e o Arsenal deixou de encontrar facilmente a profundidade para sair rápido.

Mudou tudo a partir do banco. Aí, nota dez para Renée Slegers, que em boa hora lançou Stina Blackstenius e Beth Mead. A primeira, com pernas frescas e físico imponente, devolveu às inglesas a ameaça nos duelos individuais com as centrais contrárias para ganhar profundidade. Assim criou uma ocasião clara, aos 71 minutos, quando deixou Mapi León para trás e só foi parada por Cata Coll. A segunda foi também decisiva porque teve a visão e a qualidade para trocar as voltas à defesa catalã com um passe que deixou Blackstenius sozinha para marcar. 75 minutos, 1-0, Arsenal.

A reação de Pere Romeu pecou por tardia: só quando passou a uma situação de desvantagem é que colocou Ingrid Engen no eixo defensivo para equilibrar no jogo de forças com Blackstenius. O FC Barcelona recuperou o controlo e teve mais bola, mas controlo foi coisa que deixou de interessar ao Arsenal a partir do momento em que o pé direito de Blackstenius disparou para o fundo da rede. A partir daí, o tempo foi de fechar caminhos e esperar. Esperar e sofrer.

18 anos depois, o Arsenal volta a ser campeão da Europa. Renée Slegers, a solução encontrada internamente para o ciclo pós-Jonas Eidevall, pegou num navio naufragado e guiou-o ao maior dos prémios, com coragem e uma leitura perfeita do que acontecia no relvado. Saltará, certamente, para um lugar de imortalidade na história gunner.