— Como está a encarar esta partida frente ao Al Ahly, que é como um tudo ou nada?

 — Para lá de pensarmos na equipa adversária, temos de pensar em nós. Temos que competir de forma diferente. Sinto que todos sentimos que no último encontro não competimos da forma que gostamos, tanto na forma ofensiva quanto na defensiva.  A partir daí, acho que temos de melhorar. Temos o orgulho ferido e não é a imagem que queremos dar neste Mundial de Clubes. Parece-me que amanhã temos uma oportunidade para reverter  essa imagem, frente a um rival que saiu campeão das últimas edições Champions africana e nos últimos quatro anos ganhou duas. É tricampeão em seu país, tem bons jogadores, um treinador que conheço [Jose Riveiros]. Tive a sorte de conhecê-lo e enfrentá-lo em num amigável. Têm bons jogadores, dinâmicos, que podem jogar por dentro e por fora. Temos que fazer bem o nosso trabalho.

— Equaciona mudar a estratégia por causa dos resultados, já que está sempre a falar em competir?

— A palavra competir é muito ampla.  Acredito que, no geral, o competir se associa com correr,  com a atitude, com os duelos. E acho que essa é uma parte muito importante para competir.  Acredito que, sem isso, é muito difícil.  Mas também competir é ter claro qual é o plano de jogo e levá-lo a cabo. Então, quando nos afastamos do plano de jogo e do que temos que fazer, estamos a competir mal. E não nos podemos permitir a isso. Somos muito exigentes com nós mesmos,  falamos muito dos nossos erros, sabemos admitir quando nos equivocamos. Eu disse isso na última conferência de imprensa e falei com os jogadores e mostrámos imagens do último jogo. Sabemos onde nos equivocámos e não nos podemos permitir a isso, porque não é a imagem que queremos dar. Nesse sentido, não queremos passar pelo Mundial de Clubes com essa imagem.  Sabemos que há muitos adeptos que fizeram o esforço de vir até os EUA para nos apoiar e que no Porto é um dia festivo [Noite de São João],  muito importante para a cidade,  que vão estar, nesse momento a  celebrar uma festa importante. E queremos que a festa seja completa e, para isso, precisamos dar-lhes uma alegria ganhando o jogo

— Como olhou para as críticas do presidente André Villas Boas ao desempenho da equipa no último jogo, que disse ter sentido alguma vergonha com a segunda parte mas que quer voltar a ser campeão nacional?

 — Desde que cheguei a Portugal e ao Porto, conheci um presidente que dedica o tempo completo por e para Porto, que está comprometido todo o dia, sem férias,  feriados, ou horários. E nós também nos dedicamos. Hoje, o FC Porto é o mais importante que temos.  Então, acho que  é importante criticarmo-nos a nós mesmos; é importante ter claro o que não estamos a fazer bem,  é importante saber o que nos falta, o que precisamos,  porque sabemos também da necessidade de dar um murro na a mesa,  mas para dar esse murro na mesa temos que ter claro que tipo de murro queremos dar.  Não é dar um murro por dar. Por isso,  nesse sentido,  temos muito claro que temos que trabalhar e estamos trabalhando todo o dia para dar esse murro na mesa na próxima temporada.  Mas acho que o primeiro murro temos que dar é amanhã,  porque o futebol e a vida é o hoje, é o presente.

—Acha que tem plantel para jogar neste sistema?

 — Sistema é uma palavra ampla. Não vejo o futebol por sistema, mas por modelo, essência. Num plantel muitos futebolísticas são capazes de fazer o necessário. A equipa melhora o indivíduo e não o contrário. É evidente que vamos ter que incorporar tarefas novas, jogadores que nos vão dar algo diferente em diferentes partidas. Mas como disse, o essencial é a próxima partida e só depois pensar no que me estás a perguntar

 

— Julga que os jogadores estão confortáveis neste sistema, já que os adeptos parecem ter dado um passo atrás nesse aspeto?

— Creio que fui bem claro antes. Alargando o tema aos jogadores, nós como corpo técnico somos frontais, humanos, entender que trabalhamos com pessoas que também são futebolistas mas são pessoas. Queremos sacar o melhor deles e eles de nós. Não tenho problemas em dizer em que me estou a equivocar e tão pouco eles têm problemas em admitir ou saber o que estamos a fazer mal. Isso é uma relação de confiança, em que todos estamos juntos por um objetivo. Claro que cada um tem a sua carreira, o seu empresário, a sua rede social… O futebol hoje está feito para que cada jogador seja uma empresa por si só. Mas a equipa é a única coisa que importa, a equipa é o único jogador que importa. Por isso acabámos bem a Liga com três vitórias… Claro que falar de um monte de fatores que nos trouxeram a este Mundial não vale a pena, pois isso é falar de desculpas e eu não gosto de falar de desculpas. Como disse, sabemos o que há que fazer melhor e sabemos que o vamos fazer. E estamos todos alinhados atrás dessa ideia e desse propósito.

— Está convencido de que o seu futuro depende deste jogo e do desempenho no Mundial de Clubes?

Para essa futurologia, já sabes, já me conhecem. Nesse aspeto de reconhecer quando estou a fazer bem ou não e reconhecer os erros e se sou capaz ou não capaz de fazer meu trabalho e de reverter ou não situação.  É difícil, nesse sentido, ganharem-me. É difícil ver-me rendido. Gosto do desafio.  Gosto de poder levar o Porto para onde todos queremos estar. Nesse sentido, me sinto muito tranquilo, tanto com o meu trabalho quanto com o do meu corpo técnico, porque, no final, temos a consciência muito tranquila de que não só damos tudo pelo clube, mas que,  ao mesmo tempo, somos muito exigentes com nós mesmos, somos capazes de nos reunir durante horas, analisar, saber o que está mal; saber o que nos falta, saber o que temos que modificar para a próxima temporada.  E também vou ser o primeiro em sentar-me em uma num banco e dizer que dei tudo e não consegui.