Dizem que nunca devemos regressar onde já fomos felizes mas, por vezes, a história desafia-nos e mostra que nem sempre é assim. Aconteceu por exemplo com Angel Di Maria, que regressou a Lisboa e ao Benfica para reviver aquele que foi o início de uma brilhante carreira e provar que a qualidade ainda faz parte do léxico futebolístico.

No futebol, estes regressos são sempre apoteóticos, estão sempre associados a uma espécie de aura e de brilhantismo que nos faz sonhar, a nós adeptos do futebol emocionante que outrora se vivia e que se foi perdendo com o passar dos anos. Os regressos à “casa mãe” suscitam sempre em nós uma enorme curiosidade para perceber se os protagonistas ainda podem cumprir com aquilo a que se propuseram na sua primeira passagem, e quando assim não acontece, fica uma espécie de vazio em nós, mas principalmente neles próprios.

Estes regressos causam-me uma felicidade enorme, uma curiosidade desmedida para começar novamente a acompanhar com mais atenção qualquer equipa que traga de volta um dos seus símbolos, alguém que já fez história muito recentemente. Lembro-me perfeitamente do regresso de Ricardo Quaresma ao Porto, depois de uma passagem pelos Emirados Árabes Unidos, penso que até hoje foi talvez uma das histórias que mais me marcou, ainda que a principal seja a de Cristiano Ronaldo no seu regresso a Manchester, que infelizmente não correu como esperado.

Mas apesar de saber que este reviver de histórias antigas pode nem sempre resultar, acredito que os regressos devem sempre acontecer, quando os jogadores ainda se sintam capazes de ajudar e de lutar por uma realidade que já foi sua. O final de carreira é uma coisa que deve ser romantizada tal e qual como é, porque afinal de contas é o fechar de um ciclo bonito, com altos e baixos, mas que termina para sempre.

Existem sim contextos em que o final de carreira é anunciado previamente nestes tais regressos aos clubes, mas existem outros casos em que os jogadores ainda são capazes de ajudar e de prolongar a sua estadia no futebol por muito mais tempo. O caso do Benfica é muito interessante para analisarmos o contexto que estes tais regressos podem criar no seu clube de origem.

Ultimamente, muito se tem falado dos regressos à Luz de jogadores como Ederson, Lindelof, Nélson Semedo, Bernardo Silva ou João Félix. Se em alguns dos casos o mediatismo é maior, também as especificidades de cada negócio são diferentes.

Começando pela baliza, o regresso de Ederson até podia ser provável ou possível de executar, no entanto, só me parecia viável se o Benfica realizasse um negócio com o Manchester City semelhante ao de Rúben Dias, quando o capitão encarnado rumou a Inglaterra e Otamendi fez o caminho inverso. Ora neste caso, os “cityzens” poderiam receber Trubin, enquanto o Benfica iria receber Ederson e ainda uma compensação financeira. No entanto, é aqui que o nome de Diogo Costa entra em cena, porque é neste momento o nome mais cogitado para a baliza dos blues de Manchester.

Seguindo para a defesa, e já afastando o cenário de regresso para João Cancelo, porque não me parece de todo viável, o Benfica tem centrado atenções em dois jogadores formados no Seixal, Lindelof e Nélson Semedo, que atuam ambos em Inglaterra, mas com condições específicas nos seus clubes. Se o negócio de Lindelof parece muito mais fácil, porque o jogador não conta para Ruben Amorim e pode até ver no Benfica uma oportunidade para voltar a jogar com regularidade a curto prazo, Semedo é uma operação ligeiramente mais complexa, isto porque é um dos capitães e titular do Wolves, e tem bastantes clubes atrás do seu concurso, nomeadamente o Inter de Milão.

No ataque, a história é muito diferente e é precisamente aqui que ganha uma complexidade ainda maior. Isto porque muito se tem falado nos nomes de Bernardo Silva e João Félix e num possível regresso a uma casa que bem conhecem, sendo que ambos já admitiram interesse em jogar de águia ao peito. Se no início acreditava mais no regresso de Bernardo no que do de Félix, a minha opinião mudou rapidamente tendo em conta o momento que o craque português do Milan atravessa.

João Félix nunca conseguiu desvincular-se do rótulo de “eterno promessa” que lhe tem sido colocado e, sinceramente, um regresso à Luz era o melhor que lhe podia acontecer, no entanto, não me parece que fosse o melhor cenário para o Benfica. Já Bernardo Silva parece interessado em rumar a Barcelona antes de regressar ao Benfica, um pouco à semelhança do que fez Di Maria quando decidiu rumar à Juventus ainda antes do seu regresso aos encarnados.

O médio que ainda é jogador do Manchester City tem sido associado a uma possível saída no verão, e o Benfica foi naturalmente apontado como um possível destino. Ainda que acredite que Bernardo seria uma aposta interessante por parte dos encarnados, tudo isto que possa ou não acontecer quer consigo quer com João Félix, só faz sentido se as saídas de jogadores como Di Maria, Akturkoglu, Amdouni ou qualquer outro, se efetivarem.

Para concluir, sou totalmente a favor dos regressos de alguns craques ao sítio onde sorriram pela primeira vez para o futebol, isto porque torna a nossa experiência muito mais interessante e imprime aquela tal emoção que tanto gostamos ao jogo. Falando no caso específico do Benfica, concordo que alguns regressos seriam interessantes, no caso de Ederson apenas se Trubin saísse, mas nos casos de Lindelof e Nélson Semedo, parecem-me dois jogadores capazes de acrescentar qualidade e aumentar o leque de opções.

Bernardo e Félix, apesar de serem os nomes mais badalados, e ainda que acredite bastante que o regresso de Félix se possa confirmar muito em breve, não me parece uma aposta de todo acertada, parece-me muito mais uma jogada mediática do que desportiva, e a nós interessa-nos o jogo em si, as emoções dos 90 minutos, não a quantidade de jornais que se vão vender, porque respiramos e sentimos futebol, e queremos ver um espetáculo digno de pagar bilhete.