
Mais de uma década depois da confissão de Lance Armstrong, os efeitos do caso de dopagem que envolveu o antigo corredor norte-americano, vencedor de sete Voltas a França consecutivas, ainda continuam a dar que falar.
O antigo corredor britânio Bradley Wiggins, vencedor do Tour em 2012, critica o silêncio cúmplice que reinou no ciclismo durante e após a hegemonia de Lance Armstrong, que dominou o Tour de 1999 a 2005, neste último ano retirando-se pela primeira vez do ciclismo profissional, para regressar à competição entre 2009 e 2011.
Performances que estiveram durante muito tempo sob suspeita, mas sem provas, até à confissão do corredor texano em 2013, que lhe custou todas as vitórias.
Para Wiggins, a era-Armstrong «é ainda uma ferida aberta em muitos aspetos». No podcast da revista inglesa Cyclist, o antigo corredor, de 45 anos, responsabiliza alguns órgãos de comunicação social: «Acho que houve muita hipocrisia nos media, muitos sabiam o que ele [Lance Armstrong] estava a fazer. As pessoas estavam ali sentadas, atordoadas, a pensar realmente se ele tinha resistido a tudo aquilo. E sabiam o que estava a acontecer. [...] Foi uma verdadeira pandemia na modalidade», afirmou.
Na altura da confissão de Armstrong, Bradley Wiggins declarou ter-se sentido «roubado» quando se classificou na quarta posição no Tour de França de 2009, quando competia pela equipa Garmin, um lugar imediatamente atrás do norte-americano (que corria pela Astana). Mas agora, o britânico admite que teve de se conter nos comentários.
«Disseram-me o que dizer sobre Lance Armstrong. E esse é um dos meus maiores arrependimentos. Teria preferido dizer simplesmente o que pensava. [...] Foi difícil, porque eu representava a Sky [equipa para a qual se transferiu em 2010 e representou até 2015]. Tinha de dizer o que eles [responsáveis da Sky] queriam que dissesse», assumiu Wiggins.
Entretanto, Lance Amstrong e Bradley Wiggins tornaram-se mais próximos. O norte-americano apoiou financeiramente o britânico, quando revelou, há menos de um ano, estar falido e a sofrer de toxicodependência, numa reforma que está a ser caótica depois de uma carreira de sucesso.