Há momentos, ao longo dos 90 minutos, que definem as partidas. Porém, não são muitas as vezes em que é possível identificar, de forma tão cristalina, o minuto decisivo do jogo, e desta vez, no duelo entre FC Porto e Roma, foi-o. Jogava-se o minuto 66, os dragões perdiam com a Roma por 0-1 e, na sequência de um canto, o ex-benfiquista Brian Cristante teve oportunidade, após um canto, de chegar ao 0-2, mas Diogo Costa negou-lhe esse momento de glória. Na sequência da jogada, na execução de um pontapé de baliza, o ‘keeper’ portista fez um passe de 50 metros, açucarado, a Pepê, que trabalhou bem e provocou um ressalto que Francisco Moura aproveitou para bater Miles Svilar e fazer o golo do empate. Num ápice, a tragédia anunciada dos portistas abriu-se num horizonte de esperança, que seria reforçado aos 72 minutos quando Cristante viu o segundo cartão amarelo. Os donos da casa viam-se em superioridade numérica, com 18+5 minutos por jogar, e o Dragão, de forma generosa, começou a empurrar a sua equipa para vitória. Anselmi fez o que pôde, com quem tinha, do outro lado o mestre Ranieri foi ao arquivo buscar o pragmatismo e lembrou ao mundo que apesar de ter sido campeão no Leicester não deixava de ser italiano, e o jogo acabou por chegar ao fim empatado.

Mau para o FC Porto? Bom não será, mas a Roma ainda está longe de ter garantida a passagem à fase seguinte. Quando disse, há pouco, que estas equipas, uma bicampeã europeia e a outra finalista da Champions, já tinham visto melhores dias, referia-me ao terceiro lugar ex-aequo com o SC Braga que o FC Porto ocupa na Liga portuguesa, e ao nono lugar da Roma na Serie A.

Uns e outros deram-se ao jogo de forma irrepreensível, mas a manta da Roma, que vai no terceiro treinador, é curta, e a do FC Porto, que já vai no segundo, mais curta ficou depois das saídas de Galeno e Nico González. É impossível ter sol na eira e chuva no nabal, e Villas-Boas preferiu acertar as contas em detrimento da equipa, algo que se percebe perante a penúria anunciada pela auditoria forense... 

SISTEMAS SEMELHANTES 

Martin Anselmi e Claudio Ranieri apresentaram sistemas com base em três centrais, mais plástico o da Roma, que tinha a ‘nuance’ de Paulo Dybala se juntar no apoio a Dovbyk ,e Pellegrini se somar aos médios, enquanto que o FC Porto, mais hermético, ia vivendo do acerto de Gonçalo Borges, perante a previsibilidade empenhada de Varela e Eustáquio e a solidão de Samu. Na primeira parte, a Roma foi mais autoritária a meio-campo, e o FC Porto, embora tenha sofrido golo no minuto 45+5, na única ocasião clara dos ‘giallorossi’, foi manietado pelos forasteiros. 

No segundo tempo, perante a densidade de cartões amarelos, Ranieri, que tinha perdido, aos 39 minutos, Dybala após uma entrada forte de Varela (mas acabou por não perder nada, porque Baldanzi deu mais à equipa do que Dybala, o rei dos pormenores, tinha dado), mandou a jogo El-Shaarawy  e Pisilli, poupando Saemaekers e Koné. E se Pisilli entrou bem, o que foi pedido ao italiano de origem egípcia - fazer a ala direita sempre que a equipa defendesse a cinco - não correu assim tão bem. A ver que tinha de fazer alguma coisa, Anselmi apostou no risco, aos 63 minutos, colocando Fábio Vieira ao lado de Eustáquio (saiu Varela) e Pepê na esquerda (saiu Mora, algo que o Tribunal do Dragão não gostou).

Ranieri sentiu que tinha de dar mais ao meio-campo, fez entrar Soulé para o lugar de Pellegrini logo depois do FC Porto ter empatado, e teria de mexer de novo, após a expulsão de Cristante. E aí não foi de modas. Tirou o ponta-de-lança Dovbyk e fez entrar Leandro Paredes, um médio defensivo, e antes que fosse tarde fechou os caminhos para a baliza de Svilar. Anselmi ainda respondeu com Namaso e Gul, acabou a pressionar, mas não passou do domínio (consentido) territorial. A Roma provou ser mais matreira, do FC Porto viu-se boa atitude, e não haverá ninguém, que, de boa-fé, diga para que lado vai cair esta eliminatória. Se para um equipa romana, que depois da saída de Mourinho tem desinvestido a olhos vistos, se para um FC Porto em ano zero de Villas Boas, que teve de vender no mercado de inverno os anéis, para que não lhe levassem os dedos.