
Há taças… e depois há a Pokal. Fundada em 1935 como Tschammer-Pokal, a Taça da Alemanha nasceu com o espírito de competição direta e democrática: todos contra todos, grandes ou pequenos, unidos pelo sonho de Berlim. Ao longo das décadas, a Pokal foi resistindo ao tempo, às transformações do futebol e até às guerras. E manteve sempre a alma, a da surpresa, da esperança, do imprevisível.
Enquanto outras competições se transformaram em palcos exclusivos dos colossos, a Pokal continuou a ser o último reduto do futebol romântico. Um lugar onde as divisões pouco importam, onde o peso da camisola é relativo e onde o impossível acontece com frequência desconcertante.
É na diversidade dos seus protagonistas que a Pokal brilha como nenhuma outra. Em nenhuma outra taça da Europa se vê tanta variedade nas finais: clubes de todas as divisões, de cidades grandes e vilas pequenas, a chegarem à decisão. Um ano é o Bayern a levantar o troféu, no outro é o RB Leipzig, e no seguinte talvez uma surpresa saída da terceira divisão, como o Arminia Bielefeld, que este ano, contra todas as probabilidades, eliminou adversários de elite para marcar presença na final contra o poderoso VfB Stuttgart.
E não é caso único. Em 1993, o modesto Hertha Berlim Amateure, equipa B do Hertha, chegou à final da Pokal, um feito inédito para uma equipa amadora. Em 2011, o MSV Duisburg, da segunda divisão, chegou à final depois de eliminar várias equipas da Bundesliga.
Mais recentemente, em 2018, o Eintracht Frankfurt derrotou o Bayern numa final em que ninguém lhes dava hipóteses, e em 2024 o Saarbrücken, da terceira divisão, chegou às meias-finais após eliminar Bayern e Frankfurt, e o 1. FC Kaiserslautern, da 2.ª divisão, superou todas as expectativas e alcançou a final, recuperando o brilho de um clube histórico há muito adormecido.
Este tipo de confronto, entre realidades tão diferentes, é precisamente o que faz da Pokal um espetáculo único. A ideia de que, num jogo só, um clube modesto pode abater um gigante, é um apelo irresistível. É a essência do futebol: a bola é redonda, e tudo pode acontecer.
E quando chega a final em Berlim, o cenário é de gala. Mas o brilho não está só nas estrelas da Bundesliga. Está também nos heróis improváveis, nos treinadores de discurso emocionado, nos adeptos que viajaram centenas de quilómetros com cachecóis gastos, mas corações cheios.
A Pokal não tem um guião previsível. Ela escolhe os seus heróis a dedo, e raramente escolhe os habituais. É esse o seu encanto. É por isso que a esperamos todos os anos com o mesmo entusiasmo: porque nela, cada edição é um novo conto de fadas, com novos protagonistas e finais sempre abertos.
A Pokal é onde a história se escreve com coragem. Onde o pequeno sonha, e às vezes, sonha alto. Onde a magia do futebol ainda vive sem filtros. E que nunca mude.