
O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
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Elinton Andrade 17 títulos oficiais |
Antes de enveredar pelo futebol de praia, Elinton Andrade teve uma longa carreira no futebol de campo. Nascido no Brasil, o internacional português teve muito perto de jogar no Vietname, num processo de envolveu vários nomes de relevo.
«Eu sempre me conectei com as pessoas, não com os lugares. Quando olho para a frente vejo o que é que essas pessoas me podem proporcionar. Quem me indicou para o Vietname foi o Abel Braga, treinador que já passou por Portugal. O intermediário da minha transferência foi o treinador Vítor Oliveira, ele até foi comigo para lá. O treinador do clube para onde fui era o Henrique Calisto, o meu empresário era italiano, tinha a possibilidade de obter o passaporte português... Não me preocupei com a possibilidade ficar sumido e de ninguém me ver, eu precisava era de jogar», começou por contar, explicando depois porque motivo não se mudou mesmo para o país asiático:
«Quando cheguei, algo inusitado aconteceu na hora de assinar contrato. Eu estava na mesa do presidente e ele disse-me que não precisava da minha esposa porque eles tinham mulheres lá para nós. Eu só disse "Obrigado, então vou [embora]". O Vietname tem essa cultura... Presenciei pais oferecendo as próprias filhas por dez dólares. Tu passavas num bar perto do centro de treinos e havia umas situações muito tristes de necessidade do pai, que pegava nas filha de 15/16 anos e oferecia. Era algo mesmo muito triste.»
Ainda assim, o antigo guarda-redes ficou com algumas histórias caricatas para contar. «Imagina uma estrada muito longa com seis vias. Não havia semáforos nem nada, havia sim era 300 mil motinhas a circular. Eu só pensava 'Como é que vou atravessar a rua?'. Perguntei ao tradutor e ele disse-me "É só andar". Eu não acreditei, mas a verdade é que era. É tudo tão sincronizado que ninguém bate em ti, mesmo que ninguém trave. Só não podes correr. Outra coisa engraçada é que havia motinhas com pai, mãe, duas crianças em cima, um frigorífoco, um fogão... [risos]», rematou.