Um orgulho que não cabe no peito das gentes de Mirandela.

Rui Borges e Luís Pinto tiveram no Mirandela a primeira grande oportunidade (um sucedeu ao outro) e depois, subiram a pulso até se sagrarem campeões das Ligas profissionais.

Um feito que, de resto, não surpreende quem lhes deu a primeira oportunidade.

«Fui treinador do Rui Borges, fui presidente e percebi de imediato que ele era um líder. Ele gostava de ser treinador e fiz-lhe o convite para assumir a equipa sénior. Quer queiram, quer não, fui eu quem lançou o Rui Borges. Na altura, disse numa entrevista a uma rádio local que o Rui ia chegar rapidamente à Liga», referiu o presidente do emblema transmontano, Carlos Correia, a A BOLA.

Por seu turno, Pedro Fernandes descreveu o treinador do Sporting como «um líder nato».

«O Rui era um líder nato, muito inteligente e que sabia lidar com os jogadores. Conseguia perceber como é que os jogadores estavam, tinha uma relação muito próxima com eles. Isso faz a diferença num balneário», disse o antigo internacional jovem por Portugal e atual treinador da seleção distrital de sub-13 da AF Bragança.

Um homem simples, que respira futebol e é amigo do amigo. Deixou, no fundo, uma marca no clube alvinegro.

«O Rui gosta de ajudar, é um rapaz cinco estrelas, muito altruísta. É amigo do amigo e um tipo muito positivo, vê sempre o lado bom das coisas. E como treinador, é muito dedicado e com uma enorme capacidade para gerir o grupo», retratou Nuno Loureiro, diretor dos transmontanos.

O treinador, coroado recentemente campeão nacional, deu nas vistas em Mirandela e com a equipa no sexto lugar da série A do Campeonato de Portugal, saiu no início de 2019 para o Académico de Viseu. O sucessor foi um jovem desconhecido chamado… Luís Pinto.

«Ninguém conhecia o Luís Pinto quando cá chegou. Esteve seis meses e deu seguimento ao trabalho que o Rui tinha feito. Ficámos na mesma posição em que estávamos. Veio para cá sozinho. Era ambicioso e humilde como o Rui e vi que tinha qualidade para chegar a outro patamar», lembrou Carlos Correia.

Perfis semelhantes, ideias distintas no banco.

«A mudança de treinador foi pacífica. Na altura, tínhamos alguns problemas, mas o Luís soube gerir o grupo e fez um bom campeonato. A maior diferença entre ambos está relacionada com a abordagem. O Rui focava-se muito na sua equipa enquanto o Luís mostrava muitos vídeos do adversário e focava-se no que podiam fazer. Pessoalmente, prefiro a visão do Rui», esclareceu Pedro Fernandes.

Apesar de estar feliz pelo sucesso de ambos, o antigo guarda-redes confessou que a ascensão de Luís Pinto o surpreendeu mais que a de Rui Borges.

«Tanto um como o outro eram profissionais, sabiam o que faziam e trabalhavam bem. Quando o Amorim saiu do Sporting, comentei que o Rui deveria ser o próximo treinador. O perfil dele encaixava-se perfeitamente. Já o Luís surpreendeu-me mais do que o Rui, entrou e saiu em alguns clubes, como Felgueiras por exemplo, até aparecer muito bem no Tondela», admitiu.

Agarrados às suas ideias trilharam percursos distintos, mas partilharam a casa de partida (o Mirandela, leia-se) e o destino final: o sucesso. O emblema transmontano, que está prestes a celebrar 99 anos, funciona como trampolim para quem almeja chegar a patamares profissionais, defendeu o presidente.

«O Mirandela é um clube muito apetecível. O Zaidu esteve aqui três anos, o Ricardo Mangas passou por cá, há vários jogadores na Liga 3 e na Liga 2 que jogaram no Mirandela. É uma rampa de lançamento para jogadores e treinadores como agora se vê», argumentou Carlos Correia.

Rui Borges, o filho da terra que não esquece as suas raízes

Quem conversa com Carlos Correia percebe facilmente o carinho que tem por Rui Borges, uma pessoa «que não é de grandes vaidades e que merece tudo o que está a viver».

«O Rui faz questão de sublinhar que passou pelo Mirandela e que é daqui. Isso deixa-nos orgulhosos. É uma pessoa que não é de grandes vaidades e merece tudo o que está a viver. E sabe, ele é uma pessoa muito positiva, muito humana e capaz de criar um bom balneário», sublinhou.

Por isso, o dirigente fez questão de anunciar, poucas horas após tê-lo feito através de uma publicação na página oficial do clube nas redes sociais, que o treinador do Sporting vai ser homenageado no próximo mês de junho, em Mirandela.

«Não falei com ele depois da conquista do campeonato, não o quero chatear. Ele tem muito que fazer nesta fase. Conversámos três dias antes da última jornada do campeonato porque vamos homenageá-lo a 10 de junho, data de aniversário do Mirandela. Ele vai estar cá e vamos ter tempo para pôr a conversa em dia», revelou.

As celebrações do aniversário do Mirandela marcam o encerramento de uma época dourada na AF Bragança. Campeão e vencedor da Taça, os alvinegros estão de regresso ao Campeonato de Portugal um após terem descido.

«A época foi muito boa, cumprimos o que estava estipulado. Mas foi à base de muito trabalho, atenção. O Campeonato de Portugal vai obrigar a várias mudanças, é um contexto completamente diferente, mais competitivo. O objetivo é não voltarmos a ter o dissabor que tivemos há dois anos», disse Nuno Loureiro.

Em suma, foi um ano em cheio para os mirandelenses.