Numa entrevista concedida à Sport TV, no programa 'Futebol é o Momento', Nuno Santos, atualmente de fora no Sporting, uma vez que recupera de uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo sofrida ainda na primeira metade da época contra o Famalicão, começou por responder a questões relativas a dados e números da sua carreira, antes de abordar a presente temporada e não só.

No balneário do Sporting, quem demora mais tempo?
"Geny [Catamo]. Usa muitos cremes. O St. Juste também."

O mais vaidoso?
"O Trincão."

Para lá de ti, quem tem pior feitio?
"O Pote. Entre os dois, eu."

Melhor pé esquerdo do plantel do Sporting?
"Trincão, na minha opinião. Gosto de todos, mas o Trincão está numa boa fase."

Defesa mais difícil que enfrentaste?
"Já tive alguns... não sei. Há sempre jogadores contra os quais sei sempre que vou jogar, mas há laterais difíceis. Não consigo individualizar."

Nunca mais conquistar um troféu ou andar sempre vestido como o Debast?
"Andava sempre vestido como o Debast."

Em que momento mais queria ter estado em campo?
"Quando estava na pior fase da equipa, naquela transição do João Pereira. Quando veio para o Sporting. Foi uma fase difícil para nós e queria estar com a equipa. Onde nos tínhamos de ajudar mais porque as coisas não estavam a correr da melhor maneira."

O pior que pode acontecer a um jogador é uma lesão. Estar sete meses a viver tudo por fora imagino que seja muito difícil...
"Sim, a lesão é complicada e já passei por três. Esta agora foi mais difícil, porque estava num bom momento da carreira. Mas estou quase de volta e tenho saudades de ajudar os meus companheiros. Percebi e senti que podia ser pior. Tive muitas dores na altura. Quando senti, pensei logo que era algo grave e o doutor estava  a tentar fazer testes e disse que não valia a pena. Consigo ver as imagens depois, mas não consigo dizer ao certo quando foi. Porque não foi um choque grave, acho que foi antes. O joelho ficou dobrado e não consegui esticá-lo. Quando bato com um jogador do Famalicão, já me tinha magoado. Estava com tantas dores, pensei que podia não ser tão grave. Mas nem conseguia mexer o joelho e pensei que seria grave. Não é fácil, mas vou voltar mais forte. Sou muito ambicioso e, mesmo com 30 anos agora, tenho muito pela frente."

Como foi chegar à Academia depois disto?
"Ainda agora é difícil. O primeiro dia em que cheguei à Academia foi no dia a seguir. Era para ser operado logo a seguir, mas disse que não queria, porque tinha ainda de pôr na cabeça que ia estar muito tempo parado. Estar com os meus filhos e mulher e pensar em tudo isto. Mas isto é o que eu sei fazer, jogar futebol. Sou dos primeiros a chegar e dos últimos a sair. Não almoço a horas, mas os sacríficios têm de valer a pena. É aguentar, estou na última fase da lesão. Por mim já queria ter a força normal para voltar a treinar. Estava sempre a dizer para contarem comigo na final da Taça, mas não consigo. Espero fazer a pré-época com a equipa já. Não tenho receio do choque. Gosto disso e sou competitivo. Tenho medo é de estar de fora."

O que pensaste quando chegaste ao Marquês de Pombal?
"Massacrei-lhes a cabeça a época toda, porque sabia que nós conseguíamos aquilo. Estivemos a dar um pouco de tiros nos pés durante a época, mas faz parte do futebol. Uma época é longa, acreditava muito neles e estava sempre por trás, mas a acreditar muito. No jogo com o Gil Vicente até dei uma corrida e já não me doía nada [risos]."

Esse momento do golo do Quaresma é um dos mais importantes da época?
"Para mim é o mais importante. Tínhamos de ir para baixo aos 85 minutos por causa da confusão que se gera nos corredores e eu disse 'não, vou ficar até ao fim, porque vamos marcar'. E o Gonçalo estava connosco e o Quaresma marcou, entrou aos pulos no campo a dentro e pensei que podia ser expulso outra vez, não havia problema. Quero é viver este momento com eles, porque merecemos. Temos uma equipa com muitos jovens, e miúdos com bastante talento, que não sabem o que é viver estes momentos e o quão importante é ser campeão. Por tudo, quem foi pela primeira vez campeão viu o que é ser campeão no Sporting."

Tens noção de que és amado pelos teus adeptos e odiado pelos adeptos dos outros clubes?
"Não tem problema. Sinto prazer em ir aos outros estádios e que me assobiem. Gosto disso. Se não me dissessem nada... É sinal de que sou importante para eles."

Agora haverá o jogo decisivo na Taça...
"Dava tudo para jogar. Esses jogos são os jogos que os jogadores sonham jogar. Em que conseguimos fazer muita diferença."

Ficas com feitio quando vais ao banco?
"Não. E os meus colegas já me conhecem. Não é para dizer que sou melhor do que eles. Não vou passar à frente deles algo que não sou. Não quero afetar o grupo. Mesmo com o Coates e Neto, falávamos muito disso. Não é para passar por cima de ninguém. Gosto de jogar frente e faz parte da minha personalidade."

Rui Borges é que ainda não teve possibilidade de o treinar...
"Sim, mas disse-me logo as mesmas palavras no primeiro dia que disse há dias numa entrevista. Mas também eu já lhe disse que pode contar comigo na pré-época e pode contar com Nuno Santos para a supertaça. No que depender de mim, sim."

Qual foi a maior dura que Ruben Amorim lhe deu?
"Ele nem era muito de dar duras. Quando ele me tratava por cavalinho, porque chamava-se isso, eu não ia jogar ou tinha errado alguma coisa. Mas depois falava comigo individualmente. Duras? Nos primeiros tempos com a azia a seguir falava no grupo e, a partir daí, aprendi e metia-me no meu lugar. Sabia que não podia facilitar."

A liderança do Seba [Coates] é completamente diferente da do Hjulmand...
"É diferente, mas vai dar ao mesmo porque são dois excelentes capitães. O Seba é uma lenda do clube, muitos anos no clube, víamos em campo e sabíamos que estava ali o líder. Era o defesa e via um leão ali em campo. Com ele, bastava o olhar para vermos a diferença. Com o Morten, vimos isso a ser construído desde que lhe deram a braçadeira. Temos um respeito muito grande pelo Morten, que é um excelente líder. Acho que está a fazer a história dele muito bem feita no Sporting e espero que fique no Sporting durante muitos anos porque é um excelente capitão."

Hjulmand e Gyökeres são intocáveis no Sporting?
"Os dois. O Viktor por tudo, pelo golo, por ser um ponta de lança difícil de encontrar na atualidade. O Morten pela maneira como joga. É um jogador muito calmo. Todos os jogos vejo a forma como recebe a bola e a personalidade, a forma como ganha faltas e faz no tempo certo. O Morten não se pode ir embora, não vai, o presidente não pode deixar. Era uma falta muito grande. Neste momento, o Morten é muito fulcral na nossa equipa."

Perceberam nos primeiros treinos o que estava ali do Gyökeres?
"Percebemos pelo primeiro jogo na pré-época. Passou mal com o calor, mas conseguíamos ver pela fome que tinha de fazer golos nos treinos. Temos de ser assim e dar o máximo nos treinos. Ele tem muita fome de marcar. Nos treinos nunca o metem com o Ousmane [Diomande], porque vai dar faísca. São os dois muito competitivos. Dão tudo em todos os jogos e lances. No final de treinos, ficava a cruzar só para ele para fazer exercício de finalização, mesmo sem guarda-redes. Tudo isto para aperfeiçoarmos."

Sente mágoa por não ser chamado à Seleção?
"Não digo mágoa, mas fico triste. Sinto muitas coisas, fico triste, porque acho que podia ter tido já oportunidades nas minhas épocas no Sporting. Foram escolhas, mas acredito mesmo que, com 30 anos, quando voltar, e se acreditarem em mim, posso ir. Mas fico triste por não ter representado a Seleção até hoje. Vesti a Seleção na formação e um dos meus grandes objetivos era representar a Seleção A, porque é um sonho de criança. Espero fazer boas épocas e poder representar, porque acho que nunca é tarde para isso. Tenho na minha posição jogadores com muita qualidade. Mas podia ter representado noutras ocasiões."

Qual foi o momento mais feliz da minha carreira?
"O meu primeiro título de campeão nacional. Na realidade, na altura foi no Benfica, mas foi na altura o mais especial, porque foi o primeiro título de campeão nacional como sénior. Nesse título fiz dois jogos só. Também me lesionei."

Expectativas para a final da Taça?
"A festa do título já acabou, agora temos o Benfica, que fez um bom campeonato e foi luta até ao fim. Agora é uma competição diferente, onde as duas equipas vão entrar para ganhar. Vai ser um excelente jogo, mas vamos dar o máximo e ser competentes e competitivos. E com pés bem assentes na terra, porque temos uma excelente equipa do outro lado e que também quer o título."

O que é mais importante nestes jogos: a cabeça ou as pernas?
"Nestes jogos a cabeça sem dúvida, o controlo emocional, porque é uma final e em 90 minutos pode acontecer muita coisa. Controlo emocional nestes jogos é o mais difícil, porque é só um jogo. O míster já nos passou a mensagem de que a festa acabou, o campeonato está feito  e agora temos de ter os pés bem assentes na terra e num jogo difícil com um Benfica que vem com vontade de querer ganhar. Vai ser um jogo muito complicado e onde queremos ganhar. O Benfica quer também a Taça de Portugal, porque é um clube que gosta de ganhar títulos e ganha títulos também. Vem na máxima força e nós também."

Será o último jogo do Di María?
"Sim, desde miúdo que gosto muito do Di María. Já joguei com e contra ele. É um excelente jogador e, se for embora, vai fazer muita falta ao futebol português."

E estás preparado para te despedires de alguém do Sporting no Jamor?
"Ainda não. Gosto muito da minha equipa e espero que fiquem todos."