
Após a vitória na Volta à Suíça, no último domingo, Almeida já soma nove triunfos este ano, mais três do que na anterior época mais vitoriosa, 2021, em que ergueu os braços seis vezes. Nessa temporada, a segunda que cumpriu na equipa Quick-Step, aos 22 anos, a jovem promessa do ciclismo mundial, que dera nas vistas um ano antes no Giro de Itália com a quarta posição da classificação geral após 15 dias a envergar a camisola rosa, impôs-se nas Voltas à Polónia (ganhando ainda duas etapas) e ao Luxemburgo (e uma etapa) e nos Nacionais de contrarrelógio (estes ainda com 21 anos).
No que se seguiu na carreira do corredor de A-dos-Francos entre 2022-24, os primeiros três anos na UAE Emirates, foram sete vitórias, seis em etapas e duas nos Campeonatos Nacionais (de fundo em 2022 e de contrarrelógio em 2023). Em 2023-24, duas vitórias apenas, distribuídas por cada ano. Escasso pecúlio, mas Almeida enriqueceu o palmarés com o terceiro lugar no Giro (em 2023, a melhor classificação de sempre de um português, ao que soma uma vitória em etapa) e no ano seguinte com a quarta posição no Tour de França (segunda melhor de um ciclista nacional, após a terceira de Joaquim Agostinho em 1978 e 79).
Em 2025, enfim, as vitórias avolumam-se. Em 39 dias de competição, João Almeida conquistou enfileirou triunfos nas Voltas ao País Basco (o seu segundo triunfo em corridas por etapas do WorldTour, depois da estreia na Polónia, em 2021), Romandia e Suíça. Ao fazê-lo, o português junta-se ao irlandês Sean Kelly e ao britânico Bradley Wiggins, como os únicos na história da modalidade a ganharem três provas por etapas do principal escalão mundial consecutivamente na mesma temporada. De permeio, Almeida venceu ainda seis etapas (uma no Paris-Nice, duas no País Basco e três na Suíça).
Juntando-lhes posições no top-3, com destaque para os segundos lugares na Volta ao Algarve, em que foi batido pelo dinamarquês Jonas Vingegaard no contrarrelógio final no Malhão, e na Volta à Comunidade Valenciana, derrotado pelo colombiano Santiago Buitrago, e ainda os vices na etapa da Foia, no Algarve, em que ofereceu a vitória ao companheiro de equipa Jan Christen; nos contrarrelógios em Valência e Romandia, respetivamente atrás do alemão Maximilian Schachmann e do campeão mundial Remco Evenepoel, e nas tiradas de montanha da Romandia e da Suíça, vencido ao sprint pelo francês Lenny Martinez e pelo britânico Oscar Onley, já são 20 corridas em que o Pantera das Caldas terminou no pódio em 2025.
Uma temporada que passou pouco ainda da metade e já está a ser a melhor da carreira de João Almeida, mas trará mais possibilidades de conquista. Desde logo, dois objetivos, o principal da época do corredor, a próxima competição, o Tour de França (a partir de 5 de julho), e um segundo, confirmado, a Vuelta a Espanha, que poderá acrescer de importância mediante as circunstâncias na equipa e as ambições com que o português abordará a prova que se inicia a 23 de agosto.
O que se segue: Tour de França
Sobre a Volta a França, já se sabia e João Almeida confirmou-o no final do discurso de vitória na Suíça, no domingo, a missão é «ajudar o Tadej [Pogacar] a vencer», o esloveno campeão mundial e triplo vencedor do Tour (2020-21 e 24), líder indiscutível da equipa UAE Emirates. Almeida assume a função de tenente de montanha (principal corredor de apoio) de Pogacar pelo segundo ano consecutivo, vontade assumida pelo português, em detrimento de pretensões pessoais, de classificação geral ou de vitória em etapas.
Em 2024, na estreia (reforce-se, ansiada pelo corredor) na Grande Boucle, apesar da subserviência a Pogacar, alcançou quarto lugar (atrás do esloveno, de Vingegaard e de Remco Evenepoel), ótimo resultado que Almeida pôde alcançar (com mérito máximo), devido a circunstâncias de corrida que o pouparam ao desgaste inerente à tarefa prioritária (entenda-se, a superioridade de Pogacar face aos adversários dispensou-o a trabalho redobrado). Este ano, embora subordinando-se outra vez ao que a missão na equipa lhe impuser, o objetivo será, certamente, igualar ou melhorar.
Sim, o pódio é possível a João Almeida, ao João Almeida de 2025, que se tem exprimido a um nível sem precedentes na carreira e no limiar do patamar superior em que estão os reconhecidos melhores voltistas mundiais, Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard, em paridade com consagrados como Primoz Roglic (vencedor de quatro Vueltas e um Giro) ou Remco Evenepoel (Vuelta), que este ano, repetindo 2024, voltam a partilhar com o português as estradas do Tour.
Mais (ou pelo menos tanto) do que a concorrência deste esloveno ou do belga, e considerando como teoricamente certo de que Pogacar e Vingegaard são intocáveis, será a carga de trabalho a que Almeida se submeter, em prol do seu líder, que determinará a sua ambição neste Tour. Se as condições foram similares às da edição de 2024, não será exagerado otimismo prognosticar o assalto do Bota Lume ao pódio.
Vuelta: as dúvidas
Este ano, a Vuelta regressa ao calendário do português. Todavia, as perspectivas de classificação geral, por enquanto, são incertas, devido a algumas dúvidas que deverão subsistir até perto do início da corrida espanhola. A questão primordial é saber se Tadej Pogacar participará. O esloveno que venceu o Giro e o Tour em 2024, poderá, em caso de reeditar a vitória em França, encadear este ano a Vuelta, a única grande Volta que ainda não conquistou. Se perder o Tour, não é improvável que queira vingar-se em Espanha, tanto mais que o arquirrival Jonas Vingegaard já confirmou o regresso após discreta estreia em 2020.
Por outro lado, a única objeção à presença de Pogacar na Vuelta será a pretensão de revalidar o título mundial de fundo, na competição que este ano será disputada no Ruanda, a 28 de setembro, para a qual o período ideal de preparação ideal (recuperação incluída) poderá ser incompatível, devido à proximidade de datas, com a Volta a Espanha, que terminará no dia 14 anterior.
Da clarificação destas incertezas, depende a pretensão de João Almeida na quarta participação na Vuelta, cujo melhor resultado é o quarto lugar em 2022, no primeiro ano na UAE Emirates. Face à capacidade exibida pelo português esta temporada, os fãs torcerão, mais do que nunca, para que este volte a ser seja eleito para liderar a equipa em Espanha e possa conquistar, enfim, inédita vitória de um corredor português numa grande Volta. Para João Almeida de 2025 é possível.