Estes textos foram escritos no âmbito da Guardian Experts' Network, a rede de troca de conteúdos para a edição 2025 do Europeu de Futebol Feminino, liderada pelo jornal inglês The Guardian e que tem A BOLA como representante português.

Portugal quer mais. Depois da presença nos Campeonatos Europeus de 2017 e 2022, assim como no Mundial de 2023, as Navegadoras já sentem que é possível pensar em algo mais do que simplesmente participar. Já sentem capacidade para traçar um novo objetivo inédito: ultrapassar a fase de grupos num torneio destes. A Suíça, país com uma vasta comunidade portuguesa, parece o palco ideal para fazer história, uma vez mais.

A campanha de apuramento alimentou essa expectativa, tendo em conta que Portugal não sofreu qualquer derrota nos 10 jogos disputados: seis da primeira fase e mais quatro das duas rondas de play-off, frente a Azerbaijão e Chéquia. Contudo, os compromissos mais recentes, a contar para a Liga das Nações, vieram recuperar a dúvida: será que as Navegadoras já estão mesmo preparadas para bater o pé às seleções mais fortes do continente? Depois de um arranque promissor, com um empate caseiro frente à Inglaterra e uma vitória na Bélgica, a equipa de Francisco Neto sofreu quatro derrotas consecutivas – 20 golos sofridos e apenas três marcados – e acabou por descer à Liga B.

Estes resultados não deixam de refletir também a ausência de algumas das principais figuras da equipa: desde logo Kika Nazareth (Barcelona), que sofreu uma lesão grave em março; Lúcia Alves (Benfica), que perdeu mais de metade da época devido a problemas físicos, ou Jéssica Silva (Gotham FC), até um problema ocular teve. Estão todas na convocatória, mas veremos em que condição chegam ao torneio.

«Não estamos no ciclo onde queremos estar, onde merecemos estar e para o qual trabalhamos para estar. Não há outro caminho que não seja o do trabalho e da seriedade. Nem sempre quando ganhamos está tudo bem; nem sempre quando perdemos está tudo errado. São momentos difíceis para todos porque as Navegadoras habituaram-nos ao sucesso», disse Francisco Neto, empenhado em deixar outra imagem no Europeu.

Selecionador: Francisco Neto

Tem apenas 43 anos de idade, mas já está no cargo há mais de uma década. Começou em 2014, quando Portugal ocupava o 43.º lugar do ranking da FIFA, e vê agora a equipa na 22.ª posição da tabela, após participações históricas em Campeonatos do Mundo e da Europa (vem aí o terceiro seguido).  

Tem mérito indiscutível na evolução do futebol feminino português, tendo em conta os resultados que aliou à aposta da própria federação, mas também por valorizar o trabalho dos clubes. Conseguiu isso com um núcleo de jogadoras muito estável e coeso, embora sempre atento às jovens jogadoras que foram aparecendo. 

Esse legado já ninguém lhe tira, mas os últimos resultados podem ser indicadores de um fim de ciclo, até pela longevidade no cargo. O Euro dirá se Francisco Neto ainda é o técnico indicado para elevar Portugal a outros patamares, ou se está na altura de dar um abanão à equipa. «Odesenvolvimento do futebol feminino português é muito mais do que a Liga das Nações», avisou. 

Estrela: Kika Nazareth

A referência de uma nova era no futebol feminino português. De uma realidade mais profissional, mais competitiva, mais capaz. Mais cativante. Até já existem crianças em Portugal que recebem o seu nome ao nascer, como A BOLA já revelou. Não foi a primeira portuguesa a chegar a um clube de topo do futebol europeu – outras colegas de seleção jogaram no Barcelona, de resto -, mas agora o contexto é outro, até a nível financeiro. O Benfica recebeu 500 mil euros pela venda de Kika, que conquistou a Catalunha com a sua alegria, o seu sorriso e, acima de tudo, com a sua qualidade futebolísticas. Se a lesão grave sofrida em março colocou em causa a presença no Europeu, a sua inclusão na lista, mesmo em má condição física, pode servir de motivação extra ao grupo de trabalho. «Mas espera-me: 
pois por mais longos que sejam os caminhos, eu regresso», escreveu nas redes sociais após a lesão, citando um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen. 

A ter em conta: Andreia Jacinto

Falhou o Europeu de 2022 devido a lesão, mas agora promete ser peça fundamental na estratégia das Navegadoras, depois de mais uma temporada de grande nível em Espanha, ao serviço da Real Sociedad.

Nem parece ter 23 anos, tal o número de internacionalizações que já soma - chega ao torneio com 52 -, e tal a maturidade que revela, dentro e fora de campo. É caso para dizer que é o relógio suíço da equipa, tendo em conta a inteligência com que lê o jogo e a perspicácia com que gere os ritmos do jogo.

Onze-base (3x5x2)

Inês Pereira (Patrícia Morais); Ana Borges, Carole Costa, Diana Gomes; Catarina Amado, Andreia Jacinto, Tatiana Pinto, Joana Marchão; Andreia Norton (Kika); Jéssica Silva e Diana Silva  

Objetivo realista

Passar a fase de grupos pela primeira vez numa fase final