“Not Buying Players” é o subtítulo de um dos capítulos do livro How to Win the Premier League, escrito por Ian Graham, antigo analista do Liverpool FC. Nesse capítulo, Graham defende que nem sempre é necessário recorrer ao mercado de transferências. Para contratar, é preciso ter um elevado grau de certeza sobre aquilo que um jogador pode oferecer ao clube — não só desportivamente, mas também do ponto de vista financeiro.

Ora, um clube que durante anos seguiu exatamente o caminho oposto foi o PSG. Impulsionado pela obsessão de conquistar a Liga dos Campeões, o PSG mergulhou repetidamente no mercado à procura de estrelas. Messi, Neymar, Ramos, Donnarumma, Mbappé. Mas essa abordagem trouxe retorno? Segundo os objetivos definidos pelo próprio clube, a resposta é não.

Essa estratégia revelou-se dispendiosa e, em muitos momentos, mal calibrada. Não considerava os equilíbrios do balneário, os egos dos jogadores nem a sustentabilidade de um projeto a longo prazo. Os plantéis eram quase sempre montados com uma lógica de curto prazo e, perante o insucesso, entrava-se num círculo vicioso de mudanças constantes — com prejuízos tanto desportivos como financeiros.

As chegadas de Luís Campos, em 2022, como diretor-desportivo, e de Luis Enrique, em 2023, como treinador principal, marcaram o início de uma nova era. O recrutamento passou a ser mais estratégico, focado em posições carenciadas e, sobretudo, orientado para jogadores jovens com potencial de crescimento dentro do contexto competitivo do clube. A mudança refletiu-se de forma clara na composição do plantel: em 2024/25, o PSG era o segundo plantel mais jovem da Ligue 1.

Essa nova abordagem não só estabilizou o projeto do PSG como trouxe, finalmente, os resultados desejados. Em 2025, o PSG conquistou a sua primeira Liga dos Campeões — com uma equipa mais coesa, funcional e adaptada à ideia de jogo de Luis Enrique. Um futebol arrojado, dominante, baseado na posse e em transições rápidas, que exige jogadores taticamente evoluídos e fisicamente disponíveis.

A percentagem de minutos jogados por idade é reveladora da qualidade da gestão: jovens como Zaire-Emery, Barcola, Nuno Mendes, Pacho, João Neves e Doué jogaram mais de 50% dos minutos disponíveis. Estes dados mostram não só a confiança do treinador, mas também a importância de apostar em jovens que além de qualidade, trazem energia constante.

Do lado dos mais experientes, Marquinhos e Fabián Ruiz continuam a ser peças fundamentais no PSG, com tempo de jogo elevado e consistência ao longo da temporada. A diferença está na complementaridade entre gerações, e não na dependência de um núcleo restrito de estrelas.

O equilíbrio estende-se também à atuação no mercado de transferências. Ao contrário de épocas anteriores, o início da janela de verão do PSG tem sido marcado por tranquilidade. Poucos rumores, poucas movimentações — com exceção da possível chegada de um defesa central, (Illya Zabarnyi de 22 anos) posição onde a idade média do setor que conta com Marquinhos, Lucas Hernández, Skriniar (que não conta para o treinador) e Kimpembe começa a justificar uma renovação.

A verdade é que o PSG já tem, dentro de portas, um dos plantéis mais completos e equilibrados da Europa. O desafio agora não é comprar mais — é consolidar o que já existe.

Como Ian Graham defende, construir uma equipa campeã não depende de gastar mais — depende de gastar melhor.
E, por vezes, a decisão mais ambiciosa é mesmo não comprar.