
Ela e a bola. A bola e ela. Demora o tempo que a sua precisão achar correto para iniciar a passada. O silêncio parece cúmplice durante a demora. Quase que não é preciso microfone para ouvir o palpitar do seu coração. Remata e marca.
Carole Costa tem estado nesta situação vezes sem conta. O acaso nunca a tranquiliza, colocando-a sempre junto daquele ponto à deriva na área quando os indecisos são incapazes de dar um destino às coisas. Desta vez, era a Taça da Liga que estava encrencada.
Os seus músculos recordaram-se do penálti que marcou para qualificar a seleção nacional para o Mundial, dos dois penáltis que marcou na última jornada do campeonato passado quando o Benfica precisava de ganhar ao Racing Power para terminar no primeiro lugar e dos enésimos casos com que já se confrontou. As roldanas do seu corpo terão pensado que não era difícil repeti-lo em Leiria, na final da Taça da Liga, e derrotar o Sporting (2-1) com um golo aos 88 minutos.
Para Carole, mais um penálti decisivo. Para o Benfica, a quinta vitória na competição.
Tudo começou com a passada larga da esguia Brittany Raphino que come metros com voracidade. Christy Ucheibe tentou por duas vezes encostar-lhe o corpo para que a avançada não virasse. A norte-americana foi ágil a contornar o obstáculo e aproximou o Sporting do golo desde o primeiro instante.
O Benfica começou o jogo sem saber dizer o seu nome e idade. Numa outra faísca desse problema, Ucheibe errou um passe para depois ter que perseguir Diana Silva até à baliza. Não teve sucesso e as encarnadas ficaram em desvantagem.
Em abono da verdade, jogar na relva do Estádio Municipal de Leiria durante sensivelmente os primeiros 20 minutos de jogo não foi fácil para ninguém. A equipa com bola tinha dois adversários, as jogadoras que equipavam de forma diferente e o tapete seco. Obrigado à chuva que mudou as coisas.
Aproveitando a melhoria das condições, o Sporting de Micael Sequeira mostrou capacidade para prolongar os ataques e controlar o jogo com bola. Maiara Niehues deu substância e Brenda Pérez coloriu o meio-campo. Muitas vezes, Diana Silva juntou-se à dupla, demonstrando um alargamento de competências para quem a toma apenas como velocista. O espaço nas costas de Raphino foi dividido com Cláudia Neto.
Para Filipa Patão constituía um problema ver a goleadora implacável Cristina Martín-Prieto a tantos metros da baliza. No entanto, Lúcia Alves equilibrava o humor da treinadora, deslocando-se num ápice de um lado ao outro do campo. A determinado momento, começou a ser ceifada quando se adivinhava poder estar na iminência de mostrar às defesas mais uma vistosa forma de passar por elas.
A igualdade chegou quando o Sporting não foi capaz de equiparar a qualidade ofensiva à defensiva. Anna Gasper bateu o canto e o Benfica conseguiu ter espaço para trocar passes de cabeça até chegar ao golo. Nycole impediu que a bola saísse e Laís Araújo fez o 1-1.
Mais tarde, após uma atitude igualmente passiva de Jacynta Gala, que não aliviou e perdeu a bola numa zona perigosa, Marie Alidou podia ter conseguido a reviravolta no imediato. Era o reflexo de uma segunda parte em que o Benfica começou a ser mais efetivo ofensivamente com melhorias substanciais em termos de circulação e a depender menos das iniciativas individuais de Lúcia Alves.
Nenhuma das equipas se podia queixar da falta de espaço. Podiam sim lamentar-se da ausência de um génio da lâmpada que, com ele, fizesse a magia acontecer. O Benfica passou a investir mais no corredor direito na segunda parte, carregando sobre o elo mais fraco da defesa leonina, Jacynta Gala. Carole Costa suplantava as subidas de Catarina Amado que acabou por ser pisada dentro da grande área pela australiana a escassos minutos do final. O empate tocou à campainha, mas enganou-se na porta.