Sam Ruthe parece exatamente aquilo que é, um adolescente. Mas não faz exatamente aquilo que é suposto. Há acne a pintalgar-lhe a cara quando fala com os jornalistas. Algo tímido, não alonga as respostas, porém é suficiente para concluir que a respiração permanece normalizada. Nem parece que acabou de fazer tal coisa.

A tal coisa é correr uma milha em menos de quatros minutos, marca que se pensava incompatível com os seus 15 anos. Foi a primeira vez que alguém o conseguiu fazer tão precocemente. Especificando, Sam Ruthe cruzou a meta 3:58.35 depois de ter partido. Como a dificuldade de certos feitos apenas se revela quando comparada com a de outros, o fenómeno Jakob Ingebrigtsen, duas vezes campeão olímpico (1.500 e 5.000 metros), só o conseguiu fazer com 16 anos (3:58.07).

Introvertido, disse à comunicação social presente em Auckland, na Nova Zelândia, que o momento de voltar à escola, em Tauranga, ia ser “muito assustador” por toda a atenção que adivinhava receber. A probabilidade de os colegas terem visto o que fez era elevada.

Sam Ruthe era o mais novo e o mais alto do trio que discutiu a vitória. As pernas compridas estavam soltas. Vestia-se com calções curtos e manga cava para que os músculos não tivessem a mínima hipótese de culparem a roupa pela eventual falta de desenvoltura. Sam Tanner, atleta olímpico, colega de treino e vencedor da corrida, marcou o ritmo nos metros finais, olhando para o lado para perceber se Ruthe o acompanhava. Quando assegurou o primeiro lugar, Tanner levantou os braços. Mais do que a comemorar o triunfo, estava a comemorar o recorde do compatriota.

Phil Walter

Craig Kirkwood é o treinador de ambos e considera que Sam Ruthe tem um “dom genético”. Está à vista: o pai foi recordista neozelandês nos 800 e nos 1.000 metros, a mãe foi campeã nacional de corta-mato e a avó ganhou uma medalha de ouro nos Jogos da Commonwealth Games (800 metros).

“Ele tem um temperamento muito bom. Não fica intimidado ou muito entusiasmado. Simplesmente assume a pressão”, conclui o técnico que não se sente tentado a acelerar o crescimento do prodígio que tem em mãos. “É muito importante manter o treino apropriado à sua idade.” Por agora, não faz mais do que 60 quilómetros por semana. A escola preenche-lhe um número considerável de horas, tempo que podia ser utilizado para fazer estágios de altitude e sobrecarregar-se com 150 quilómetros por semana, como os atletas de alto nível que se preparam para provas de meio-fundo.

Ben Ruthe, conhecedor das mezinhas do rendimento desportivo, vê no filho algo mais do que talento, “outras peças” que se encaixam no que lhe é inato. São elas: “um ótimo treinador, um ótimo grupo de colegas, boas refeições e uma boa cama para dormir”.

A preparação passa agora a estar direcionada para afrontar outra marca. Alcançado um objetivo, o próximo é superar os 3:55.40. É aí que está fixado o recorde do mundo da milha para atletas com 16 anos, idade que Sam Ruthe vai atingir a 12 de abril.

O jovem kiwi detém dois títulos nacionais (absolutos), nos 3.000 e nos 1.500 metros. Neste segundo caso, partilhou o primeiro lugar com Sam Tanner. Por mais invulgar que seja, nem o photo finish os conseguiu desempatar (3:44.31).