
— Foi muito difícil ganhar o troféu deste ano?
— Para ser sincero, foi muito, muito difícil. Esta temporada foi diferente. Acho que em toda a minha carreira, nunca tive uma época assim. Com muitas lesões, somos 14 jogadores na equipa e tivemos pelo menos 11 ou 12 lesões! E lesões, às vezes, muito complicadas, com jogadores que ficaram fora dois ou três meses. Nunca tínhamos um treino com a equipa completa. É muito difícil competir assim, mostrar um bom basquetebol. Lembro-me que a meio da época houve treinos com seis jogadores! Assim, é muito complicado até criar química entre os jogadores. Contudo, acabámos por usar isso como motivação e a ideia era não vamos perder nenhum jogo! Além disso, acho que houve muita pressão sobre a equipa. Algumas pessoas a dizer que a equipa estava velha, a falar mal da equipa técnica, dos treinos, da forma como preparámos a temporada… Era um grande objetivo lutar por este campeonato porque sabemos o quão duro foi e o quanto nos sacrificámos. No fim ganhámos porque merecemos, por todos os sacrifícios que fizemos como equipa.
— Sentiu diretamente essas criticas, por ser um dos jogadores mais velhos e não ter tido uma época sempre em alta?
— É normal porque a equipa tem muitos jogadores experientes, e nos momentos difíceis, como na final do campeonato, mostrámos que, às vezes, precisamos desses atletas experientes. O Benfica precisa de pensar no futuro, de ter jovens para trazer energia, mas não se pode construir uma equipa só com jovens, porque na vida precisamos de alguma experiência, porque a equipa vai passar por maus momentos e se tivermos uma boa combinação entre jogadores mais velhos, experientes, jovens e bons estrangeiros é o segredo. É por isso que ganhamos há quatro épocas. E a equipa técnica sabe lidar com isso, é como se estivessem a fazer uma refeição em que sabem como e quando colocar os ingredientes.
— Quarto ano no Benfica e em todos foi campeão, é um sortudo.
— Acho que sim [risos]. É muito difícil manter a mesma motivação. Não é fácil ganhar quatro campeonatos seguidos e todas as equipas querem ganhar ao Benfica. Não é fácil manter a mesma mentalidade, a mesma atitude, todos os anos. Estamos aqui para ser campeões! Há sempre gente motivada que chega de novo, mas em alguns clubes se ganhas uma, duas vezes e depois perdes dizem ‘Ok’. Mas no Benfica não é assim. Não há essa mentalidade, ainda mais este ano em que tiveram uma temporada difícil, sem ganhar, em várias modalidades, a pressão é ainda maior. O hóquei perdeu, o andebol perdeu, o voleibol perdeu… e estamos aqui todos, todos os dias. Dizem ‘estamos à espera do basquetebol’. Quando toda a gente está a ganhar é bom, competimos com eles, queremos ser campeões, como no hóquei, no andebol ou no voleibol, mas quando começam a perder… Esta época, no nosso balneário, tivemos muita pressão por causa disso. O Benfica é um grande clube, os adeptos estão sempre a pedir um troféu. E não se pode ter troféus todos os anos em todas as modalidades. Sei que isso mostra o quanto os adeptos amam o Benfica, e isso empurra-te, mas quando as coisas correm mal… Isto é desporto, não é uma ciência. Tentamos fazer o melhor, mas, no fim, pode não acontecer.
— Foi a época mais difícil desde que aqui chegou?
— Sim, por causa das lesões, da pressão.
— E a melhor qual foi?
— Para mim, as quatro foram boas. Se estou a ganhar, então foi bom, mas cada campeonato é uma sensação diferente. Esta temporada foi muito difícil, ao nível das emoções. Sou o capitão preciso de estar aqui todos os dias para os jogadores, tenho de falar, preciso de motivar jogadores, é um trabalho mental e são 14 jogadores, cada um com o seu feitio, o seu caráter, com os seus problemas. Às vezes acho que sou irritante. Estou sempre lá para falar, antes do jogo, depois do jogo, nos treinos, fora dos treinos. É muita pressão para mim também, às vezes também estou cansado, mas tenho de fazê-lo porque nós precisamos estar juntos nos momentos maus, como quando perdemos a Taça e a Supertaça. Foi difícil, mas estou muito feliz com a liberdade que a equipa técnica me dá.
— E como foi a festa?
— Esta época não festejámos como queríamos, porque estávamos no Porto, há pessoas que tinham de estar com as famílias e outros tratarem de lesões. Acabou o jogo, abraçámo-nos, celebramos e fomos para casa.
— A Liga dos Campeões é algo que pode motivar uma equipa que ganha sempre internamente?
— Há uma grande diferença entre a Liga portuguesa e a Champions. A equipa contra a qual estamos a competir tem um budget maior do que o do Benfica e muitos jogadores, muitos estrangeiros. Jogamos com equipas que têm 6 ou 7 estrangeiros. E, claro, o nível dos jogadores é completamente diferente. Se o Benfica quer ir longe na Liga dos Campeões precisa de ter a mesma estratégia. Estou muito orgulhoso de estar na Champions, já nos respeitam porque fizemos jogos muito difíceis e derrotamos o Maresa, o Limoges, uma equipa turca. O problema é que não temos o hábito de jogar dois jogos seguidos, com jogadores lesionados. A melhor parte da Liga dos Campeões é ver o nosso nível, quando vencemos uma equipa destas, metemos na cabeça que podemos derrotar qualquer equipa em Portugal, porque você já vencemos uma equipa melhor. Para o ano estamos qualificados diretamente e isso é bom, mas precisamos de trabalhar mais.
— O que espera da próxima época?
— Menos lesões, jogadores com a mesma atitude, raiva, que lutam pela camisola, não pelas estatísticas, que não pensam no futuro individualmente. O compromisso dos jogadores é muito importante numa equipa como o Benfica. Temos de pensar em ganhar tudo. O meu objetivo como jogador é ganhar quatro troféus e é muito difícil manter isso no coração do jogador. Ser campeão, estar lá todos os dias, competir, tentar ter a motivação, ganhar tudo, não é fácil. No início dissemos que íamos tentar ganhar sem perder nenhum jogo. No final perdemos dois jogos com o Porto. Mas tentamos encontrar motivação em qualquer lugar. Com todo o meu respeito, porque temos equipas muito boas na Liga, pessoas que estão a fazer bom trabalho, no FC Porto, no Sporting, Oliveirense, Ovarense, etc e que têm as suas próprias motivações.
— Vencer o Benfica?
— Sim. Por isso, é muito difícil manter a mentalidade. Mas penso que aqui, a nossa direção e os nossos jogadores, temos a mentalidade de lutar e competir todos os anos com a mesma mentalidade.