
Tadej Pogacar é o candidato mais forte a vencer a Volta a França. O esloveno, campeão mundial de fundo, e considerado por muitos o melhor corredor do mundo, chega com os índices de favoritismo nos píncaros na sequência de uma temporada e meia (a anterior e a que já foi cumprida desta) de hegemonia, em que ganhou a esmagadora maioria das corridas. Vencedor por larga vantagem em 2024 - 6.14 minutos sobre o segundo classificado e maior rival nas últimas três edições, e que nesta se repete, Jonas Vingegaard -, o líder da UAE Emirates parte com ascendente inequívoco sobre o dinamarquês.
Desde logo, a superioridade no mais recente duelo e o único entre ambos, no Critério do Dauphiné (em meados de junho), ainda que relativizado por constituir, tão-só, um ensaio geral para o Tour. Pogacar bateu claramente Vingegaard na montanha, apenas perdendo no contrarrelógio, a única e estranha debilidade revelada pelo esloveno, porque incomum. No resto, uma época de 2025 quase perfeita, a que faltou as ambicionadas vitórias na Milão-Sanremo (que persegue ainda sem êxito) e na Paris-Roubaix, em que se estreou, ambas batido por Mathieu van der Poel.
Pogacar faz-se acompanhar de uma equipa de luxo, da sua confiança e reunida em torno do líder com propósito único assumido de o levar ao tetra. João Almeida e Adam Yates, como escudeiros na alta montanha, Pavel Sivakov, Marc Soler, Jhonatan Narvaez para o trabalho intermédio, e ainda Tim Wellens e Nils Pollit, duas versáteis locomotivas.
Com maior ou menor dificuldade, a revalidação do título no Tour por Pogacar, igualando os quatro triunfos do britânico Chris Froome e a apenas um dos recordistas Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain, parece ser o desfecho mais previsível da grande Volta francesa, o que, tão ou mais provável, também só Jonas Vingegaard poderá impedir.
O líder da não menos poderosa (do que a UAE Emirates) Visma-Lease a Bike, pelo historial mais recente do Tour, é a principal ameaça a Pogacar, que já derrotou em 2022 e 2023, este último ano, quando o esloveno se apresentou curto de forma devido a longa ausência por lesão. Ainda em piores condições esteve Vingegaard na edição de 2024, na sequência da grave queda sofrida na Volta ao País Basco, pelo que é plausível considerar-se que as desigualdades registadas entre os arquirrivais nos dois Tour mais recentes não refletiam efetiva relação de forças.
No entanto, também esta temporada não foi normal para Vingegaard, que foi forçado a parar de competir durante mais de três meses, desde a concussão sofrida numa queda na Paris-Nice (13 de fevereiro) até ao Dauphiné (8 de junho), depois de ter iniciado a época com uma vitória difícil na Volta ao Algarve, batendo João Almeida no contrarrelógio final no Malhão.
Vingegaard não facilita e arregimentou os melhores da sua equipa para o auxiliar na complicada missão de bater Pogacar. Não faltam no octeto da Visma, os norte-amricanos Matteo Jorgenson, estrela em ascensão, e Sepp Kuss, considerado por muitos o melhor gregário de montanha (estando em forma...) e o belga Wout van Aert, um todo-o-terreno que é mais-valia inquantificável, como se viu ainda no recente Giro, na etapa em que possibilitou ao seu companheiro de equipa Simon Yates conquistar a camisola rosa definitiva. Este britânico, certamente motivado pelo emocionante triunfo na grande Volta italiana, também não falta à chamada, em que todos são poucos para derrotar Tadej Pogacar.
Os 'outsiders'
Além de Tadej Pogacar e de Jonas Vingegaard, quais são os demais pretendentes à camisola amarela em Paris. Excluindo-se João Almeida, porque tem as ambições secundarizadas pelo serviço ao líder esloveno, só a este devendo sobressair numa situação imprevista (por exemplo, acidente), Remco Evenepoel e Primoz Roglic tentarão ser sombra do previsto duo inalcançável Pogi-Vinge.
O esloveno da Red Bull-Bora-hansgrohe fez um promissor início de temporada, conquistando com brilhantismo a Volta à Catalunha sobre o espanhol Juan Ayuso (UAE Emirates), mas abandonou o Giro, devido a enésima queda nos anos mais recentes, incluindo no Tour, cujas três edições últimas em que participou não terminou devido a acidente (desde 2020, ano da sua melhor classificação, segundo, e a que esteve mais perto, superado por então jovem Pocagar na penúltima etapa, e com exceção de 2023 em que não participou).
Remco Evenepoel manifestou-se contido nas ambições, restringindo-as ao pódio e a vitória num contrarrelógio - «igualando, pelo menos, o resultado de 2024» -, porque reconhece incapacidade, persistente, de estar o mesmo nível de Pogacar e Vingegaard na alta montanha, onde não tem sequer uma equipa à altura, devido à ausência do lesionado Mikel Landa (5.º classificado em 2024).
Numa edição com várias baixas importantes, como as de Richard Carapaz (EF Education-EasyPost), Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek) ou David Gaudu (Groupama-FDJ), Ben O’Connor (Jayco AlUla), Enric Mas (Movistar), Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale) ou o promissor Lenny Martinez (Bahrain Victorious) são os mais bem cotados à partida para a batalha pelos restantes lugares disponíveis do top-10.
Antes de ser conhecido o sucessor de Pogacar no palmarés dos vencedores e de uma última semana decisiva nos Alpes, os homens mais rápidos terão a sua oportunidade, com ansiado duelo entre Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck), Jonathan Milan (Lidl-Trek) e Tim Merlier (Soudal Quick-Step) em estreia na Grande Boucle pelo título de melhor sprinter do mundo.