O numerário está "sob ataque" e têm sido criadas "dificuldades crescentes" às empresas – nomeadamente as micro e pequenas – relativamente à circulação de dinheiro, empurrando quer estas quer os consumidores para os pagamentos eletrónicos, o que resulta em aumento de custos "impostos pelos bancos, de dificuldade no depósito, custos nas moedas e na obtenção, por exemplo, de trocos". O alerta é lançado por Vasco de Mello, vice-presidente da Confederação de Comércio e Serviços de Portugal, que lembra a "dificuldade que é hoje para muitos comerciantes obter trocos". "Os bancos já não processam isso. Porque por um lado não querem ter trocos e por outro lado também não querem receber trocos, portanto estamos aqui num problema que afeta o comércio de proximidade", afirmou o responsável na primeira Talk Denária Portugal, que se realizou hoje para chamar a atenção para a importância do dinheiro em cash.

Lembrando que o numerário é "o único meio sem custos para o comércio local e deve ser defendido enquanto meio de pagamento universal", o representante da CCP e a presidente da União de de Associações do Comércio e Serviços de Lisboa, Carla Salsinha, destacaram "o agravamento de custos para o pequeno comércio, decorrentes de uma eventual obrigatoriedade de pagamentos eletrónicos, bem como a urgência da definição de um quadro sancionatório para quem recusa pagamentos em numerário".

"Cerca de 90% dos associados da ACSL são micro e pequenas empresas, onde trabalham duas ou três pessoas e que são carregadas com os custos de pagamentos eletrónicos/digitais, mesmo porque têm pouca capacidade negocial com a banca", vinca Salsinha. "O numerário não tem custos para estes comerciantes, já os métodos de pagamento eletrónicos implicam a aquisição do Terminal de Pagamento Automático (TPA) junto do banco, depois o pagamento de uma percentagem por cada transação ao final do dia e se um valor pré-estabelecido de transações com TPA não for atingido será ainda necessário pagar um valor à UNICRE", elenca ainda.

Mais longe vai Mário Frota, pondo a questão do lado do consumidor. "Quando não pode pagar uma dada importância em numerário, que é o meio de pagamento com curso legal, está-lhe a ser vedado um dos caminhos da cidadania", resume o Mandatário da Denária Portugal, sublinhando ainda que o Banco de Portugal devia ter um papel mais ativo na garantia do cumprimento da lei. "Infelizmente, em Portugal não temos uma sanção direta, mas o supervisor podia garantir o acesso a este direito, perante qualquer denúncia feito no livro de reclamações, autuando quem desobedecesse às normas em vigor."