
O empresário e chef de cozinha angolano, Helt Araújo, criou em 2024 a fundação Ovina Yetu, um projecto que nasce de um sonho, com o propósito de procurar conhecimento sobre a gastronomia angolana.
A fundação resgata produtos típicos, técnicas, tradições e outros saberes ancestrais que sobrevivem silenciosos por Angola, sem registo e nem divulgação para depois promover e reinventar, devolvendo a sua importância ao mundo actual.
O objectivo do projecto é criar uma base de dados dedicada à extraordinária história da gastronomia angolana e oferecer ao público amante da gastronomia.
Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, Helt Araújo explicou que a fundação dá oportunidade de conhecer a vasta riqueza dos produtos alimentares do país, pretendendo valorizar e divulgar ingredientes que, apesar da sua diversidade, ainda não estão ao alcance de todos.
“A fundação Ovina Yeto é o que nós chamamos que é a nossa origem, a nossa identidade porque é uma fundação que retrata e tenta trazer o resgate da história de Angola através da alimentação, sabermos quem nós somos como um povo através do nosso processo DNA gastronómico, da aonde veio o calulu, a muamba, as nossas origens e influências”, disse Helt Araújo.
Segundo o chef de cozinha, a Ovina Yetu procura pesquisar por referências sobre a desconhecida gastronomia angolana, produtos, técnicas e outros saberes, alinhada com a preocupação de ter uma cozinha e um mundo mais justos pela preservação da biodiversidade e da diversidade sócio-cultural.
No entanto, o empresário referiu que a fundação surgiu para investigar e trazer respostas sobre as origens gastronómicas.
“Por isto, temos esta fundação que é uma fundação sem fins lucrativos e que faz todo este projecto de investigação sobre alimentação de Angola”, justificou.
A grande missão do projecto, detalhou, é valorizar os produtos locais, promover, fortalecer produtores que utilizam metodologias produtivas mais sustentáveis e proporcionar o desenvolvimento de um ecossistema nacional sólido transversal aos diferentes players da indústria, assim como poder ensinar às pessoas novas formas de cozinhar e de usar os produtos locais.
Actualmente, realçou que a fundação conta com uma equipa de 10 investigadores que trabalham integralmente no projecto e que estão a construir a base de dados de levantamento daquilo que é Angola em termos de produtos.
Helt Araújo ressaltou que a fundação fez um trabalho de levantamento de estudo de arte sobre 11 províncias do país, nomeadamente, Luanda, Cunene, Moxico, Huíla, Huambo, Benguela, Malanje, Cuanza-Sul, Cabinda, Bié Namibe e que conseguiram identificar o potencial de produtos, como os proteicos, insectos, ervas, frutas, frutos do mar e tudo que é comestível. E, com isto, obtiveram uma base de catalogação de 3.500 produtos.
“Hoje podemos dizer que conseguimos catalogar entre a média de 3 mil a 3.500 produtos e estamos a preparar esta base de dados para que esteja disponível no nosso website para que qualquer pessoa possa perceber o que estamos a falar e a trazer”, referiu o chef de cozinha.
O projecto Ovina Yeto, assegurou, não quer trazer apenas produtos e histórias, mas também quer fazer parte da educação, formação e de mostrar um novo caminho da gastronomia angolana.
A fundação, explicou o responsável, tem duas equipas de trabalho, uma que faz todo o trabalho da gestão da base de dados e outra que é a do campo que faz a recolha para auferir o que foi dito na base de dados e se corresponde realmente no trabalho de campo.
“Tivemos a primazia de lançar as primeiras exposições o ano passado, que foi as posições piloto. E estamos a ver se todos os anos fazemos entre cinco ou seis exposições, em que a equipa de campo e a equipa de investigação possam verificar o processo produtivo daquilo que está escrito”, disse.
O empresário frisou que muito deste acervo da base de dados de estudo foi uma conjunção entre literatura, não só local, mas também internacional.