Em 2024, o investimento em capital de risco em Portugal representava 6,8 pontos base do PIB (ou seja, 0,068%). Este valor está abaixo da média da União Europeia, que é de 13,2 pontos base (0,132%) e aquém de países concorrentes como Espanha ou a Estónia.

“A escassez deste tipo de financiamento limita a capacidade das empresas portuguesas de inovar, de criar modelos de negócio disruptivos e de escalar globalmente. A comparação com os Estados Unidos, onde o investimento total em capital de risco é 16,9 vezes superior à de Portugal, evidencia ainda mais esta fragilidade”, refere a Associação Business Roundtable Portugal (BRP), que apresenta nesta segunda-feira o 3.º Snapshot Comparar para Crescer, onde alerta para a necessidade de se aumentar o investimento público e privado para promover o desenvolvimento económico.

A Associação sustenta que o investimento em inovação fomenta o crescimento económico e o aumento da produtividade e que o capital de risco “desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de um ecossistema de inovação dinâmico”, financiando empresas em fases iniciais de crescimento e com potencial tecnológico que muitas vezes não têm acesso a financiamento bancário tradicional.

Destaca também que Portugal precisa de corrigir o “enorme diferencial de investimento produtivo” para impulsionar o crescimento económico. Portugal investiu nos últimos 15 anos sistematicamente abaixo da União Europeia (UE), sendo que esse diferencial equivale a mais de 40% do PIB português.

Comparar para compreender

O “Comparar para Crescer” analisa a competitividade nacional em diversos prismas e em comparação com os denominados “países concorrentes”, ou seja, oito economias da União Europeia (Espanha, Eslovénia, Estónia, Grécia, Hungria, Itália, Polónia e República Checa) que no ano 2000 apresentavam um PIB per capita nominal próximo do de Portugal.

Segundo a análise do BRP, em 2024, o investimento privado em Portugal correspondeu a cerca de 16% do PIB, constituindo o quarto nível de investimento mais baixo neste grupo e dois pontos percentuais abaixo da média da União Europeia.

No mesmo ano, a análise do BRP concluiu que o investimento público português representou apenas 3% do PIB, atrás da Estónia (7,3%), da Eslovénia (5,2%) e da Polónia (5%), tendo o nível mais baixo do grupo dos “Países Concorrentes” a par de Espanha.

No documento, o BRP realça que “é urgente realizar mais investimento produtivo em Portugal, privado e público, para acelerar o crescimento económico do país, para aumentar a produtividade e a inovação, para que Portugal se posicione de forma distintiva na transição tecnológica e na transição energética”.

O peso fiscal

O relatório analisa também o impacto do talento, do investimento e da colaboração no ecossistema de inovação. E evidencia a necessidade de desburocratização e de redução do garrote fiscal (tax wedge) sobre os rendimentos do trabalho para a atração e retenção de talento.

Numa abordagem mais alargada sobre o impacto da carga fiscal sobre o trabalho na competitividade da economia e sobre a capacidade de o país reter e atrair talento qualificado, esta edição do “Comparar para Crescer” conclui que, se Portugal tivesse uma taxa de tributação sobre o trabalho ajustada ao seu nível de rendimento médio na OCDE, o garrote fiscal ficaria nos 30,7%, isto é, menos 11,6 pontos percentuais face à realidade (42,3%).

Mesmo comparando com os países concorrentes, como a Polónia (34,3%) e a Grécia (38,5%), a diferença “é muito significativa”, levando a que em Portugal, para um salário equivalente, os trabalhadores levem para casa um valor menor. O Estado Português fica com uma parte maior a seu cargo.

O relatório refere que o efeito deste garrote fiscal é ainda mais evidente no setor das tecnologias de informação e comunicação (TIC), uma das áreas de maior procura global e identificada pelo Relatório Draghi como central para a transformação digital da Europa.

Em Portugal, o salário horário médio neste setor é de 19,1 euros, colocando o país na 21.ª posição entre os países analisados. Este valor está abaixo do praticado em países concorrentes como a Eslovénia (25,8 euros), Estónia (21,1 euros), Itália (25,9 euros) e Chéquia (20,7 euros). Na Alemanha (41,8 euros), que é dos principais destinos da emigração portuguesa, os níveis salariais na área das TIC são mais do dobro do que os praticados em Portugal, o que reduz ainda mais a capacidade de retenção de reter profissionais altamente qualificados.

O BRP aponta ainda armas ao peso da burocracia no país no desenvolvimento económico, apelando a reformas estruturais que simplifiquem processos.