
Carlos Câmara Pestana, antigo presidente do Banco Português do Atlântico (BPA) e do banco brasileiro Itaú, morreu, nesta segunda-feira, aos 93 anos, na sua residência no Estoril.
Câmara Pestana nasceu em Paço d’Arcos, a 27 de julho de 1931, e licenciou-se em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Mas foi a economia, em especial o setor bancário, que arrebatou Carlos Câmara Pestana, que fez uma pós-graduação em Ciências Politico-Económicas.
Entra para o Banco Português do Atlântico (BPA) em 1956 e em 1957, então com 25 anos, é requisitado para o Ministério do Ultramar. É aí que o seu caminho se cruza com o de Marcelo Caetano, que exercia na altura as funções de ministro.
Este encontro será fundamental para, anos mais tarde, Câmara Pestana fazer frente ao capitão da indústria, António Champalimaud, quando este tentou juntar ao seu Banco Pinto & Sottomayor o Banco Português do Atlântico (BPA).
O licenciado em Direito abraça o setor financeiro e percorre todos os degraus do BPA até chegar à presidência do banco nortenho, na altura uma das maiores instituições financeiras em Portugal. É no lugar de presidente que enfrenta Champalimaud na sua ânsia de adquirir o banco. A sua ligação a Marcelo é fundamental para impedir que o negócio se concretize. Câmara Pestana diz ao então Presidente do Conselho que faça um decreto a condicionar o negócio da compra de um banco por outro a uma autorização prévia do governo. O diploma teve efeitos retroativos, uma vez que Champalimaud já tinha pagado a primeira tranche do negócio no valor de um milhão de contos (cerca de 4,9 milhões de euros ao câmbio atual).
Chegada a revolução de 25 de abril e com a nacionalização do setor bancário, Câmara Pestana leva a família para o Brasil e coloca a sua experiência no setor financeiro português ao serviço das instituições brasileiras. No entanto, com um cargo de presidente de banco no currículo, Câmara Pestana tem dificuldade em encontrar trabalho, uma vez que escasseiam as ofertas para cargos subalternos.
Mas é no banco Itaú que o português vai encontrar uma segunda oportunidade. Começa como diretor comercial encarregue de 20 agências. A sua experiência e competências faz com que suba rapidamente na hierarquia do banco. Participa na reestruturação da organização do Grupo Itaú que leva à criação de uma Comissão Executiva.
Nos anos 80 é nomeado diretor de primeira linha e tem que fazer frente ao fenómeno da hiperinflação, adotando uma estratégia que protege os investimentos do banco e os seus acionistas. Em 1989 é convidado para assumir a presidência do Banco Itaú. Aceita na condição de preparar Roberto Setúbal para ser o futuro presidente da instituição. Câmara Pestana é o mentor de Roberto ao fazê-lo entrar para a área comercial do Itaú e levando-o a conhecer todas as áreas do banco. Em 1991 Roberto Setúbal passa a diretor-geral do Itaú e em 1994 o português cumpre a sua palavra e passa a presidência executiva para Roberto, assumindo a liderança do Conselho de Administração até 2009, data em que o Banco Itaú se junta ao Unibanco.
De 2011 a 2015 foi presidente do Conselho de Administração da Itaúsa (a holding do grupo). Regressa a Portugal e compra uma casa no Estoril.
Em declarações ao PT50 Fernando Faria de Oliveira considerou Carlos Câmara Pestana como “um presidente de bancos a imitar”.
“Carlos Câmara Pestana foi um dos mais reputados banqueiros portugueses.
Cumpria a rigor todos os requisitos a que os líderes bancários têm de obedecer: experiência profissional acrescida de um amplo conhecimento do sector bancário; competências técnicas nas áreas da gestão financeira e orçamental, do conhecimento regulatório e do domínio dos sistemas e ferramentas bancários; competências comportamentais e de liderança e gestão de pessoas, grande visão estratégica e forte capacidade de tomada de decisão e de comunicação; foco na relação com clientes e na detecção de oportunidades de negócio”, afirmou ao PT50 o antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Faria de Oliveira acrescenta que Câmara Pestana tinha uma superior visão “na criação de parcerias estratégicas e na orientação para a obtenção de resultados” . “Tinha integridade, um sentido ético extremado e transparência na ação. Carlos da Câmara Pestana foi um dos nossos melhores: um ser simples e de idoneidade máxima , um Homem Bom”, acrescenta.
O antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) presta homenagem a Carlos da Câmara Pestana e presta sinceras condolências à sua família.
Atualizado às 17h03 com declarações de Fernando Faria de Oliveira.