Uma nova análise publicada nesta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE) aponta que o aumento do risco geopolítico tem um impacto negativo na capitalização dos bancos, que pode chegar aos 2,5%.

A análise, realizada pelos economistas Markus Behn, Jan Hannes Lang e Alessio Reghezza, aos últimos 120 anos em 17 países a nível global, mostra que há uma relação negativa estatisticamente significativa entre o índice de risco geopolítico e a relação capital-ativos dos bancos. “A análise de regressão confirma que o risco geopolítico elevado foi associado à menor capitalização bancária ao longo do último século”, concluem os analistas. Em particular, “um aumento de dois desvios-padrão no índice de risco geopolítico foi associado a uma diminuição na relação capital-ativos do banco de cerca de 0,2 pontos percentuais em média. Dada a relação capital-ativos média de cerca de 8%, isso representa uma depleção de capital de 2,5%”, explicam.

Eventos de risco geopolítico dos últimos 40 anos incluem a Guerra do Golfo no início da década de 1990 e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Embora o risco geopolítico tenha sido bastante baixo para os padrões históricos entre 2018 e 2021, a invasão russa da Ucrânia e o conflito em Gaza levaram a picos renovados, refere o BCE.

O impacto pode surgir por via de múltiplos canais económicos e financeiros, incluindo atividade económica reduzida, inflação crescente, risco soberano aumentado e mudanças nos fluxos de capital e preços de ativos. Os autores detalham que eventos de risco geopolítico “podem elevar os preços do petróleo/energia e, assim, aumentar a inflação e as taxas de juros e reduzir a atividade económica. Além disso, grandes interrupções no comércio internacional devido a guerras ou à crescente fragmentação política regional podem reduzir substancialmente o produto interno bruto (PIB) potencial e arrastar para baixo os preços do mercado de ações. Tais desenvolvimentos podem, por sua vez, amplificar as vulnerabilidades existentes de estabilidade financeira ou potencialmente desencadear a materialização de riscos de estabilidade financeira”.

Porém, o impacto do risco geopolítico na solvência bancária não é linear. Estimativas sugerem que apenas crises de larga escala podem representar uma ameaça imediata à estabilidade financeira. “Grandes eventos geopolíticos como as duas guerras mundiais levaram a um declínio estatisticamente significativo na capitalização bancária de 0,53 pontos percentuais, enquanto eventos menos importantes, apesar de também terem um efeito negativo e significativo, resultaram numa contração muito menor de 0,07 pontos percentuais”, referem os economistas. E acrescentam: “Essas descobertas indicam que apenas choques geopolíticos extremos têm o potencial de minar a solvência bancária e a estabilidade financeira diretamente, enquanto eventos mais localizados ou moderados dificilmente levarão os bancos a dificuldades”.

A análise também apurou que o efeito do grande risco geopolítico na capitalização bancária varia entre países, com Bélgica e França a sofrerem maior impacto, Portugal está no nível intermédio e Noruega e Suíça entre os que sofrem menos impacto nesta análise.

Gráfico BCE: Estimativa de impacto do risco geopolítico na capitalização bancária de países

Imagem: BCE

Impacto na política prudencial

O risco geopolítico elevado tem implicações também na política macroprudencial. Os analistas defendem que “como o risco geopolítico é multifacetado, a resposta prudencial também precisa de ser multifacetada”. Defendem, portanto, que reservas de capital macroprudenciais libertáveis “​​são particularmente adequados para lidar com o risco geopolítico no ambiente atual de incerteza elevada. O principal benefício de tais buffers é que que podem ser libertados quando os choques se materializam, o que por sua vez pode ajudar os bancos a absorver perdas, mantendo ao mesmo tempo o fornecimento de serviços financeiros essenciais à economia real”.

O estudo reforça a necessidade de monotorização contínua dos riscos geopolíticos e a sua inclusão nas estratégias de política macroprudencial para garantir a resiliência do setor bancário.