Sintra recebe a partir de hoje (e até ao próximo dia 2 de julho) a nata da finança mundial. Todos os presentes lutam com problemas gravíssimos nas suas áreas de atuação, e todos atuam num cenário de profundas incertezas geopolíticas e económicas. Tudo o que se disser nestes dias em Sintra será um farol pelo qual se guiarão os mercados financeiros nos próximos anos.

O anfitrião, Mário Centeno, tem “guia de marcha” marcado para o dia 19 de julho, altura em que termina o seu mandato à frente do Banco de Portugal. Desconhece-se se o seu provável sucessor estará presente no evento, mas todos os olhares vão procurar Vítor Gaspar, o ex-ministro das Finanças, que é atualmente o diretor do Departamento de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Foto: Vítor Gaspar | FMI

Na assistência, estarão Vítor Constâncio, que tem estado presente em todos os encontros, e talvez Carlos Costa, para além dos vários académicos que normalmente preenchem as cadeiras da Penha Longa.

Questionada pelo PT50, fonte oficial da Presidência da República disse que ainda não existe confirmação oficial da presença de Marcelo Rebelo de Sousa no jantar de hoje, que marca o início do encontro do BCE ,em Sintra, e que terá como anfitriã a própria Lagarde.

Entre os convidados estará Jerome Powell. O presidente da Reserva Federal norte-americana (FED), que entrou em rota de colisão com Donald Trump a propósito do ritmo de descida das taxas de juro, tem vários problemas para gerir, para além das pressões do presidente. A economia dos Estados Unidos contraiu 0,5% no primeiro trimestre do ano e os últimos números do consumo privado dos americanos revelaram uma descida inesperada.

Jerome Powell presidente da FED | Foto: Wikimedia

Trump disse na semana passada que se a FED não fizesse várias descidas nos juros, o presidente chegou a sugerir mais de uma dezena, a substituição de Powell poderia ser antecipada para setembro. Recorde-se que o mandato do presidente da FED só termina em 2026.

Nesta conjuntura de incerteza, só Lagarde permanece imune à dança das cadeiras dos supervisores. Mas a presidente do BCE tem outros assuntos, igualmente graves, entre mãos. O principal será talvez o euro digital. Na passada semana, no Parlamento Europeu, Lagarde lançou um apelo aos deputados e às instituições comunitárias para que se apressem na criação daquele meio de pagamento, que será também uma divisa de reserva para o comércio mundial. Isto numa altura em que a moeda única europeia tem perdido importância para o dólar norte-americano nas transações internacionais.

Outro problema são as criptomoedas que tanto atraem os bancos europeus, mas que tantas dores de cabeça estão a dar ao BCE. Lagarde insiste nos alertas sobre a necessidade de se ponderar a captação e incorporação daqueles ativos digitais nos balanços dos bancos.

Por último, a questão da União Bancária Europeia. Um assunto que está a servir de confronto entre o BCE e a Comissão. O supervisor bancário pressiona para que a questão regulamentar seja acelerada, enquanto o executivo europeu quer que seja o BCE a dar sugestões aos vários países sobre como criar um espaço único de serviços financeiros. Na linha da frente desta discussão está uma portuguesa: Maria Luís Albuquerque, comissária dos Serviços Financeiros, da Poupança e dos Investimentos, tem-se desdobrado em iniciativas para criar a infraestrutura regulamentar que permita transformar as poupanças dos europeus em investimentos nas empresas mas dinâmicas da União.

O painel sobre Política Monetária que amanhã juntará Lagarde, Powell, o governador do Banco de Inglaterra , Andrew Bailey, o governador do Banco Central da Coreia, Chang Yong Rhee, e o governador do Banco Central do Japão, Kazuo Ueda, vai fazer parar o mundo financeiro, com os especialistas a analisarem cada palavra e a entoação com que é dita, de modo a poderem prever o que aí vem.

Outra questão fundamental para o futuro é a que será abordada na quarta-feira: os novos intermediários de crédito, a sua liquidez e a forma como devem ser supervisionados. O vice-presidente do BCE, o espanhol Luis de Guindos, vai juntar-se a uma série de académicos convidados para refletirem sobre este desafio que vai ganhando importância no mundo da finança.

Por tudo isto, o Mundo não tirará os olhos de Sintra nos próximos três dias.