
A marca Street Smash Burgers nasceu da veia empreendedora dos fundadores que pretendiam criar uma hamburgueria afastada da artificialidade das cadeias americanas. Carlos Anton Conde, um dos fundadores da marca, explica em entrevista à Forbes Portugal que a cadeia começou como um projeto pessoal, com uma pequena aposta inicial, mas rapidamente cresceu e que se tornou no centro das suas vidas. O empresário detalha que a carne que utilizam é 100% vaca, sem aditivos, e custa entre 40% e 50% mais do que a da concorrência. Uma aposta essencial para oferecer a melhor qualidade possível e fidelizar o cliente.
O vosso percurso é tudo menos convencional: de profissionais de áreas distintas a empreendedores na restauração. O que vos deu confiança para mudar de setor e apostar num negócio tão exigente como este?
Sim, a Beatriz, minha parceira e sócia, foi engenheira de redes no UBS e hoje lidera o marketing da Street. Eu estudei finanças e fundei há anos uma empresa do setor financeiro na Suíça, além de outros negócios em diferentes países. Este é o nosso primeiro projeto na restauração, embora a gastronomia sempre tenha sido uma paixão partilhada. A Beatriz chegou a gerir uma conta gastronómica com mais de 16 mil seguidores no Instagram, e eu peço comida em casa mais de dez vezes por semana, literalmente. Além disso, a minha família teve restaurantes em Espanha durante mais de 130 anos, embora os últimos tenham encerrado há 10 anos. Sempre senti essa vocação no ADN. A ideia surgiu como um hobby e interesse genuíno no setor. Durante três verões, fizemos road trips de várias semanas pelos EUA, provando todas as cadeias de fast food possíveis, o que, sem dúvida, também ajudou. Adoramos conceitos simples, bem executados, e vimos uma oportunidade para oferecer algo autêntico, com produtos de alta qualidade, mas acessível. Queríamos criar uma hamburgueria afastada da artificialidade das cadeias americanas. Começámos como um projeto pessoal, com uma pequena aposta inicial, mas rapidamente cresceu e tornou-se a nossa vida.
O conceito da Street Smash Burgers baseia-se na simplicidade e na qualidade. Por que seguiram essa abordagem minimalista e como reagiu o público?
Acreditamos que menos é mais, desde que seja executado com perfeição. Começámos com um único hambúrguer porque queríamos focar-nos em torná-lo irrepreensível. Isso permitiu-nos centrar todos os nossos esforços em cada detalhe do produto. Com o tempo, adicionámos algumas opções clássicas, mas continuamos comprometidos com um menu curto e claro. A nossa carne, por exemplo, é 100% vaca, sem aditivos, e custa entre 40% e 50% mais do que a da concorrência. Ainda assim, é essencial para oferecer a melhor qualidade possível e fidelizar o cliente. Isso faz com que o nosso food cost seja alto e as margens mais apertadas, mas é um princípio inegociável para nós. A resposta do público em Portugal tem sido excecional. Os portugueses valorizam a honestidade do produto e a consistência. É essa fidelidade que nos tem impulsionado a crescer. As nossas máximas são essas: manter simples e manter — ou até melhorar — a qualidade.
Em apenas um ano abriram sete restaurantes e já se preparam para Milão e Zurique. Qual é o segredo desse crescimento tão rápido?
Já abrimos sete restaurantes em Portugal e estamos a preparar novas aberturas. Este mês abrimos mais um, e temos várias localizações em desenvolvimento. Em paralelo, estamos a construir quatro restaurantes em Milão e vamos abrir o primeiro em Zurique muito em breve. O segredo? Muito trabalho, foco e uma estrutura financeira bem pensada. A minha experiência em finanças — aliada a uma equipa forte — permitiu-nos tomar decisões ambiciosas, mas sempre controladas. Além disso, assinámos um acordo de exclusividade com a Glovo, o que nos vai permitir escalar ainda mais. Atualmente, somos apenas dois sócios, mas já contamos com uma equipa de mais de 15 pessoas no escritório e uma equipa de operações incrível que nos permite manter a qualidade, mesmo com um ritmo de expansão exigente.
Como escolhem as localizações dos novos espaços? Quais são os critérios mais importantes?
Temos uma equipa de expansão que analisa cada localização, mas eu também visito pessoalmente todos os espaços antes de decidir. Apesar de não ser português, conheço muito bem Lisboa, e noutras cidades gosto de caminhar e conhecê-las com calma para entender bem o espírito e vida de cada bairro. Nem sempre procuramos as ruas principais. O nosso produto tem conseguido atrair clientes mesmo em localizações menos visíveis, o que nos permite otimizar o investimento. Preferimos aplicar esse dinheiro na qualidade do produto e na operação.
Viveram em várias cidades. Como influenciaram essas experiências na visão da Street?
Muito. Vivemos em Madrid, Paris, Londres, Zurique… e viajámos por quase todo o mundo. Mas sem dúvida, os road trips pelos EUA foram determinantes: durante semanas percorremos o país a experimentar hamburguerias e cadeias de fast food de todos os estilos. A Street nasce dessa mistura: há muita inspiração dos EUA e também da Austrália, mas com um toque muito nosso no design, nos processos e na qualidade do produto. Não copiamos fórmulas, reinterpretamo-las à nossa maneira, com um toque mediterrânico de ingredientes naturais e de qualidade, longe do modelo industrial das cadeias.
Como imaginam a Street daqui a cinco anos?
A este ritmo, cinco anos é quase uma eternidade. Mas claro que queremos tornar-nos numa das principais cadeias de hambúrgueres da Europa. Em Portugal vamos continuar a crescer com força, queremos estar em muitas mais cidades até ao final do ano. Em Itália temos quatro aberturas em curso e em Zurique abriremos em breve a primeira loja. A nossa ambição é ser uma referência de “burger joint” na Europa: ou seja, não criar uma cadeia padronizada, mas sim uma rede de hamburguerias de bairro, próximas, com produto de altíssima qualidade, longe de sabores artificiais e açúcares adicionados, como acontece nas cadeias americanas. Queremos escalar, sim, mas sem perder autenticidade.
Como garantem a qualidade com uma expansão tão rápida?
Tudo gira à volta da equipa. Temos um departamento de operações sólido e com rotatividade muito baixa, porque oferecemos boas condições e conciliamos bem com a vida pessoal. Isso dá-nos estabilidade e consistência. Auditamos cada restaurante várias vezes por semana e estamos a implementar tecnologia de controlo de qualidade em tempo real. Além disso, investimos em equipamentos de topo em todas as cozinhas. O mais difícil é manter os tempos de espera baixos com tanta procura. Os nossos hambúrgueres têm um peso elevado e demoram a cozinhar, mas mesmo assim conseguimos melhorar bastante a operação e manter a agilidade sem comprometer o produto.
A Street já incorpora a sustentabilidade e a origem dos produtos no seu modelo de negócio?
Não fazemos disso uma bandeira, mas temos um compromisso real com a responsabilidade. Trabalhamos com fornecedores locais sempre que possível e usamos ingredientes sem aditivos nem misturas. A nossa carne é 100% vaca, sem conservantes nem processos industriais. Além disso, procuramos reduzir resíduos, otimizar embalagens e melhorar a eficiência energética das cozinhas. Para nós, a sustentabilidade está cada vez mais a fazer parte da nossa estratégia e padrão de qualidade.
Fernanda Mira