O aumento da prestação da casa, que resultou das sucessivas subidas das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE) em anos recentes, vai continuar a condicionar o consumo privado na zona euro até 2030.

Um estudo do BCE divulgado esta quarta-feira mostra que, apesar do banco central já ter cortado oito vezes a taxa de juro de referência em menos de um ano para combater a inflação, os efeitos sobre os consumidores europeus ainda se vão fazer sentir durante mais cinco anos.

Segundo o BCE, o número de hipotecas com taxa fixa aumentou substancialmente após a crise financeira de 2008/2009, o que representa um encargo importante nos orçamentos familiares dos europeus.

Recorde-se que, para combater a inflação e trazê-la para os níveis de referência do BCE (25), o banco central teve que aumentar as suas taxas de referência, que estavam a níveis negativos -0,5% para os 4% em menos de um ano. Durante este movimento, grande parte dos novos créditos foram feitos a taxa fixa como meio de proteger os mutuários. Agora essa rigidez terá consequências nas prestações mensais pagas ao banco.

Segundo o relatório do BCE, esta “herança” deverá retirar um ponto percentual ao crescimento do consumo da zona euro, entre 2022 e 2030, estando ainda um terço desse efeito por produzir.

Serão as famílias mais pobres a ser atingidas, uma vez que foram aquelas que tiveram mais tendência para escolher empréstimos a taxa variável, quando o BCE estava a combater a inflação aumentando sucessivamente o preço do dinheiro.

Uma em cada quatro famílias da zona euro tem um empréstimo à habitação. Um em cada 10 desses empréstimos será objeto de uma redefinição da taxa nos próximos três anos e 20% até 2030.

No caso português, e segundo os números do Banco de Portugal, desde dezembro de 2023 que a evolução dos juros dos novos empréstimos para crédito à habitação celebrados com taxa variável têm conhecido uma descida significativa do custo da prestação. Em dezembro de 2023 a taxa estava nos 4,88%, tendo-se fixado em abril deste ano nos 3,2%.

Já os empréstimos a taxa fixa que foram celebrados em outubro de 2023 tinham um juro de 4,28%, e no final de abril deste ano estavam nos 3,61%.