O UniCredit tem estado no centro da discussão bancária europeia pela sua expansão ou, pelo menos, intenção declarada de expandir. Apesar das várias tentativas de fusão a decorrerem em Itália de momento, o UniCredit tem tido destaque pela sua dimensão e, acima de tudo, pelo embate que está a ter com o executivo de Georgia Meloni. O governo italiano determinou que o banco teria de cumprir certas condições – como acabar de vez com as suas operações na Rússia – de forma a ter luz verde para adquirir o rival Banco BPM.

Entretanto, o segundo maior banco do país conseguiu colocar a sua Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o BPM em ‘stand by’, através do regulador dos mercados italianos, anunciou o banco em comunicado no dia 23 de maio. Esta decisão foi contestada de imediato pelo próprio BPM, a nível judicial, sendo que o rival mais pequeno apelou a que o banco liderado por Andrea Orcel deixasse cair a sua oferta caso não fosse capaz de cumprir com as condições que o governo italiano impôs para autorizar a operação.

Já o UniCredit alega que o BPM não foi claro sobre o impacto que a compra da Anima Holdings teve na sua capitalização e nos seus resultados, chegando apenas a estas conclusões através de uma análise interna. Contudo, reitera que a compra do rival mais pequeno continua a cumprir com as métricas que pretende atingir.

Agora que conseguiu colocar a OPA em pausa – que, consequentemente, a estendeu até dia 23 de julho -, o banco decidiu combater as condições impostas pelo governo em tribunal e Orcel já adiantou que não vai avançar com a compra se estas se mantiverem. Uma fonte governamental da Reuters garantiu à agência que o executivo italiano não tem intenções de alterar as exigências. Mais ainda, o ministro das Finanças, Giancarlo Giorgetti, prometeu demitir-se caso as condições impostas pelo seu ministério sejam alteradas contra a sua vontade. “Se houvesse o mais pequeno desalinhamento [com Meloni], não se encontraria uma ameaça de demissão, mas a própria demissão. Não se anuncia a demissão, faz-se a demissão”, disse Giorgetti, citado pela Agência Reuters.

Outros negócios no horizonte

Paralelamente ao negócio com o BPM, o UniCredit prossegue outros interesses. Orcel, citado pelo periódico alemão Handelsblatt, admitiu que o banco encontrou oportunidades de negócio em todos os 13 países em que opera, algumas das quais já públicas, reconhece. Uma já bem conhecida do mercado é a intenção de adquirir o alemão Commerzbank, onde o italiano já possui uma participação de 28%, adquirida através de instrumentos financeiros, e que pode elevar até 29,9% se assim o entender. Apesar da oferta sobre o rival doméstico mais pequeno poder cair, Orcel deixou claro nesta semana que a situação na Alemanha era diferente.

“Temos 30%. Vou repetir: temos 30%. O facto de sermos pessoas educadas e justas que estão à espera do momento certo para dialogar com o governo alemão não altera o facto de termos 30%”, lembrou Orcel, citado pela Reuters, deixando claro que já tem um pé dentro da empresa. Segundo o CEO, existem três opções em cima da mesa: manter a posição atual, vendê-la de forma lucrativa ou prosseguir com uma fusão, algo que o líder do banco já admitiu fazer caso todos os envolvidos o apoiassem. No entanto, Orcel já empurrou uma decisão sobre o que fazer em relação ao Commerzbank para 2026 ou 2027, dado que, do lado alemão, a recetividade dos políticos foi parca.

Em relação a outros negócios, esta semana ficou marcada por uma operação que seguiu sem obstáculos. O UniCredit aumentou o seu peso no Sul da Europa, mais do que duplicando a sua participação no Alpha Bank, da Grécia, onde já era o maior acionista desde 2023. O segundo maior banco italiano comprou o equivalente a 9,7% da empresa, através de instrumentos financeiros, o que eleva a sua posição para cerca de 20%. Esta aquisição vai trazer mais 180 milhões de euros anuais em lucro, de acordo com o UniCredit.

Em relação a compras que não quer fazer, Andrea Orcel rejeitou a ideia de uma aquisição da seguradora Generali, a maior de Itália e uma das maiores na Europa. O líder do UniCredit, quando questionado sobre esta possibilidade, negou o interesse, esclarecendo que a posição de 6,7% na empresa é apenas estratégica. O CEO do Intesa Sanpaolo, o maior banco de Itália, manifestou-se em relação a esta possível operação, confirmando que iria abordar Orcel caso este tivesse intenção de avançar sobre a Generali, segundo a Agência Reuters.

Esta questão surge numa altura em que o maior acionista da Generali pode estar de saída. O Mediobanca, que detém cerca de 13% da seguradora, ofereceu a sua posição na empresa em troca do Banca Generali, o banco detido pela empresa do mesmo nome. O Mediobanca encontra-se a batalhar uma possível aquisição pelo rival mais pequeno, o Monte dei Paschi di Siena.

Banco central recorda que criação de valor é sempre o objetivo

O governador do Banco de Itália, Fabio Panetta, lembrou, ao apresentar o relatório anual da instituição, que as fusões bancárias “devem ser bem concebidas e com a criação de valor como único propósito”. O líder do banco central sublinha que estas fusões devem contribuir, sobretudo, para melhorar a oferta de crédito e de produtos de poupança para os clientes. “Criar valor significa, antes de mais, oferecer às empresas e às famílias financiamentos adequados em termos de quantidade e de custos; instrumentos de poupança eficazes e transparentes em condições justas; serviços qualificados e inovadores coerentes com as necessidades de desenvolvimento da Itália”, reiterou.

Panetta acredita que a consolidação pode levar o setor bancário italiano a ficar mais em linha com o de outros países europeus.

Sobre o peso das instituições no resultado destas operações, o governador acrescenta que o trabalho do banco central é garantir que os bancos são saudáveis em termos de capital, liquidez e risco. Lembra que outras entidades atuam consoante os seus poderes estatutários, mas, no final, “as dinâmicas de mercado e as decisões dos acionistas” são quem decide, em última instância, o desfecho das ofertas.