
Rita da Nova acaba de lançar o seu terceiro romance: 'Apesar do Sangue'. Tal como os seus outros dois livros, este está a ser um sucesso. Tanto que foi lançando há apenas duas semanas e já vai na sua terceira edição.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a autora, de 33 anos, mostra-se surpreendida e feliz com o facto. "É sempre surpreendente para mim quando os meus livros chegam a novas edições porque isso significa que há mais e mais interesse dos leitores em lê-los, e significa também que os livros começaram a fazer o seu próprio caminho, a serem lidos e recomendados pelos próprios leitores. É claro que existe sempre a expectativa de um novo livro correr pelo menos tão bem quanto o anterior, mas sinto-me sempre muito feliz quando vejo esse sucesso a acontecer, significa que a minha base de leitores segue fiel e que consigo conquistar mais pessoas para se tornarem minhas leitoras", realça.
A história que a inspirou a escrever 'Apesar do Sangue', editado pela Manuscrito, caiu-lhe no colo durante um convívio com a família e Rita não descansou até explorar essa ideia.
"Se os meus dois primeiros romances partiam de curiosidades minhas sobre a forma como funcionamos enquanto pessoas — nomeadamente, sobre a maneira como construímos a nossa personalidade – 'Apesar do Sangue' nasceu de uma história que me contaram, muito pela rama, de um homem que se tornou padrasto e se apaixonou completamente pelo enteado, tendo sofrido muito quando se separou da mulher e, consequentemente, do rapaz. Contaram-me apenas isto, mas eu identifiquei logo bastante potencial nesta história, e vi-a como uma oportunidade de explorar a maneira como construímos a nossa própria definição de família, muitas vezes tendo em conta os laços que extravasam o sangue", revela.
Nos dois primeiros livros, Rita, que tem também um blogue de sucesso, assim como dois podcast ('Terapia de Casal' e 'Livra-te') conta as histórias na primeira pessoa, pela voz de duas mulheres jovens, o que "talvez faça com que o leitor possa pensar que são mais ou menos baseados" na sua vida. Contudo, o que interessa à escritora é "reforçar o lado ficcional que existe" nos seus romances".
"Parece-me difícil que o escritor não ponha coisas suas nas coisas que escreve, mas fascina-me sempre mais o processo de inventar uma história de raiz", salienta.
Já 'Apesar do Sangue' conta com quatro protagonistas, o que trouxe alguns "desafios" a Rita, nomeadamente, "na procura pela identidade de cada um e na necessidade de encontrar a melhor forma de a passar para os leitores".
"Para tal, optei por um narrador na terceira pessoa, que vai passando os traços de cada personagem, que é omnipresente e omnisciente. E também usei o truque de ter um documento para cada uma destas personagens, onde escrevia os capítulos que eram contados por elas, para ser mais fácil entrar nas suas vozes. Foi preciso também algum planeamento prévio, para decidir que acontecimentos da história eram contados por que personagem", explica.
Revela Rita que 'Apesar do Sangue' centra-se nos laços familiares que "construímos e que muitas vezes vão além dos laços de sangue". Glória é a figura central da narrativa e é avó de Pedro, filho de Helena e enteado de Eduardo. A história baseia-se no relacionamento entre os quatro e no percurso emocional de cada um.
Além disso, chama também a atenção para várias problemáticas, entre as quais uma a que a escritora está ligada: os gatos de rua.
"Sim, à semelhança da Glória, eu também tenho contacto com gatos de rua porque sou voluntária do MEG (Movimento de Esterilização de Gatos), em Lisboa, que tem como objetivo controlar as colónias de gatos errantes através da esterilização e devolução às colónias. Escrever a Glória como cuidadora de uma colónia não foi algo pensado ao início, mas acabou por surgir e fez-me sentido trabalhar esse lado porque acaba a reforçar a personalidade cuidadora desta avó. Por outro lado, é também uma forma de dar voz a tantas pessoas que existem pelo país, que se dedicam a cuidar destes gatos de ninguém", nota.
Ao Notícias ao Minuto, Rita revela que já tem mais uma história "a viver na cabeça", que será escrita "a seu tempo". Para já, vai "passar uns belos meses de verão a levar 'Apesar do Sangue' pelo país".
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