Um vídeo publicado por Joana Marques nas redes sociais há cerca de dois anos, que satirizava a interpretação do Hino Nacional por parte dos Anjos, resultou numa enorme polémica que está prestes a ser discutida em Tribunal, com os irmãos Rosado a pedir uma indeminização no valor de mais de um milhão de euros.

O duo musical, representado por Nélson Rosado e Sérgio Rosado, assim como duas outras empresas processaram a humorista do programa da Rádio Renascença, Extremamente Desagradável, pelas repercussões que o conteúdo de Joana Marques trouxeram para as suas vidas pessoais e profissionais.

Em entrevista ao Dois Às 10, os Anjos decidiram agora quebrar o silêncio e expuseram a sua versão dos factos. Nélson Rosado começou por esclarecer que a ação judicial não se trata de um ataque pessoal à comediante, mas sim uma tentativa de reparar os danos causados à sua carreira e à de outros profissionais que consigo trabalham na indústria musical.

"A Joana Marques não está a ser processada por nós e por mais duas empresas por uma piada. Está a ser processada porque adulterou, manipulou uma informação digital e com isso gerou danos", afirmou o irmão Rosado, deixando claro que este processo não se limita a uma questão de humor, mas envolve também prejuízos concretos para a equipa dos Anjos.

Durante a conversa, os cantores relembraram que durante os seus 26 anos de carreira nunca estiveram envolvidos em qualquer tipo de polémica e que, neste caso, a situação surgiu após uma atuação dos dois no evento MOTO GP, marcada por vários problemas técnicos.

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Segundo as palavras dos artistas, o som transmitido ao público não foi o esperado devido, como anteriormente reforçado, a erros técnicos, o que desencadeou não só a sátira de Joana Marques como também gerou, após a publicação do conteúdo, uma onda de críticas e agressões nas redes sociais, com ameaças graves.

"Nós sentimos uma onda de ódio, um discurso de cyberbullying que nós só ouvimos dos outros, parecia um filme, desde ameaças de morte, a nós e aos nossos", revelou Nélson Rosado. "Estavam a cancelar[-nos] trabalho precisamente por causa disso. Não faz sentido nenhum. Aquilo alavancou", reforçou depois o irmão.

Ainda acerca dos prejuízos causados, Sérgio Rosado destacou o impacto devastador que a situação teve nas suas vidas pessoais e, inclusivamente, da família, nomeadamente da filha, na altura, de nove anos. "Sofreu bullying na escola. Como é que vais justificar a uma miúda que o pai e o tio, se calhar, porque isso falou-se, podiam ir presos?"

De notar que, segundo os irmãos Rosados, após a publicação do vídeo por Joana Marques, houve a tentativa de um contacto com a humorista com o objetivo de explicar "o que verdadeiramente tinha acontecido (…) a questão dos concertos cancelados". Ao que parece, a comediante não atendeu as chamadas e, por isso, foi-lhe enviada uma carta registada, à qual respondeu.

"Já não me lembro muito bem o que é que as nossas advogadas nos transmitiram, mas seria do género 'não temos nada a ver com os vossos problemas técnicos', é verdade, 'mas é um problema vosso, vocês são figuras públicas, é a minha liberdade de expressão'", relatou Nélson Rosado, não se ficando por aí.

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"Enviámos outra carta registada, agora já das advogadas, onde voltaram a explicar uma vez mais o que é que tinha sucedido e que o vídeo dela, que tinha sido adulterado. Aí já não respondeu e fomos obrigados a meter isto em Tribunal", acrescentou ainda.

"Isto tem tudo a ver com o bom senso. Isto é quase uma questão de educação, e quando eu falo de educação é no sentido de as pessoas falarem umas com as outras. Ela não quis saber, ela agiu de má fé, nós ainda pensámos genuinamente que ela não sabia qual era a dimensão dos estragos que estava a acontecer nas nossas vidas", ouve-se ainda dizer Sérgio Rosado.

Durante a entrevista, Nélson Rosado criticou ainda o facto de diversas "figuras públicas" assumirem "uma posição baseada no erro, baseada na manipulação de uma opinião que não pode acontecer". Recorde-se que uma das pessoas que reagiu publicamente foi Sónia Tavares, admitindo sentir vergonha em relação à indemnização de um milhão de euros pedida pelos Anjos.

Quanto a este valor, que pode impressionar muitos, Sérgio Rosado garantiu que "não houve um dia" que o duo acordou e pensou neste valor. "É claro que o número é muito grande, mas são quatro autores. Sou eu, o Nélson e duas empresas", explicou ainda.

Problematizando toda a polémica, os Anjos fizeram questão de sublinhar também a importância de abordar temas como a liberdade de expressão. "As pessoas vão ficar a saber todos os detalhes e aí vai ser muito complexo a discussão em toda a sociedade. Será que vale tudo? Para mim a liberdade de expressão tem um limite. Sabem qual é? É a partir do momento em que tu causas danos", opinou Nélson Rosado.

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"Nós temos uma dimensão no digital, chegamos a muita gente, somos influenciadores, quer dizer que influenciamos outros. Se eu passo uma informação que está ela própria manipulada, está adulterada, que me vai fazer ter mais likes, mas visualizações, ganhar com isso, prejudicando outros quando os outros tentam de uma forma cordial explicar o que é que está a acontecer e és completamente ignorado", refletiram ainda os cantores.

"Mais! Seis meses depois nós caímos no chão quando soubemos que nos espetáculos do 'Extremamente Desagradável' era usada uma parte do vídeo e fomos ridicularizados uma vez mais seis meses depois, quando a pessoa foi avisada que nos tinha causado danos, porque as cartas registadas são clarinhas. Isto demonstra o quê? Uma insensibilidade, quanto a mim, e vamos ver o que é que as provas vão mostrar…", pode ainda ouvir-se.

Recorde-se que o processo dos irmãos Rosado contra Joana Marques irá avançar para Tribunal após falha nas negociações. A primeira audiência que irá contrapor os cantores à humorista está marcada para junho deste ano. Até lá, espera-se não haver mais desenvolvimentos do caso.