
Fernando Póvoas, amigo de Jorge Nuno Pinto da Costa há mais de 40 anos, foi um dos últimos a estar com o ex-presidente, na véspera da sua morte. Em conversa exclusiva com a TV 7 Dias, conta como a sua saúde se deteriorou nos últimos dias.
“Esta última semana foi má. Durante a semana passada fomos almoçar. Ele não era um homem que se escondia, nem tinha preconceitos e fomos comer a uma tasca uma lampreia. Ele foi bem-disposto, com cadeira de rodas, algaliado, com um saquinho de maneira que estivesse disfarçado para que ninguém visse, mas não deixou de ir”, conta o médico.
Embora fosse a mulher, Cláudia Campo, a cuidadora informal, Pinto da Costa tinha duas enfermeiras que asseguravam todos os cuidados. “Alternavam. Às vezes estavam lá as duas que o trataram e mimaram-no muito”, explica Fernando Póvoas. Aliás, Pinto da Costa “já não andava há muito tempo”. “Estava de cadeira de rodas ou na cama. Mas já estava acamado e muito confuso, não era o mesmo. Já não andava desde que foi operado, desde novembro. Às vezes levantava-se de andarilho, mas com muita dificuldade”, partilha Fernando Póvoas recordando o dia em que o viu pela última vez. “Dei-lhe um último beijo na testa com a sensação de que, se calhar, não voltava a dar. Senti-o apagado, confuso. A pedir-me para o levar para casa, em casa estava ele. Senti-o confuso. Senti uma perceção terrível, que infelizmente concretizou-se, apesar de não esperar que se concretizasse tão cedo”, desabafa.
O médico saiu de casa de Pinto da Costa com o filho do ex-dirigente, Alexandre. “No elevador dissemos: ‘não sei quantas vezes é que vamos subir este elevador outra vez’. E o filho disse ‘também não gostei nada dele hoje’. Foram 24 horas depois”, recorda.
Sandra Felgueiras inconsolável
Foi a Sandra Felgueiras que Jorge Nuno Pinto da Costa concedeu a sua última entrevista. Há seis meses. Desde esse dia que os dois ficaram amigos e os telefonemas eram uma constante.
Os dois falaram pela última vez quatro dias antes da sua morte. “A conversa já foi mais… porque ele tinha escrito um comunicado por causa da auditoria do André Villas-Boas, e foi o único momento em que eu senti que ele já não estava bem. Já não tinha o mesmo sentido de humor, já balbuciava, mas de todas as outras conversas, o que eu vou recordar sempre é esse sentido de humor, de fazer ir às lágrimas de riso com os temas mais estranhos que possamos imaginar, como a morte.”
Texto: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com); Fotos: Arquivo Impala, João Manuel Ribeiro e Nuno Moreira