O distrito de Setúbal prepara-se para uma transformação profunda no poder autárquico, com cinco presidentes de câmara a abandonarem os cargos nas eleições marcadas para 12 de outubro, por atingirem o limite de três mandatos consecutivos. Palmela, Grândola, Santiago do Cacém, Alcácer do Sal e Sines são os concelhos em mudança forçada, um dado que poderá baralhar a correlação política no território.

As saídas incluem quatro autarcas da CDU e um do Partido Socialista, representando um golpe para a estabilidade da coligação PCP-PEV no distrito, onde mantém uma base histórica de influência, mas que nos últimos anos tem sofrido perdas consecutivas.

Quatro bastiões comunistas em fim de ciclo

A CDU, que ainda governa Palmela, Grândola, Santiago do Cacém e Alcácer do Sal, vê-se agora obrigada a apresentar novas caras, num contexto de desgaste político e de crescente concorrência partidária, tanto da direita como de listas independentes.

Palmela, um dos mais simbólicos redutos comunistas no país, terá pela primeira vez em muitos anos uma disputa em que o nome atual do executivo, Álvaro Amaro (CDU), não estará no boletim de voto. O mesmo acontece em Grândola, terra de fortes raízes de esquerda, atualmente liderada por António Figueira Mendes, e em Santiago do Cacém, com Álvaro Beijinha à frente da autarquia desde 2013. Também Vítor Proença, em Alcácer do Sal, deixará o cargo após doze anos consecutivos como presidente.

Estas saídas representam um risco para a continuidade comunista nestes municípios, onde a fragmentação do voto e a afirmação de novas forças políticas poderá alterar o mapa eleitoral do distrito.

PS perde Sines, último bastião no litoral alentejano

A única baixa socialista no distrito é Sines, liderada por Nuno Mascarenhas, que termina também o seu terceiro mandato consecutivo. A cidade portuária e industrial, estratégica para a economia nacional, tem sido palco de fortes investimentos e tensão política entre os partidos, pelo que a sucessão será seguida com atenção redobrada.

Com Mascarenhas fora da corrida, o PS entra em desvantagem num concelho onde a CDU já foi dominante e onde a direita tenta ganhar espaço com promessas de maior eficácia na gestão e desenvolvimento local.

Uma oportunidade para a oposição

A saída destes cinco presidentes de câmara abre uma janela de oportunidade para a oposição, sobretudo para o PSD e para as candidaturas independentes, que crescem em vários pontos do país e também no distrito de Setúbal.

Estes municípios, até agora com lideranças consolidadas, vão enfrentar um novo ciclo político em outubro. A ausência dos nomes fortes do passado recente pode levar a eleições mais renhidas, disputadas voto a voto, e a possíveis mudanças de cor partidária.

O cenário de 2025 poderá, assim, marcar uma viragem histórica no distrito de Setúbal, onde a hegemonia da CDU em algumas autarquias está por um fio e o PS corre riscos em manter o controlo de Sines.