
No passado dia 3 de maio, o município de Mira recebeu a iniciativa “Na Mira das Invasoras”, como parte da Semana Ibérica sobre Espécies Invasoras, com o objetivo de promover a sensibilização ambiental e o controle ecológico da acácia-de-espigas (Acacia longifolia), uma das espécies invasoras mais prevalentes nas dunas e pinhais costeiros da região.
O evento, que reuniu especialistas e cidadãos interessados na preservação ambiental, destacou o papel do inseto-da-galha da acácia-de-espigas (Trichilogaster acaciaelongifoliae).
Este pequeno himenóptero, introduzido na região há cerca de três anos, atua como agente de luta biológica, impedindo a produção de sementes da Acacia longifolia ao formar galhas nas suas gemas florais, sendo essa técnica de controle, benéfica para a biodiversidade local, pois não prejudica outras espécies vegetais e animais, incluindo o ser humano.
A jornada contou com a presença dos investigadores Liliana Neto Duarte e Francisco Alejandro Lopéz Nuñes, ambos integrantes da equipa de monitorização nacional do projeto.
Durante a manhã, os participantes realizaram uma caminhada pela duna primária ao sul da Praia de Mira, onde observaram a presença das galhas e avaliaram sua distribuição e a diversidade florística local, além disso, foi realizado um exercício de remoção simbólica de chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), uma outra espécie invasora, com o objetivo de controlar sua expansão, permitindo mais espaço para a biodiversidade nativa.
Apesar do sucesso da introdução do inseto, os cientistas alertaram que a presença de extensos acaciais mistos, especialmente nas áreas afetadas pelos grandes incêndios de 2017, representa um desafio para os próximos anos, a região, classificada como Sítio Natura 2000, inclui importantes áreas protegidas, como as Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas.
Os especialistas sugerem que o controle da acácia-de-espigas será crucial para restaurar a biodiversidade dessas zonas, combatendo as ameaças das espécies invasoras.
Durante a manhã, também foi realizada a avaliação da qualidade ambiental de vários habitats dunares prioritários, como as “dunas móveis litorais” e “dunas fixas com herbáceas”, onde se encontraram diversas plantas autóctones de grande interesse para a restauração ecológica, incluindo sabina-da-praia (Juniperus phoenicea) e narciso-das-areias (Narcissus bulbocodium).
A importância de uma ação ativa contra as invasoras foi reforçada pelos investigadores, que destacaram a necessidade de remoção de espécies como a acácia-de-espigas e o chorão-das-praias para criar as condições necessárias para a regeneração da flora nativa.
À noite, no Centro Interpretativo da Casa e Cultura Gandaresa, no Seixo, foi realizada uma palestra, onde os investigadores esclareceram os mitos e receios associados ao uso do inseto-da-galha, destacando que sua ação não leva à extinção da Acacia longifolia, pelo contrário, o controle da produção de sementes desta espécie visa apenas reduzir sua propagação sem erradicar completamente a planta.
Os estudos realizados até agora, tanto em Portugal como no estrangeiro, comprovam que a técnica não causa danos aos ecossistemas, à saúde humana ou à fauna local.
Iniciativas como “Na Mira das Invasoras” são essenciais para informar e envolver a população nas questões ecológicas que afetam diretamente os nossos territórios.
Ao combinar ciência, ação prática e diálogo com a comunidade, esses projetos ajudam a desfazer mitos, criar uma consciência ambiental mais ampla e incentivar decisões informadas no combate às espécies invasoras.
Esses esforços são fundamentais para restaurar e proteger a biodiversidade dos nossos ecossistemas, garantindo um futuro mais equilibrado e sustentável para todos.