
No topo de uma das barreiras que rodeia o local de nascimento do novo campo de rugby de Santarém, no interior da antiga Escola Prática de Cavalaria, Nuno Serra, presidente do Rugby Clube de Santarém mostra o orgulho no projeto que começa agora a ganhar forma: “Vão ficar umas excelentes instalações para potenciar a modalidade em Santarém”, afirma, sobre o projeto com um investimento de perto de dois milhões de euros e que o presidente aponta a maio como data para a conclusão.

No ano em que celebra 30 anos de existência, o clube está mais saudável que nunca e com as expectativas em alta – especialmente pelo feito histórico que atingiu no final da época passada, com a subida à I Divisão de Honra, o patamar mais alto do rugby português.
“É o corolário de um esforço de muitos atletas, muitos dirigentes, muitos treinadores, muitos pais, muitos adeptos que foram incansáveis”, vinca Nuno Serra, relembrando todos os atletas, treinadores, dirigentes e adeptos que contribuíram para o crescimento do clube, somando atualmente cerca de 240 atletas.

Fundado em 1995, fruto da vontade de antigos atletas da Escola Superior Agrária de Santarém, o clube foi crescendo sustentado nas suas escolas de formação. Hoje, a equipa sénior é composta em “90% por jogadores das escolas de formação”, mas beneficiou também, nos últimos anos, da integração de atletas com experiência internacional. “Foi uma aposta ganha, porque trouxeram novas formas de ver o jogo, novos modelos competitivos, e ajudaram a elevar o nível”, sublinha Nuno Serra.
A subida de divisão é vista pelo dirigente como um sinal importante para a região. “Prova que não precisamos de estar em Lisboa para jogar no escalão maior. É um sinal e uma transmissão de valores: hoje um jovem pode dizer ‘eu posso jogar na Honra em Santarém’”, frisa.
A estreia na Divisão de Honra será exigente. O RCS vai defrontar em fase inicial clubes como o Benfica, Agronomia e o atual campeão nacional CF “Os Belenenses”. Os jogos vão ser transmitidos nas plataformas digitais do clube.
“A grande diferença vai ser a intensidade e a natureza do jogo. Vai ser preciso mais carga de treino, mais preparação física e mental”, admite o presidente, que define como meta principal a manutenção.
“O nosso campeonato começa na segunda fase” afirma, deixando a garantia que quer que o clube mantenha os pés bem assentes no chão. Esta época é de aprendizagem e de adaptação a uma nova realidade e embora Nuno Serra queira a turma escalabitana a ter boas prestações, confessa que lhe “saiu a fava” no sorteio.

A ligação à comunidade tem sido um pilar para o clube, mas o presidente aponta a necessidade de reforçar apoios. “Nós somos muito acarinhados, mas a partir de agora não chega a palmada nas costas. Precisamos que a autarquia e as empresas olhem para o rugby de outra maneira”, defende.
Nuno Serra não esconde a apreensão com a falta de envolvimento empresarial local: “Temos empresas no concelho de Santarém que estão de costas viradas para o desporto municipal. O desporto é uma máquina de divulgação brutal, e não se percebe que não haja essa visão”, acrescentando ainda que teria todo o gosto em transportar o nome das empresas do concelho por esse país fora.
O dirigente deixa o agradecimento aos parceiros e patrocinadores, na sua maioria fora do concelho, que têm apoiado o clube e diz que vai garantir um espaço para contribuir para a divulgação por onde o RCS passar, como fora de reconhecimento por todo o apoio que deram até este momento.
O clube mantém uma filosofia assente na formação e nos valores do rugby. “Até aos 14 anos todos os jogadores têm direito a jogar meia parte. O rugby é um desporto inclusivo. Queremos formar atletas, mas acima de tudo transmitir valores como respeito, integridade, lealdade e humildade”, destaca, garantindo que este sistema implementando a nivel mundial garante igualdade para todos os jovens

Esse trabalho com os mais jovens é central na identidade do clube. Para Nuno Serra, o rugby é uma escola de vida que deve estar aberta a todos: “Não interessa o tamanho, a força ou a velocidade. Há lugar para cada um em campo, e isso permite que cada jovem encontre o seu espaço, aprenda a respeitar o outro e cresça em comunidade.”
Com escalões jovens ativos e a ambição de reforçar o rugby feminino, o clube continua a apostar no crescimento. Um símbolo disso mesmo é a presença de uma jogadora ligada ao RCS que integra a seleção brasileira no Mundial. “É uma referência que queremos que inspire mais atletas femininas”, sublinha o dirigente.