A ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios, no Barreiro, está a transformar o seu pátio num cinema ao ar livre durante o mês de setembro. Este projeto, intitulado “Filmes na Rua”, apresenta uma seleção de obras cinematográficas que vão desde clássicos do cinema mudo até dramas contemporâneos, proporcionando uma experiência cultural rica e acessível à comunidade, todas as quintas e domingos, às 21h30.

A Curadoria de Carlos Guerreiro

Carlos Guerreiro, um designer de formação e cinéfilo por vocação, é o responsável pela programação deste ciclo de cinema. Ele descreve a curadoria como uma conversa inteligente e acessível com o público, onde cada filme é escolhido não apenas pela sua qualidade artística, mas também pelo seu potencial de provocar reflexão e diálogo.

Carlos Guerreiro enfatiza que não se trata de evangelizar, mas sim de abrir caminhos para novas interpretações. Ele acredita que, se um espectador sair de uma sessão com uma nova forma de ver um filme, o objetivo foi alcançado.

Filmes em Destaque

O ciclo “Filmes na Rua” apresenta uma seleção diversificada de filmes, incluindo:

  • O Homem da Câmara de Filmar (1929) – Um clássico de Dziga Vertov que captura a vida urbana com uma abordagem inovadora.
  • O Homem do Braço de Ouro (1955) – Um retrato impactante da dependência, com Frank Sinatra.

“O Homem da Câmara de Filmar” é considerado um marco na história do cinema. Vertov utiliza técnicas de montagem que desafiam as convenções da época, criando um “cinepoema” que ainda ressoa com o público moderno. Carlos descreve este filme como um “choque de modernidade”, que continua a inspirar cineastas quase um século depois.

Por outro lado, “O Homem do Braço de Ouro” aborda a dependência de forma direta e crua, sendo um dos primeiros filmes a tratar o tema de forma tão aberta. Carlos Guerreiro destaca a importância deste filme, especialmente num contexto contemporâneo onde a dependência química continua a ser um problema social significativo.

O Espaço como Personagem

A ADAO não é apenas um local de projeção, é um espaço que se torna parte da narrativa. Carla Pacheco, da direção, explica que a intenção é ser o mais eclético possível, envolvendo todas as expressões artísticas e abrindo as portas da ADAO para a comunidade.

Em tempos de consumo individualizado de conteúdo, a ADAO pretende recriar a experiência coletiva do cinema. Carlos Guerreiro ressalta que, durante as sessões, não há espaço para distrações como telemóveis ou redes sociais. O foco é totalmente na tela e na narrativa que ela apresenta.

Programação Futura

Após o ciclo de setembro, a ADAO planeia expandir a sua programação com novos temas. Um dos próximos ciclos será dedicado ao cinema feminino, apresentando obras que desafiam as normas e oferecem novas perspectivas.

Entre os títulos já pensados para este ciclo estão:

  • Valéria e os Sonhos (1970) – Uma fantasia surreal da Checoslováquia.
  • Jovens e Atrevidas (1966) – Uma obra experimental de Vera Chytilová que desafia as convenções sociais.

O ciclo “Filmes na Rua” da ADAO é uma iniciativa que vai além da simples exibição de filmes. É uma celebração da cultura, uma oportunidade para a comunidade se reunir e refletir sobre questões sociais através da sétima arte. Com uma programação cuidadosamente curada e um espaço que promove a interação, a ADAO estabelece-se como um farol cultural no Barreiro, convidando todos a participarem nesta experiência única.