Com o recente desfecho das eleições nos Estados Unidos, voltamos a olhar para a influência crescente das redes sociais e dos algoritmos na formação da opinião politica pública. Mais do que nunca, torna-se evidente que os dados pessoais desempenham um papel central na forma como estas plataformas operam e moldam a democracia moderna. Mas será que compreendemos realmente o que está em jogo? Este é o X da questão de hoje: como é que os nossos dados pessoais, muitas vezes partilhados de forma inconsciente, são usados para influenciar opiniões e decisões cruciais sem que tenhamos plena consciência disso?

As variáveis que precisamos de considerar nesta equação são claras: os dados pessoais que partilhamos, os sistemas que os processam e a transparência com que essa informação é utilizada. Os algoritmos das redes sociais são desenhados para manter os utilizadores envolvidos o máximo de tempo possível. Para isso, utilizam vastas quantidades de dados recolhidos de cada clique, pesquisa ou interação. Com essa informação conseguem prever e influenciar o comportamento dos utilizadores, oferecendo conteúdos que reforçam as suas crenças e preferências: esta é a variável que cria as chamadas "bolhas de informação", onde os utilizadores são expostos predominantemente a conteúdos que confirmam as suas visões, limitando o acesso a perspetivas diferentes.

Durante as eleições, outra variável crítica surge: a segmentação de mensagens. A personalização de conteúdos permite que campanhas políticas e outras entidades criem mensagens altamente dirigidas e adaptadas a diferentes grupos de eleitores. Estas mensagens, muitas vezes impulsionadas por anúncios pagos, podem ser desenhadas não só para persuadir, mas também para manipular, explorando medos, inseguranças e preconceitos. No entanto, é importante sublinhar que, embora os algoritmos e as redes sociais tenham um papel relevante na modelação da opinião pública, o resultado de uma eleição é sempre influenciado por um conjunto complexo de fatores. O impacto dos algoritmos é significativo, mas não é exclusivo, ainda que talvez possa ser determinante se considerarmos o tempo de utilização das redes sociais.

Outra variável essencial é a falta de transparência sobre como os nossos dados pessoais são usados e transformados em ferramentas de persuasão. O utilizador médio raramente tem noção de como os dados são processados e aplicados para influenciar as suas experiencias online. Mesmo com a crescente regulamentação e um maior escrutínio público, as práticas de recolha e uso de dados continuam a ser opacas. E é aqui que reside o verdadeiro problema: a falta de controlo e de conhecimento sobre como os nossos dados alimentam os algoritmos que moldam a nossa perceção e, por vezes, as nossas escolhas.

Mas a questão não se limita às eleições. A influência dos mecanismos de análise de dados tem impacto em todas as esferas da sociedade, desde as nossas preferências de consumo às opiniões sobre questões sociais e culturais. Os dados pessoais são o combustível que alimenta estas decisões algorítmicas. Contudo, muitos utilizadores subestimam o poder e o alcance destas plataformas, acreditando que as suas escolhas são totalmente independentes, quando, na verdade podem ser subtilmente orientadas.

O X da questão é a necessidade de uma maior consciencialização sobre o valor dos nossos dados e como eles são usados. O que pode se feito para que os cidadãos entendam a importância de proteger a sua privacidade e saibam como os seus dados estão a ser utilizado? Como é que as redes sociais podem ser mais transparentes sobre os seus algoritmos e práticas de personalização? E, mais importante ainda, como podemos garantir que as plataformas respeitam os princípios da democracia e da livre escolha?

Para além da transparência, é fundamental que cada utilizador perceba o impacto das suas interações online, não apenas a nível individual, mas no tecido social como um todo. Precisamos de uma educação digital que dote as pessoas com ferramentas e conhecimento para questionar, analisar e compreender os conteúdos que lhes são apresentados. Só assim conseguiremos, enquanto sociedade, enfrentar os desafios que os algoritmos e a utilização de dados pessoais colocam à democracia e à nossa autonomia.

Este é o X da questão que merece a nossa atenção e discussão.

Jurista / Consultora em RGPD e RGPC