
Escolhida por Joaquim Miranda Sarmento para adjunta nas Finanças e logo "desconvidada", em abril do ano passado, por estar a ser julgada num processo de corrupção, que a levara já a deixar o lugar de deputada na Assembleia da República e a comissão política do PSD em 2024, Patrícia Dantas avança agora na lista do PSD-M à câmara do Funchal.
José Luís Nunes, médico pediatra e atual presidente da Assembleia Municipal da capital madeirense, foi o escolhido por Miguel Albuquerque para cabeça-de-lista e a ex-deputada social-democrata será a número dois pelo Funchal, avançam os media regionais, nas autárquicas que se realizam logo a seguir ao verão. Ao Diário de Notícias da Madeira, o candidato "revelou que Patrícia Dantas assumirá a segunda posição". Apesar de, conforme noticiava o Diário de Notícias em fevereiro, o PSD ter decidido que "não permitiria" candidatos "acusados" pela Justiça nas listas e de o megaprocesso em que Patrícia Dantas está entre mais de 120 acusados ainda estar a decorrer.
Também na lista estão Carla Severim, António Ferreira, ex-diretor regional de Estradas, a já hoje vereadora Helena Leal, Ana Cristina Monteiro e Marcelo Gouveia.
Terá sido do próprio Luís Montenegro a decisão de não vacilar nos critérios de exigência, num compromisso com a "transparência e a integridade", com "idoneidade e ética", justificando assim a orientação estratégica do PSD de garantir "candidatos qualificados", após uma sucessão de casos mais ou menos mediáticos lançar uma sombra de suspeição sobre vários representantes políticos de PS e PSD.
Mas Miguel Albuquerque, reeleito em março com maioria quase absoluta mesmo sendo arguido numa investigação de suspeitas de corrupção (conseguiu o seu segundo melhor resultado nas regionais, com 43,43 %), sempre desvalorizou os casos "baseados em denúncias anónimas feitas em catadupa", descartando as acusações que recaíam sobre ele e outros, desencadeadas por buscas e pela apreensão de documentação, como um meio para criar um clima de "incerteza e desestabilização". "A minha convicção é que em 30 anos de vida pública nunca fui corrompido. Não existe nessa denúncia qualquer fundamento para haver uma acusação."
A própria Patrícia Dantas, num artigo publicado no DN-Madeira já neste mês, lembrava a importância das próximas autárquicas e pedia respeito pelo "normal funcionamento da democracia", pondo-se fim a "esquemas ocultos e denúncias vãs", para se recentrar o debate em "propostas concretas para a resolução dos problemas das pessoas". Num outro artigo de opinião, de abril, referia também os "assassínios de caráter" a partir de "boatos", admitindo chegado "o momento de pensarmos se não teremos também de impor critérios de moral e de ética aos denunciadores e aos que publicamente e por diversos meios promovem as suspeitas de integridade e de falta de caráter dos visados".
"Na sequência de notícias veiculadas pela comunicação social, sobre um processo que teve início em 2017 e que está ainda a decorrer nos locais próprios, (...) Patrícia Dantas, mantendo a presunção da inocência que se impõe e após ponderação, decidiu não assumir as funções de adjunta do Ministério das Finanças", explicava Miranda Sarmento, em comunicado, em abril do ano passado. Em causa está um alegado caso de faturas falsas para obter fundos europeus, quando a economista e antiga dirigente do PSD-M geria uma empresa pública madeirense, acusação sempre negada por Patrícia Dantas, envolvida no megaprocesso de quase 10 milhões de euros que tem no centro a extinta Associação Industrial do Minho (AIMinho) e o seu presidente, António Marques, principal arguido.
"Acho esse processo completamente injusto, uma coisa sem pés nem cabeça", disse ao DN-Madeira o líder regional, afirmando que Patrícia Dantas é "das pessoas mais honestas e mais íntegras" que conhece e dizendo-se certo de que "ela será ilibada". Apesar de as alegações finais terem terminado há um ano, o caso que ainda aguarda que a sentença seja proferida pelo Tribunal de Braga e não terá transitado em julgado a tempo das eleições autárquicas que acontecerão no final de setembro ou início de outubro. Seguindo a pauta de Luís Montenegro, isso deveria impedir que avançasse na lista às autárquicas, mas Albuquerque tem sido o maior contestatário dessa determinação.
O SAPO questionou o gabinete do líder social-democrata para saber se iria tomar alguma medida para impedir a candidatura de Patrícia Dantas mas não teve resposta, até ao momento da publicação desta notícia. Também do PSD-M não houve reação.
Licenciada em Economia pela Nova SBE, a vida de Patrícia Dantas foi desde sempre marcada pela política. Filha de João Heliodoro da Silva Dantas, antigo presidente da câmara de Câmara de Lobos (1977-1983) e do Funchal (1984-1990), a economista foi escolhida em 2005 para liderar a Startup Madeira, já depois de quatro anos como diretora-geral da entidade do Governo Regional que serve de incubadora de startups na Região Autónoma.
Militante social-democrata e próxima de Pedro Calado, quando este assumiu a vice-presidência do Governo Regional da Madeira, em 2017, tornou-se diretora regional adjunta de Economia do governo da Madeira, mantendo-se com ele na pasta dos Assuntos Parlamentares, Relações Externas e da Coordenação dois anos mais tarde. Separaram caminhos quando Patrícia foi eleita deputada à Assembleia e Pedro assumiu a presidência da câmara do Funchal — onde se manteve três anos, até renunciar em 2024, na sequência da megaoperação da PJ que levou à sua constituição como arguido (tal como os empresários Avelino Farinha e Custódio Correia).