O 1.º de Maio é feriado em Portugal e em muitos países do mundo. A origem desta data está ligada a lutas difíceis, repressão e conquistas históricas que ainda hoje moldam o mundo do trabalho.

Graças às ações dos trabalhadores, milhões de pessoas conquistaram direitos e proteções fundamentais: foram estabelecidos salários mínimos, há limites para as horas de trabalho e as pessoas têm direito a férias remuneradas e a baixa médica.

Chicago, 1886: o início da revolta

A origem do Dia Internacional do Trabalhador remonta ao século XIX, nos Estados Unidos. Em 1886, milhares de trabalhadores organizaram uma greve geral para exigir a redução da jornada laboral para oito horas por dia.

As manifestações em Chicago tornaram-se particularmente violentas. No dia 4 de Maio, durante um protesto na Haymarket Square, foi lançada uma bomba contra a polícia o que levou a confrontos violentos. Várias pessoas morreram e líderes sindicais foram condenados à morte ou prisão.

Gravura de 1886 reproduz a revolta de Haymarket em 1886.
Gravura de 1886 reproduz a revolta de Haymarket em 1886. Harper's Weekly

Três anos depois, em 1889, o Congresso Operário Internacional, em Paris, decidiu homenagear os trabalhadores de Chicago e instituiu o 1.º de Maio como dia de luta internacional pela melhoria das condições de trabalho.

Na Europa, o Dia do Trabalhador é celebrado normalmente a 1 de Maio, data que pode variar de país para país.

Em França, o Governo diminuiu a carga horária de trabalho para as 8 horas em 1919 e proclamou o dia 1 de Maio como feriado.

Nos Estados Unidos e no Canadá, o Dia do Trabalhador é comemorado na primeira segunda-feira de setembro.

Portugal: da clandestinidade à liberdade

Em Portugal, o feriado começou a ser assinalado logo em 1890. No entanto, as comemorações cessaram com o início do regime do Estado Novo.

Durante a ditadura, o 1.º de Maio era proibido em Portugal. Greves e manifestações eram duramente reprimidas e os sindicatos estavam fortemente controlados pelo regime. Ainda assim, houve tentativas clandestinas de assinalar a data, muitas vezes com consequências graves para quem participava.

A mudança só chegou com a Revolução de 25 de Abril de 1974. Uma semana depois da Revolução dos Cravos realizou-se o primeiro 1.º de Maio em liberdade, com grandes manifestações em todo o país.

Em Lisboa, mais de meio milhão de pessoas encheram as ruas para celebrar a liberdade e reivindicar direitos laborais, num momento histórico que ficou registado em fotografias e filmagens icónicas.

As lutas de hoje

O tempo das grandes fábricas e das jornadas intermináveis deu lugar a um mercado de trabalho mais diversificado, mas nem por isso livre de desafios.

A precariedade, os baixos salários, os horários desregulados, o trabalho por turnos e a falta de proteção para quem trabalha por conta própria continuam a ser temas centrais nas reivindicações sindicais.

Nos últimos anos, surgiram novas questões: o impacto da automatização e dainteligência artificial, os efeitos da pandemiana organização do trabalho, a importância da conciliação entre vida pessoal e profissional e as desigualdades que persistem entre setores e entre homens e mulheres.

Entre o simbolismo e a mobilização

Em Portugal, o 1.º de Maio é organizado principalmente pela CGTPe pela UGT, que promovem manifestações, comícios e iniciativas por todo o país. Se nalguns anos a mobilização é mais simbólica, noutros, como em tempos de crise ou negociações tensas com o Governo, ganha uma maior expressão social.

ANTONIO PEDRO SANTOS