
A Venezuela denunciou e condenou quarta-feira a chegada do navio 'FPSO One Guyana' a uma zona territorial em disputa com a vizinha Guiana, manobra que diz ser promovida pelo Governo guianense em aliança com a norte-americana ExxonMobil.
"A República Bolivariana da Venezuela condena categoricamente a chegada e eventual operação do navio 'FPSO One Guyana' no chamado Bloco Stabroek, por se tratar de uma ação ilegal numa zona marítima pendente de delimitação, onde a Venezuela mantém direitos históricos e legítimos", explica um comunicado divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE) venezuelano.
No documento a Venezuela diz tratar-se de uma "manobra, promovida pelo Governo da Guiana em aliança com a ExxonMobil", que "constitui uma violação dos princípios fundamentais do direito internacional, que exigem a abstenção de medidas unilaterais em zonas sem delimitação acordada".
"Ao persistir neste comportamento, a Guiana demonstra um desprezo claro pela legalidade internacional e pelos compromissos assumidos no Acordo de Argyle de 2023, pondo em causa de forma imprudente a paz e a estabilidade regionais", explica o documento.
Caracas diz ainda que "não reconhece qualquer concessão atribuída nesta zona e adverte as empresas envolvidas de que podem ser objeto de ações judiciais e de que não lhes serão concedidos quaisquer direitos sobre os recursos explorados ilegalmente".
"A República Bolivariana da Venezuela reafirma a sua vocação de paz, mas defenderá firmemente os seus direitos soberanos e não aceitará provocações nem factos consumados", conclui.
A Guiana e a Venezuela mantêm uma disputa sobre o território de Essequibo - cerca de 160 mil quilómetros quadrados ricos em petróleo e recursos naturais - administrado por Georgetown e reivindicado por Caracas.
A tensão agravou-se desde que a Venezuela anunciou que irá eleger um governador para Essequibo nas eleições regionais agendadas para 25 de maio, bem como deputados para o território, que Caracas considera a sua 24.ª região.
Em 28 de março último a Venezuela ameaçou a Guiana de "não fazer ideia da resposta" que Caracas dará, se tentar "alguma coisa" no território disputado, garantindo que não descansará até à "vitória final".
"Só vou recordar que a Venezuela não faz escaramuças com ninguém, somos um país de paz, (...) no dia em que acontecer alguma coisa, no dia em que tentarem alguma coisa contra nós, será até à vitória, eles não fazem ideia de qual será a resposta, e nós, venezuelanos, não descansaremos até à vitória final", declarou o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello.
Num programa transmitido na plataforma digital YouTube, o ministro reiterou que, para o seu país, é "muito claro" que "tudo o que está a oeste do rio Essequibo pertence à Venezuela, e os direitos marítimos que decorrem dessa posse territorial também", razão pela qual assegurou que o país irá "proteger essas terras e esse mar territorial".
"Nós não andamos em guerra com ninguém, mas dizemos aos senhores da Guiana que procurem outros povos com quem guerrear, porque as guerras com a Venezuela são até à vitória", acrescentou o 'número dois' do chavismo.
As declarações de Diosdado Cabello tiveram lugar depois de o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, avisar a Venezuela de que, se atacasse a Guiana ou a petrolífera ExxonMobil, esse "seria um dia muito mau" e que "não acabaria bem" para o Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
"Temos uma grande Marinha, que pode chegar a quase qualquer lugar, em qualquer ponto do mundo. E temos compromissos em vigor com a Guiana", disse o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, acrescentando que não entraria em pormenores sobre o que o seu país faria no caso de um ataque militar venezuelano à Guiana.
Numa conferência de imprensa em Georgetown, com o Presidente da Guiana, Irfaan Ali, o secretário de Estado norte-americano sublinhou que, se Caracas tomar tal atitude, seria "uma decisão muito má, um grande erro para eles".