"Do ponto de vista logístico, foi um ano complicado", admitiu o presidente da ADoP, em entrevista à agência Lusa.

Em ano de Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a ADoP desdobrou-se em controlos fora e em competição, tendo, à data, recolhido 1.667 amostras (1.389 de urina, 168 para o passaporte biológico e 110 de hormona de crescimento.

"No caso dos Jogos Olímpicos, surgiu um problema muito complicado, que foi uma exigência, por cima das exigências e dos 'standards' da Agência Mundial Antidopagem [AMA], mas colocada pela World Athletics. Por exemplo, cada atleta que poderia ir aos Jogos - candidato, ainda não estava determinado - tinha que ter sete controlos fora de competição", recordou.

Em março, a World Athletics determinou que os atletas de Portugal, Brasil, Equador e Peru teriam de enfrentar controlos antidoping mais apertados fora de competição para serem elegíveis para os Jogos Olímpicos Paris2024, após recomendação da Unidade de Integridade do Atletismo (AIU), que considerava insuficiente o número de testes naqueles países.

"Nós cumprimos com muita dificuldade, muita dificuldade, porque a própria AMA não exige isso. E houve países que não cumpriram e puseram a World Athletics em tribunal e ganharam, caso do Brasil", exemplificou.

Do "ponto de vista operacional", a determinação da federação internacional de atletismo, que Manuel Brito conheceu pela imprensa, "levantou problemas muito difíceis".

"No fundo, é a World Athletics - o atletismo é muito importante nos Jogos -, a defender-se de escândalos diversos, de corrupção, de casos de dopagem, etc. Mas as autoridades antidopagem não estavam propriamente avisadas. Ora, isso veio introduzir, além dos problemas normais que temos em cumprir com as exigências dos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos, um acréscimo de dificuldade", reconheceu.

O presidente da ADoP garante que tudo foi feito "para que nenhum atleta estivesse em risco de não ir" a Paris2024.

"Vejam o que era a frustração, além do escândalo obviamente, mas a frustração de um atleta que tinha marcas para ir aos Jogos Olímpicos não ir porque [...] a ADOP não teve a oportunidade de fazer um controlo", elucidou, detalhando que "esse problema preocupou bastante entidades diversas".

Assim, e apesar de um reforço de três pessoas ao longo deste ano, foi desafiante cumprir as metas estabelecidas pela World Athletics algo que, na opinião de Manuel Brito, só foi possível graças à equipa "coesa" da ADoP e também à colaboração de organismos antidopagem estrangeiros.

"Alguns [atletas] foram apanhados à saída do avião, no aeroporto. Casos extremos. Outros, pedimos a colegas que estão no estrangeiro. Em Espanha, nos Estados Unidos - nós temos permuta com colegas, eles também nos pedem. Como se sabe, há muitos atletas estrangeiros que estão em Portugal e nós fazemos controlos a pedido dos colegas estrangeiros e tudo isto é feito numa base fraterna, nem implica custos nem nada de uns e de outros, o que implica é fazer-se. Foi muito, muito difícil, muito difícil e isto obedeceu a um planeamento muito rigoroso do responsável pelo planeamento das ações dos controlos antidopagem, o diretor executivo [António Júlio Nunes]", destacou.

Manuel Brito recordou que os responsáveis do controlo antidopagem -- "os médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico que fazem os controlos" -- não são profissionais da ADoP, acumulando esta função com as suas profissões.

"[Os controlos] têm que ser nas folgas, têm que ser fora de horas, às sete da manhã, às seis, portanto, isso implica um planeamento muito difícil e eu só tenho que louvar os trabalhadores da ADoP por essa magnífica prova de amor à camisola", concluiu.

AMG // JP

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