
Associações e sindicatos de jornalistas espanhóis condenaram hoje assédio, insultos e ameaças a repórteres, sobretudo mulheres, por grupos de extrema-direita na localidade Torre Pacheco, e pediram a proteção destes profissionais pelas forças de segurança.
A Federação de Associações de Jornalistas de Espanha (FAPE, na sigla em espanhol) sublinhou, em comunicado, que jornalistas mulheres, sobretudo as repórteres da televisão e rádio pública (TVE e RNE) foram alvo, na terça-feira à noite, em Torre Pacheco, de "atitudes intimidatórias e machistas" que "atentam diretamente contra a liberdade de informação e a segurança dos jornalistas".
A federação pediu às autoridades para adotarem os meios necessários para garantir a proteção dos jornalistas no terreno, especialmente dos elementos das equipas de televisão, mais visíveis e expostas.
Dirigindo-se aos organizadores de protestos, a FAPE sublinhou que é preciso respeitar o trabalho dos jornalistas, independentemente do meio a que pertençam.
A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras Espanha condenou também o ocorrido em Torre Pacheco e sublinhou que jornalistas mulheres "foram insultadas, assediadas e perseguidas" por estarem a trabalhar.
"Não se intimida o jornalismo: basta de apontar o dedo a quem denuncia o ódio a quem é diferente", disse, por sua vez, a secção de jornalistas do sindicato UGT, que considerou haver "uma estratégia" da extrema-direita para amedrontar quem noticia casos de racismos e xenofobia.
O presidente da rádio e televisão pública espanhola (RTVE), Jose Pablo López, escreveu na rede social X, a propósito da perseguição às jornalistas da empresa em Torre Pacheco, que "o engano e a violência são as principais armas do fascismo".
"Os fascistas fazem coisas de fascistas, apesar de por vezes parecer que fazem outras coisas. Os extremistas agrediram as nossas companheiras da RVE e RNE em Torre Pacheco", acrescentou.
Cerca de uma centena de elementos da extrema-direita perseguiram e insultaram jornalistas durante uma manifestação na terça-feira à noite junto da câmara de Torre Pacheco, na região de Múrcia, no sul de Espanha.
Os insultos, segundo a agência de notícias EFE, foram particularmente intensos contra Esther Yáñez, jornalista da estação TVE, que teve de ser escoltada pela Guarda Civil.
Os membros das forças de segurança presentes tiveram de pedir a Yáñez que parasse de fazer reportagens para não incitar a multidão a continuar o assédio, enquanto alguns jornalistas retiraram as esponjas dos microfones para que não ficasse claro qual o meio de comunicação social que representavam, por medo de represálias.
Torre Pacheco tem sido cenário, desde sábado, de concentrações e distúrbios durante a noite de grupos de extrema-direita que responderam a apelos na Internet para "uma caçada" a imigrantes.
Os distúrbios e os confrontos entre grupos de extrema-direita e residentes em Torre Pacheco, onde 30% da população de 40 mil pessoas é imigrante ou de origem estrangeira, surgiram depois de um homem, de 68 anos, da localidade ter sido agredido por jovens sem razão aparente, contou a própria vítima, na quinta-feira passada, a meios de comunicação social.
Segundo as forças de segurança espanholas, 14 pessoas foram detidas desde sábado, três delas por estarem relacionadas com a agressão e as restantes suspeitas de crimes de ódio, agressões e desordem pública.
Um dos detidos é o alegado líder de um grupo denominado "Deport them now" ("Deportem-nos já") e autor do apelo "à caçada" de imigrantes na rede social Telegram, disseram as autoridades espanholas.
As forças de segurança mantêm um dispositivo de mais de 100 elementos em Torre Pacheco, que tem tentado controlar os acessos à localidade a partir do final da tarde.
"Detetámos [na Internet] a organização de uma chamada 'caçada' [a imigrantes] para os dias 15, 16 e 17, o que permitiu antecipar um dispositivo policial de prevenção que conteve a situação", disse na segunda-feira a delegada do Governo central em Múrcia, Mariola Guevara.
O ministro da Administração Interna espanhol, Fernando Grande-Marlaska, disse no mesmo dia que por trás dos distúrbios estão "grupos organizados" que se têm deslocado de outros pontos para Torre Pacheco.